Segurança vítima de preconceito em SP diz que não queria prejudicar engenheiro
Plantão | Publicada em 07/10/2009 às 15h54m
SÃO PAULO - O engenheiro de 59 anos que foi preso e acusado de racismo no bairro do Campo Belo, em São Paulo , falou palavrões para as crianças na porta da escola infantil Querubim, cuspiu no chão e se recusou a falar com o segurança Délcio Joaquim Gonçalves por ele ser negro. A cena foi vista pela auxiliar administrativa Luciana Bedoni, que trabalha numa imobiliária vizinha, uma das testemunhas de que o engenheiro Alexandre Semenoff praticou ato de racismo. O engenheiro foi preso em flagrante nesta terça-feira.
- Eu vi que ele passou a mão no braço na hora que o Délcio chamou e falou "Eu não vou falar com ninguém. Olha a sua cor" - disse Luciana, que afirmou ter ficado com pena do segurança pelo ocorrido.
O segurança havia tentado conversar com o engenheiro para acalmá-lo, já que Semenoff mora em uma casa vizinha à escola e estava irritado com o barulho das crianças, que estavam em recreio. As reclamações do engenheiro por causa do barulho são constantes.
Vítima de preconceito, Délcio, 53 anos, afirma que não queria prejudicar o engenheiro e poderia não ter chamado a polícia se Semenoff tivesse conversado com ele. Ainda sem conseguir entender direito a atitude do engenheiro, o segurança diz que não provocou o vizinho, mas ficou chateado com o ocorrido:
" Me abalou porque estou no meu serviço, no meu ganha-pão e vem um cara descarregar uma coisa que eu não tenho nada a ver. Eu estou trabalhando. Se eu estivesse hostilizando ele, provocando ele "
- Me abalou porque estou no meu serviço, no meu ganha-pão e vem um cara descarregar uma coisa que eu não tenho nada a ver. Eu estou trabalhando. Se eu estivesse hostilizando ele, provocando ele... Quem ficou prejudicado foi ele, quem ficou magoado fui eu. Ele é meio descompensado. Na hora que ele caiu em si, se viesse conversar comigo, eu até poderia entender e não querer prejudicá-lo. No mundo que estamos hoje, todo mundo está estressado. Não é a minha cor que vai mudar isso - disse Délcio.
O segurança afirma que 'errar é humano'.
- Por causa da minha cor agora ele vai ser obrigado a mudar as atitudes. Minha intenção nunca foi de querer prejudicar uma pessoa, seja branca, amarela...
Na manhã desta quarta-feira, Délcio recebeu, na rua, o apoio de outras pessoas por ter denunciado o racismo, como um motorista e um entregador, que o cumprimentaram.
O dono da escola, Renato Simões Alves, disse que todos ficaram indignados com o crime.
Na tarde de terça, irritado, o engenheiro teria falado palavrões diante da escola e cuspido no chão. Délcio teria repreendido o engenheiro pelos palavrões. "Que isso, precisa isso?", teria dito.
- Ele disse que não falava comigo e foi para o meio da rua, começou a fazer gestos de preconceito. Ele disse que eu não valia nada, que minha cor não valia nada e fez gestos. Daí eu disse para ele vir onde eu estava e ficou aquele impasse - contou a vítima.
O dono da escola, Renato Simões Alves, afirmou que já tomou providências para diminuir o ruído das crianças e que o próprio acusado de racismo admitiu na delegacia que o barulho estava menor. Além da escola, o engenheiro também costuma reclamar do barulho de um bar próximo.
- Já houve outras reclamações. Fizemos reformas na escola para minimizar o barulho. Ele mesmo disse que já tinha diminuído o barulho - afirmou Alves.
Alexandre Semenoff foi transferido nesta quarta-feira do 27º DP (Campo Belo) para o 40º DP, onde há carceragem especial para pessoas com nível superior. Na casa dele, em Campo Belo, ninguém atendeu a campanhia.
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