por EXTRA
No início da próxima semana, o advogado Humberto Adami vai entrar com um pedido de habeas corpus para a farmacêutica Mirian França de Mello, de 31 anos, apontada pela Polícia Civil do Ceará como suspeita pela morte da italiana Gaia Molinari, em Jericoacoara, no fim de dezembro. Segundo o responsável pela defesa da carioca, a prisão dela é inconstitucional.
— A Mirian não está indiciada, não precisa estar presa para responder por isso. Ela tem emprego fixo, faz doutorado na UFRJ, tem endereço fixo. Não há motivo para deixá-la presa. Não houve flagrante. Vamos submeter isso ao poder judiciário — explicou Adami.
Mirian está detida na Polinter de Fortaleza desde o último dia 29 de dezembro. Segundo a delegada responsável pela investigação do caso, Patrícia Bezerra, a farmacêutica entrou em contradição ao prestar depoimentos. No entanto, até o momento, a polícia não detalhou quais as contradições que levaram ao pedido de prisão. Para o advogado, isso não é motivo para prender temporariamente a carioca.
— As pessoas ficam nervosas diante de autoridades policiais. É algo difícil para quem não está acostumado com o ambiente de uma delegacia. Às vezes a pessoa pode mesmo se contradizer, mas isso não justifica a prisão. Pelo que eu soube, a Mirian está contribuindo muito com as investigações — argumenta o advogado.
Adami explica que ainda não teve acesso aos documentos do processo, mas que está em contato com uma pessoa em Fortaleza para acompanhar o caso de perto.
Mirian e Gaia não eram amigas
Neste sábado, Mirian recebeu a visita de um defensor público na Polinter. Segundo a mãe de Mirian, Valdicéia França, desde que a prisão foi efetuada, ela não consegue contato com a filha. A aposentada de 63 anos conta que se enganou ao dizer ao EXTRA que a filha conhecia Gaia desde o Rio de Janeiro. Agora, Valdicéia esclarece que a filha não conhecia a italiana antes de viajar e que as duas só se conheceram no Ceará. Nas redes sociais, não há nenhum indício de amizade entre as duas. A mãe de Mirian explica que a filha fez uma ligação para falar que uma “colega” havia morrido e que, nervosa ao saber da notícia da prisão, ela pode ter expressado a palavra amiga.
— A Mirian ligou chorando e disse: “Mãezinha, mataram a colega”. A minha filha tem 31 anos e não mora comigo já há bastante tempo, eu não sei de todos os amigos dela. No momento de desespero, ao saber da prisão, posso ter falado errado — diz a mãe.
Desde que Mirian foi presa, a reportagem do EXTRA procura a delegada Patrícia Bezerra para esclarecer as contradições que levaram à prisão da carioca, mas não é atendida. A polícia informou apenas, em entrevista coletiva na tarde de segunda-feira, que ela havia dado informações desconexas sobre locais e horários. Desde então, nenhuma informação a mais foi passada pela Polícia Civil sobre o caso.
Patrícia Bezerra disse que a polícia trabalha com duas hipóteses para o crime, mas só revelou um deles: motivação passional. De acordo com a delegada, não é possível divulgar a outra hipótese para não atrapalhar as investigações. A polícia informou ainda que havia outro suspeito de envolvimento no crime, que não foi revelado.
De acordo com amigos e parentes de Mirian, a delegada teria dito que a prisão da farmacêutica se deu por conta de contradições entre os depoimentos que a jovem deu à polícia e as declarações da mãe dela. No entanto, Mirian foi detida antes de qualquer publicação de entrevistas com a mãe dela. O EXTRA questionou a Polícia Civil do Ceará sobre o fato, mas até o momento de publicação desta reportagem não obteve resposta oficial.
O EXTRA procurou ainda o Tribunal de Justiça do Ceará para ter detalhes sobre o mandado de prisão expedido contra Mirian, pela 1ª Vara do Interior do TJ-CE, mas também não teve resposta.
Gaia foi encontrada morta no dia 26 de dezembro, com sinais de estrangulamento pelo corpo. Um exame de necrópsia confirmou que a jovem de 29 anos foi morta por asfixia. O corpo da italiana já foi levado de volta para o seu país de origem.
Nas redes, amigos e parentes falam em racismo
A prisão de Mirian foi classificada por amigos e parentes da farmacêutica como um ato racista da Polícia Civil do Ceará. A família reclama que não consegue informações sobre a jovem e que não tem autorização da polícia para entrar em contato com ela por telefone. De acordo com parentes, a mãe de Mirian não teria condições financeiras de ir até Fortaleza ver a filha. Além disso, a polícia não permite visitas a pessoas detidas na Polinter.
Revoltados com o que classificam como uma “prisão duvidosa e preconceituosa”, amigos de Mirian criaram na internet o movimento “Liberdade para Mirian França”. Com uma página que já conta com mais de 1,8 mil curtidas no Facebook, os amigos descrevem que a “policia prendeu Mirian Franca temporariamente sem nenhum indício claro do envolvimento de Mirian com o crime. Alegando supostas contradições que não são reveladas sob pretexto de segredo de justiça”. Segundo o grupo, a jovem “está presa por ser negra e pobre. E isto a coloca em uma posição vulnerável ao abuso de poder. Pois a dificuldade de resposta legal permanece”. Valdicéia, a mãe de Mirian, comentou que, na opinião dela, a filha só foi presa por ser negra.
— Como uma mulher de 1,69m pode fazer isso? Minha filha foi presa porque é neguinha — afirmou a aposentada.
Segundo o advogado, pessoas com perfis falsos invadiram a página criada em apoio à farmacêutica para fazer comentários racistas. Adami, no entanto, esclarece que não está acusando autoridades do Ceará de racismo.
— Não significando nenhuma acusação às autoridades locais, mas se vê que o negro e o pobre tem um tratamento diferenciado no nosso sistema prisional. Todos nós só queremos resolver o caso, descobrir quem matou a Gaia, mas isso não pode permitir que os direitos das pessoas sejam esquecidos — comenta o advogado.
Mãe ia viajar junto com a filha para o Nordeste
Ainda de acordo com o responsável pela defesa de Mirian, a mãe dela, Valdicéia, planejava viajar junto com a filha para passar o fim de ano no Ceará. No entanto, a aposentada mudou de ideia e decidiu ficar pelo Rio de Janeiro. Adami não sabe o motivo da desistência.
Segundo amigos, Mirian é pessoa esforçada e calma
Formada em Farmácia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Mirian cursa, no momento, doutorado na área. De acordo com amigos, a carioca não tem o perfil de alguém que seria capaz de cometer um crime desses. Nas redes sociais, pessoas próximas à farmacêuticas se dizem em choque com as notícias e defendem que houve um equívoco na prisão dela. Os amigos comentam que Mirian é uma mulher esforçada, que sempre batalhou para conseguir as coisas, principalmente as conquistas referentes à especialização profissional conquistada.
Praticante de yoga, Mirian é, segundo pessoas próximas, uma mulher calma e engajada em questões sociais. A farmacêutica costuma postar, em sua conta no Facebook, textos e imagens sobre meditação e fotos das viagens que faz. A carioca, de acordo com amigos, é apaixonada por viajar e está acostumada a ficar sozinha nas cidades que visita.
Nenhum comentário:
Postar um comentário