Correio de Uberlândia
Devota de São Benedito é presa por racismo
Mulher que diz ser devota do santo protetor dos negros teria ofendido vigilante se referindo à cor da pele
Gislene Tiago
Uma católica que disse ser devota de São Benedito, o santo negro padroeiro dos escravos, foi presa na madrugada de hoje (1º) suspeita de racismo. A dona de casa Laila Maria Lourenço, 57 anos, teria xingado o vigilante Nelio Estevão Venâncio, 33 anos. Entre os palavrões se referindo à cor da pele Laila Lourenço teria chamado o vigilante de “negro beiçudo” e “macaco safado”.
O caso ocorreu na noite de ontem (31) na plataforma de embarque e desembarque de passageiros do Terminal Planalto, na zona oeste de Uberlândia. “Eu nunca imaginei que passaria por uma situação dessas”, disse o Nelio Venâncio que é vigilante profissional há dois anos e há cerca de um ano faz a segurança no local.
De acordo com ele, entre o aglomerado de pessoas diariamente é frequente ocorrer descontentamento de passageiros que se exaltam e até gritam alguma coisa, mas ofensas diretas como as proferidas pela mulher nunca havia ocorrido. “Nos tempos de hoje, depois de tanta luta que os meus ancestrais tiveram, e ainda mais no fim do expediente depois de um dia de trabalho concluído em eu estava querendo voltar para minha família”, disse o vigilante que trabalha pela união de negros e brancos dentro de um grupo de capoeira há 20 anos.
A dona de casa nega as acusações. Ela disse à reportagem do CORREIO de Uberlândia, ser católica fervorosa e devota de São Benedito. Na versão da mulher, em nenhum momento ela se exaltou dentro do terminal e acusa o vigilante de tê-la xingado de “velha”. “Estou aqui presa injustamente”, afirmou.
Mas segundo o auxiliar de limpezas, Luiz
Da sala onde encerrava o expediente, o vigilante teria ouvido os gritos da mulher e saído para tentar entender o que estava acontecendo. O auxiliar de limpezas e o bilheteiro disseram que antes mesmo que o vigilante se aproximasse a mulher teria começado a xingá-lo.
Depois de ouvir os envolvidos, a mulher foi autuada por injúria qualificada pelo preconceito. De acordo com a delegada de plantão Paula Fernanda de Oliveira, o crime está entre os três contra a honra previstos no Código Penal Brasileiro.
Caso de racismo é o segundo registrado neste mês
A discriminação racial contra o vigilante Nelio Estevão Venâncio, 33 anos, registrada na noite de ontem (31) foi o segundo caso ocorrido no mês de junho. No dia 21, dois policiais militares afirmaram terem sido vítimas de discriminação racial, durante as comemorações da vitória do Brasil sobre a Costa do Marfim.
As queixas foram apresentadas contra Camila Cândida de Moura, 23 anos, e Carlos Augusto Francisco Rodrigues, 37 anos. Entre os palavrões os militares Heber Paulo Teodoro da Silva, 34 anos, e Evanildo Alves Silva, 32, afirmam terem sido xingados de “macacos pretos”, “monte de bosta” e “pretos vagabundos”.
Para o diretor da Diretoria de Assuntos Afro-Racial (Diafro), órgão ligado à Secretaria de Cultura da Prefeitura de Uberlândia, que luta pela promoção da igualdade social, Carlos Silva de Souza, é inadmissível a discriminação racial em pleno século XXI. “A gente não pode se calar diante de fatos como esses”, disse. Ele afirmou que o órgão está a disposição para auxiliar aos que se sentem ofendidos e discriminados. “Infelizmente no Brasil ainda existe o preconceito e isso é velado”, afirmou.
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