Terra Magazine
23/11/2010 - 14h35
Especialista chama de censura tentativa de vetar livrosAna Cláudia Barros
Criadora da Fundação Nacional do Livro Infantil e
Laura considera hipócrita a discussão levantada sobre o livro Os Cem
- As crianças, os jovens hoje em dia têm acesso a tudo. De que adianta isso (decisão da
O tom do discurso fica ainda mais inflamado ao comentar as acusações de racismo em Caçadas de Pedrinho. Estudiosa de Monteiro Lobato, autor do livro, Laura diz que a alegação é "sem sentido e totalmente absurda".
- Estão se esquecendo da época em que Lobato viveu. Há quase cem anos, a situação era completamente diferente. Ele ainda pegou a escravidão, era neto de visconde, vivia numa fazenda. Lobato escreveu um livro fantástico, chamado O presidente negro, em que pega a questão da eugenia - neste ponto, o livro fala das teorias que a gente não concorda hoje, mas existiam na época e eram consideradas uma maravilha científica -, mas diz que em 2028, se não me engano, seria eleito um presidente negro nos Estados Unidos. Uma coisa profética e que demonstra que ele não tinha nada contra negro.
A ex-diretora da Fundação do Livro Infantil e
- Tia Anastácia é uma das personagens mais importantes de toda a obra do Lobato. Está presente em todos os livros, com papéis muito relevantes. Ela é a criadora dos dois personagens que talvez sejam os mais importantes de Lobato: o Visconde de Sabugosa e a Emília. Ambos foram feitos pelas mãos de tia Anastácia. Lobato criou um personagem que é capaz de dar vida. É inacreditável que se pense isso (racismo).
Segundo Laura, dizer que os professores não estão preparados para contextualizar a obra em sala de aula - um dos argumentos apresentados pelo autor da ação que resultou na recomendação do veto, cujo parecer do CNE não foi homologado pelo ministro da Educação, Fernando Haddad - é uma forma de depreciar os profissionais, "embora, todo mundo que discute educação saiba que a primeira coisa a ser feita é melhorar a formação dos Professores". Na opinião dela, a posição do CNE não traduz o pensamento do Ministério da Educação e Cultura (MEC).
- Acho que se for consultar a maioria das pessoas que estão no MEC, elas vão considerar isso tudo ridículo. É um grupo qualquer que se constitui numa comissão e que acha, então, que, por isso, precisa dizer algo, mas acaba falando besteira.
Sempre polêmico
Criador da literatura infantil no Brasil - "Antes dele, as pessoas contavam histórias parecidíssimas com os contos de fada. Faziam plágios", destaca Laura - e precursor no uso coloquial da língua nos livros voltados para crianças, Monteiro Lobato sempre foi um nome polêmico, conforme a criadora da FNLIJ.
- Ele modernizou na época a literatura infantil e era não querido por muitas escolas, que mandavam queimar os livros dele ou recomendava não comprá-los. Primeiro, porque Lobato não acreditava em Deus, era ateu, e as escolas católicas não permitiam as obras dele. Havia professores que diziam Emília (do Sítio do Pica-pau Amarelo) botava a língua, mandava Tia anastácia às favas, então, isso deseducava as crianças. Lobato sempre foi um autor altamente contestado.
Mas Laura, que durante anos atuou como crítica de literatura infanto-juvenil, lembra também que o autor era adorado pelas crianças.
- Ele recebia mais de 400 cartas por mês. Meninos e meninos perguntando onde ficava o Sítio do Pica-pau amarelo, querendo brincar com Pedrinho, Narizinho, Emília.Ele até criou um personagem, a Cléo, que era uma menina que escrevia para ele. Lobato a colocou como personagem de uma das histórias.
Para ela, Monteiro Lobado, a quem considera o maior autor brasileiro, tem lugar cativo entre o público infantil.
- As crianças de 7, 8 anos devem começar ouvindo Lobato, lido por um adulto. Até para traduzir as expressões, porque está usando palavras do tempo dele. Daí você percebe que essa contextualização tem que ser feita já a partir do vocabulário.
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