Edição do dia 01/06/2010
01/06/2010 22h40 - Atualizado em 01/06/2010 23h03
Uerj divulga estudo com resultado positivo sobre o sistema de cotas
Mas há discordâncias. O reitor da Uerj admite que o sistema acaba deixando de fora estudantes bem preparados.
A Universidade do Estado do Rio de Janeiro divulgou nesta terça um estudo sobre o seu sistema de cotas. Para a Uerj, que foi a primeira universidade do país a aderir à reserva de vagas, o resultado foi positivo, mas há discordâncias.
Na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 45% das vagas são destinadas para cotistas: 20% para negros, 20% para estudantes de escolas públicas e 5% para deficientes físicos, minorias étnicas e filhos de policiais, bombeiros e agentes penitenciários mortos em serviço. Para todos os candidatos cotistas da Uerj, a renda mensal de cada pessoa da família não pode ultrapassar de R$ 960.
O estudo divulgado hoje pela universidade foi elaborado com base em dados do vestibular de 2009 e mostra que, do total de 2.396 mil vagas para cotistas, eles só preencheram 1.384, pouco mais de 40% do total oferecido. As 1.012 vagas que restaram foram disponibilizadas para os demais candidatos.
Segundo a Uerj, as vagas para os cotistas não são preenchidas porque muitos candidatos não conseguem atingir a nota mínima no vestibular, que é 2. O estudo também mostra como fica a disputa no vestibular.
Para quem concorre pelas cotas, a relação é de praticamente um candidato para cada vaga. Para os não cotistas, a relação passa dos 11 candidatos por vaga. Para o sociólogo Demétrio Magnoli, esta é uma relação desigual.
“Os cotistas têm uma relação candidato por vaga muito mais favorável, três, quatro, dez vezes mais favorável, dependendo da carreira do que os não cotistas. Então, o sistema do mérito só existe entre os não cotistas. Entre os cotistas, praticamente foi eliminado o critério do mérito para entrar na universidade”.
O estudo aponta ainda que, em vários cursos, a nota máxima atingida por um candidato cotista é sempre inferior à nota mais alta do não cotista, como nos casos de medicina (cotistas 81 e não cotista 84,5), engenharia química (49,3 x 74,8), informática (50,5 x 78) e enfermagem. (53,3 x 60,5).
O reitor da Uerj admite que o sistema acaba deixando de fora estudantes bem preparados. “É desigual, é verdade. Mas ele visa reduzir a desigualdade. Eu espero que, em menos tempo que outros países, nós consigamos resolver e equacionar essa questão da desigualdade social tão gritante que tem nesse país e acabar com o sistema de cotas”, disse o reitor da Uerj, Ricardo Vieiralves de Castro.
O estudo também avaliou o desempenho depois da aprovação no vestibular. Segundo a Uerj, o índice de abandono entre os cotistas é menor que entre os não cotistas. O índice de reprovação entre os dois grupos é maior entre os não cotistas em todo o período.
A universidade também avaliou o desempenho dos cotistas por disciplina. A maior dificuldade desses estudantes é em matérias que têm como base a matemática e principalmente o português.
“É uma língua muito difícil, em geral. E os brasileiros ainda a maltratam demasiadamente. Mas esse ainda é um problema porque os setores populares falam um português no cotidiano muito errado. E a matemática é um problema grave na escola pública”, acrescentou o reitor.
Para o sociólogo, o estudo não muda a sua opinião sobre o sistema de cotas. “Nós não estamos falando aí de inclusão social. Nós não estamos falando de incluir pessoas pobres na universidade. Isso não acontece com o sistema de cotas raciais. Isso aconteceria se nós tivéssemos uma revolução no ensino fundamental e médio que permitisse a estudantes mais pobres de escolas públicas de periferias a disputar lugares em igualdade de condições”.
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