Zero Hora - Blog do Caderno Meu Filho da Zero Hora – David Coimbra
Além da cor da pele
Depois de alguns dias de África, comecei a me sentir meio estranho. Algo me incomodava no lugar. Ou não exatamente no lugar. Tratava-se de algo… nas pessoas. Não havia lógica, os africanos são gentis, são educados, são boa gente. O que podia ser? Levei tempo para descobrir.
Descobri.
Era o racismo.
O racismo está impregnado na alma dos africanos. Não me refiro ao racismo óbvio, motivado pela cor da pele, brancos versus negros. Para este racismo estava preparado. O que me chocou foi como o fator racial é importante para os africanos, como está presente no dia a dia deles. Um africano sempre sabe qual é a tribo do outro africano. É uma informação basilar. A partir dela, ele constrói a imagem do outro.
Mesmo Mandela, um santo acima de quaisquer questionamentos, ninguém esquece que ele é um xhôsa. Já seu sucessor, Thabo Mbeki, não era bem aceito pelos zulus exatamente por ser xhôsa. O atual presidente, Jacob Zuma, é um zulu. Os zulus ficam satisfeitos, mesmo que ele não faça uma grande administração. Os xhôsas nem tanto.
Os outros africanos que chegam à África do Sul também são identificados por suas tribos. Você não é só de Ruanda ou do Burundi. É um tútsi ou um hutu, e ser uma coisa ou outra faz toda a diferença.
Em pouco tempo, eu mesmo, ao conhecer alguém, perguntava qual era a sua tribo. Para quê? Que importância tinha aquilo para mim? Que importância tem isso para qualquer pessoa? O horror: eu também via distinções raciais.
Os africanos acreditam que isso é fundamental. Não é, claro que não é, e esse desvio ainda será a causa de muita dor no continente africano. Porém…
Existe um porém. E é fundamental.
Porém, na África do Sul veem-se negros atrás de volantes de carrões, veem-se negros em restaurantes internacionais, há uma classe média-alta de negros que moram em bairros elegantes, que dirigem empresas, que são astros de TV.
E isso também me intrigou. Como é que os negros estão ascendendo tão vertiginosamente naquele país em que o racismo era oficial há 15 anos e que ainda hoje pulsa, e pulsa mesmo entre eles, negros? E como é que aqui, no país mais miscigenado do mundo, os negros têm tanta dificuldade em escalar os degraus sociais?
A resposta está no Estado.
No Brasil, as fronteiras raciais são difusas. Mas, no Brasil, quando o Estado age para diminuir as diferenças não o faz na base. Não o faz na formação. Na África do Sul, a educação básica se tornou prioridade. A partir da educação básica, uma nova classe negra se formou.
Em meros 15 anos.
É a partir daí que se resolvem os problemas, mesmo os mais viscerais, como o racismo. A África do Sul, onde a raça ainda significa algo para as pessoas, onde a desigualdade está na alma do povo, a África do Sul planeja o futuro. Um futuro de um povo só. E o Brasil, onde todos somos brasileiros, até quando a igualdade será protagonizada pelo povo, só?
Um comentário:
Só gente como o senhor ganha estimulando o racismo no país, não é mesmo? Assim não fosse, jamais teriam essas "boquinhas" boas na política, na OAB etc suportadas por pessoas que se beneficiam do mesmo modo.
Nada diferente daqueles "pastores" de igrejas que abusam da boa fé dos seus seguidores.
Lamento muito que o senhor desperdice o seu tempo e o de tantos outros com atitudes que, certamente, só visam projetá-lo.
Quem sabe um dia o senhor poderá sentir orgulho de tentar dividir o país em cores, na contramão do que evolui a sociedade?
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