quinta-feira, 11 de junho de 2009

Lei da História da África ganha Plano Nacional de Implementação - A EXPERIÊNCIA DO IARA

O site da Presidência da República, pela Seppir - Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, anunciou em 09.06.2009, a finalização do Plano Nacional de Implementação da Lei 10.639, a lei de História da África e cultura afro-brasileira. A notícia está abaixo na íntegra, tendo sido saudada no blog do Luiz Fernando Martins da Silva, advogado com o qual já tivemos trabalhos em conjunto, nesta área da questão racial. Do primeiro exame, questiona-se, logo, a correspondência da repercussão no site do MEC, e na boca de seu ministro, Fernando Haddad. É do MEC que devem sair recursos para a implementação da lei, pois ele é o ministério nacional e federal, destinado legalmente a cumprir, e fazer cumprir, a LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação, a lei 9.394, que se pode acessar em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/l9394.htm . Se é verdade que a missão da Seppir é facilitadora, coordenadora, etc, junto aos demais ministérios e órgãos da administração pública federal, como sustentam todos os pombos da avenida Atlântica, daqui de Copacabana, Rio de Janeiro, para justificar o pequeno orçamento alocado na Seppir, é do caixa do MEC, e na responsabilidade de seu seu primeiro titular, que devem ser apontadas as verbas para patrocinar as medidas elencadas, no plano, de forma nacional. Um dos aspectos mais interessantes para se lembrar na LDB é o paragráfo 4o. do artigo 5o. que diz o seguinte:"§ 4º Comprovada a negligência da autoridade competente para garantir o oferecimento do ensino obrigatório, poderá ela ser imputada por crime de responsabilidade." Embora já tenha procurado aqui e acolá, não tivemos notícias dessa "imputação de crime de responsabilidade" à muitas autoridades competentes para garantir o ensino obrigatório da lei de história da África e cultura afro-brasileira. O dispositivo devia virar moda pendurada no chaveiro de cada organização do movimento social, em especial do movimento negro, para ir conversar com cada prefeito, e governador de estado do país, em conjunto com o promotor público de cada comarca desses 5.564 municípios brasileiros. Diga-se de passagem, que uma curiosidade pode ser anotada com a vinda da lei 11.645, que ratificou a 10.639, retificando-a para incluir a cultura indígena. Ambas são meras alterações da lei 9.394. Assim, o quando a Presidência da República anuncia o plano de implementação da lei à qual delas se refere, a 9.394, à alteração 10.639, ou a alteração 11.645? Se a 10.639 foi revogada pela 11.645, o plano deveria ser desta implementação, e não da alteração anterior. Por outro lado, como ambas - 10.639 e 11.645 - são meras alterações da 9.394, o plano nacional deveria ser referir a ela então. O IARA - Instituto de Advocacia Racial e Ambiental angariou sólida reputação nacional ao denunciar em cada município do país a ausência de implementação da lei 10.639, em conjunto com outras entidades e personalidades do movimento negro e aliados. O mandato do então Vereador Édson Santos (PT-RJ), também subscreveu a denúncia, juntamente com Frei Davi, Abdias Nascimento, dentre outros. A petição de representação ao Procurador Geral da República encontra-se no site da PFDC -, da Procuradoria da República. Mais de 200 inquéritos do Ministério Público Federal e dos Estados foram copiados e escaneados, e encontram-se no site do IARA ( http://www.iara.org.br/), no Observatório de Advocacia Racial. Dispõe das respostas dadas pelas escolas aos promotores públicos, constituindo rico material para pesquisa e informação. Em uma delas, a diretora da escola informa não aplicar a lei porque "não existem alunos negros na escolas". O IARA acaba de adquirir o sistema PROJURID, um dos mais avançados gerenciadores jurídicos do país, utilizados em grandes escritórios de advocacia, e pretende disponibilizar de forma on line, o andamento de inquéritos civis públicos e processos relativos ao tema, para acompanhamento pela internet. Uma forma de provocação virtual ao MP, remota, pode ser cogitada. Está em andamento ação judicial de medida cautelar para a realização de perícia técnica nos currículos escolares, contra as 10 maiores escolas privadas, os governos municipal e estadual do Rio de janeiro, cujo processo já soma mais de 1200 páginas, com cúrriculos escolares, alguns feitos às pressas, juntados pelas escolas privadas. O Governo estadual recorreu da liminar, sem esclarecimento até o momento, ao contrário de pronunciamentos do governador Sergio Cabral e prefeito Eduardo Paes. Foram realizados, ainda, 30 pedidos de providência ao CNMP- Conselho Nacional de Ministério Público, pedindo providências, por falta das mesmas, contra 18 Procuradores Gerais de Justiça, os chefes do MP nos estados, e dois promotores públicos no estado do Rio de Janeiro, que arquivaram indevidamente inquéritos civis públicos para exigência do cumprimento da lei 10.639, entendendo a lei como "inconstitucional, ilegal, discriminatória e desnecessária". Um dos eixos no novel plano é o fortalecimento do marco legal. Tal experiência pode e deve ser multiplicada. ............ HUMBERTO ADAMI ............ www.adami.adv.br ............. www.iara.org.br ............. http://humbertoadami.blogspot.com/2009/06/lei-da-historia-da-africa-ganha-plano.html
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Lei da História da África ganha Plano Nacional de Implementação 08/06/2009 - 19:44 Está finalizado o Plano Nacional de Implementação da Lei nº 10.639, que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), e torna obrigatório o ensino de história e cultura da África e das populações negras brasileiras nas escolas de todo o país. Desenvolvido pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação (SECAD/ MEC), em parceria com a Subsecretaria de Políticas de Ação Afirmativa (SubAA/ SEPPIR), o Plano de Implementação incorpora as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Relações Etnicorracias e para o Ensino de História e Cultura Afrobrasileira e Africana nos sistemas de ensino brasileiro, compreendendo um público de 53 milhões de alunos e quase 3 milhões de professores. O Plano prevê e enfatiza as diferentes responsabilidades do poderes executivos, dos legislativos e dos conselhos de educação municipais, estaduais e federal no processo, e trabalha na perspectiva de três ações principais: formação dos professores, produção do material didático e sensibilização dos gestores da educação. O documento reafirma a importância da criação da Lei nº 10.639 em 2003, e relembra que durante a formulação da política educacional de implementação da lei, a SEPPIR e o MEC, em parceria, executaram uma série de ações afirmativas como o PROUNI, formação continuada de professores, publicação de material didático, realização de pesquisas, e a ampliação dos Núcleos de Estudos Afrobrasileiros (NEAB), entre outras. Estão propostos seis eixos estratégicos: fortalecimento do marco legal; política de formação inicial e continuada; política de materiais didáticos e paradidáticos; gestão democrática e mecanismos de participação social; avaliação e monitoramento; e condições institucionais. Os eixos temáticos visam institucionalizar a temática no Plano Nacional de Educação (PNE). Eles constituem as principais ações operacionais para a revisão da política curricular utilizando os mecanismos de controle social, como a aplicação de indicadores que permitam o aprimoramento das políticas de promoção da igualdade na educação. O documento determina ainda as responsabilidades dos governos federal, estaduais e municipais, bem como de seus órgãos e instituições de educação. Educação Quilombola – Um aspecto de destaque são as ações específicas para garantir o acesso à educação em comunidades remanescentes de quilombos considerando o processo histórico e cultural quilombola. Para a implementação de ações nessas áreas será necessário o levantamento das condições estruturais e pedagógicas das escolas localizadas nas comunidades. O documento também prevê a construção e ampliação da rede física escolar, a capacitação de gestores locais para atender as áreas quilombolas, a formação continuada de profissionais de educação que atuem nessas comunidades, e a disponibilizarão de materiais didáticos específicos. Comunicação Social da SEPPIR/ PR http://www.presidencia.gov.br/estrutura_presidencia/seppir/noticias/ultimas_noticias/plano_10639/

4 comentários:

agenor patrício disse...

moro na periferia do Rio e sou professor da rede pública estadual. já trabalho cultura afrobrasileira e história da África em sala de aula. criei algumas dinâmicas que facilitam esse trabalho. a meu ver, a grande questão para se trabalhar a cultura afrobrasileira e história da África em sala de aula é o material didático e a metodologia. existem dois tipos de escola públicas no Rio hoje: 1º - a faetec, os colégios de aplicação, o colégio militar e o pedro II. em 2º temos o que chamo de a grande educação popular do Rio, que são os vários colégios de ensino fundamental e médio espalhados pela periferia e pelas comunidades menos assistidas. nessas localidades, com raras exceções, são quase impossível implementar uma aula expositiva mais de 20 minutos. há problemas graves de comportamento. o que sugiro é que sejam criadas dinâmicas para trabalhar esses temas nas escolas do 2º grupo citadas acima. é possível trabalhar cultura afrobrasileira a partir do hip hop e apartir de clips e filmes. eu já tenho algumas dinâmicas criadas nas quais eu utilizo letras de RAP, clips de Hip Hop e alguns episódios de cidades dos homens. são episódios de 25 minutos cada, têm enredo e não é enfadonho. gostaria de mostrar esse material que eu utilizo em sala de aula.

Agenor Patricio disse...

Este texto trata-se de um complemento ao 1º comentário nesse blog. primeiramente, gostaria de frisar que no primeiro comentário há erros de concordância, uma vez que não houve tempo hábil para revisão. no 1º comentário eu enfatizei a impotância de uma nova metodologa para a implementação do ensino de história da África e cultura afrobrasileira na grande eduação popular do rio de janeiro. em relação à essa questão, gostaria de destacar que a sugestão de se criar dinâmicas para facilitar a abordagem desses temas em sala aula, não iria anular a criação de livros didáticos específicos em relação à história da África e cultura afrobrasileira. as dinâmicas iriam somente subsidiar a utilização desses livros em sala de aula. como sou pósgraduado em História da África e Cultura Afrobrasileira, destaco que a abordagem da cultura afrobrasileira no processo ensino aprendizagem deve priorizar a resistência da comunidade afrodescendente em relação à ideologia dominante da época (e atual) e a exclusão da comunidade afrobrasileira na construção do processo de cidadania no Brasil. sendo assim, essa abordagem em sala de aula não deve deixar de destacar os vários Quilombos existentes no Brasil e suas finalidades; a Lei de Terras de 1850; a verdadeira finalidade do processo de imigração do final do séc. XIX e início do séc. XX - essa finalidade pode ser comprovada no projeto de silvio romero; a diferença entre escravidão urbana e rural; as mulheres como o primeiro grupo que conseguiu se livrar da escravidão; a qualificação profissional dos afrodescendentes cativos e livres (pode-se observar essa questão no filme "quanto vale ou é por quilo?"); a Revolta do Malês; a religião afrodescendente; a Frente Negra em São Paulo; os vários personagens que participaram da resistência afrodescendente como Luis Gama, André Rebouças, Padre José Maurício, Zumbi dos Palmares, Luisa Mahin, Léa Gonzales, Manoel Congo, Abdias do Nascimento, Antonieta de Barros (1ª deputada estadual negra); os Lanceiros Negros da Guerra dos Farrapos; Preto Cosme, entre outros.

Agenor Patrício disse...

esclarecimento em relação ao meu
1º e 2º comentários nesse blog. recebi um comentário relatando que a minha proposta é confusa. vou tentar explicar: quando eu falo que existem dois tipos de educação pública no Rio e então falo da faetec, colégio de aplicação (uerj, ufrj) e pedro II e falo dos colégio do município e do estado espalhados pela periferia e pelas comunidades menos assistidas (favelas), na verdade eu estou dizendo que o perfil do aluno do pedro II e dos colégios de aplicação é bem diferente do perfil dos alunos dos colégios do município e do estado existentes na periferia. por exemplo, eu moro em Realengo, na zona oeste, a maioria dos colégios do ensino fundamntal daqui tem 55 alunos em uma sala de aula pequena. isso é antipedagógico. são várias turmas com 50 e 55 em sala de aula. vou repetir, são 55 adolescentes de 12 e 13 em sala de aula (6ª ou 7ª série). quem é professor e já lecionou em colégios da periferia entende melhor o que estou dizendo. o grau de interesse pela educação desses alunos é muito pequeno. sendo assim, qual a metodologia que o professor irá utilizar para ministrar cultura afrobrasileira para 55 alunos em sala de aula? ele vai utilizar a metodologia de aula expositiva? ele vai utilizar a metodologia de leitura de textos? esses tipos de metodologias vão despertar o interesse dos alunos ou pode tornar a aula enfadonha? a metodologia que se utiliza para o colégio pedro II, faetec e colégio de aplicação é adequada para as escolas existentes na favela da rocinha, na favela do jacarezinho, na favela da maré? quando eu digo que existem dois tipos de escolas públicas no Rio é que o aluno do colégio pedro II tem um grau de interesse pela educação maior do que aluno das escolas situadas em favelas, infelizmente. na faetec e no colégio pedro II existem 55 alunos em sala de aula? lamentavelmente essa é a realidade da grande educação popular no rio de janeiro. nos colégios da periferia em que existem 55 alunos em sala de aula, o professor não consegue dar uma aula expositiva mais do que 20 minutos. por isso a minha sugestão de se criar dinâmicas para subsidiar os livros didáticos específicos sobre história da África e cultura afrobrasileira. por isso a minha idéia de se trabalhar com músicas de RAP, clips Hip Hop, filmes etc. não para substituir os livros didáticos específios em relação aos temas da lei 10639, mas para subsidiá-los. Paulo Freire teve uma experiência de educação em Guiné Bissau. é preciso utilizar uma métodolo de ensino que aborde o cotidiano do aluno. na vila kennedy e em realengo, na zona oeste, fizemos uma palestra sobre cultura afrobrasileira e utilizamos para atrair os alunos alguns episódios de cidade dos homens (são episódios de 25 minutos cada gravados na rocinha e no dona marta, os protagonistas são afrosdescendentes) e a música dos racionais MC's (negro drama). colocamos 150 alunos no auditório. atingiu a capacidade máxima... espero que todos tenham entendido as minhas propostas. um abraço.

HUMBERTO ADAMI disse...

Agenor, há resposta para voce de Carlos Nobre em http://br.groups.yahoo.com/group/discriminacaoracial/message/51904