quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Presença negra dobra na Unesp em 10 anos

Educação
 
› Boa notícia no Dia da Consciência
São José do Rio Preto, 20 de Novembro, 2014 - 1:50
Presença negra dobra na Unesp em 10 anos

Marco Antonio dos Santos

Hamilton Pavam
Miayk é o primeiro da família a fazer faculdade; Allan entrou sem cota na Unesp de Rio Preto

A quantidade de alunos negros quase dobrou na Unesp Rio Preto em dez anos, proporcionalmente à presença de brancos na universidade. Passou de 17% em 2004, para 32% em 2014. Em 2004, dos 318 matriculados no campus de Rio Preto, 55 eram negros. Dez anos depois, dos 343 matriculados, subiram para 110 pessoas que se autodeclaram pretos e pardos. Os cursos com maior aumento de presença negra são de matemática (licenciatura, diurno e noturno) e física, formações mais ligadas ao magistério. 

Em 2014, no curso de física, dos 30 matriculados, 19 são negros, ou seja, 63% das cadeiras são ocupadas por pretos e pardos. Há dez anos, dos 31 matriculados apenas 7 eram negros, ou seja, apenas 23%. O aumento da presença negra é surpreendente também no curso de engenharia de alimentos. Em 2004, dos 26 vagas apenas uma era ocupada por negros. Dez anos depois, são seis negros. Em parte, a diferença dos números pode ser explicada pelas cotas raciais implantadas no vestibular de 2014. A procura dos negros pela Vunesp cresceu 12,2% na comparação com 2013, ano em que não havia incentivo a inclusão de pretos e pardos. 

Um dos beneficiados pelas cotas da Unesp no vestibular de 2014 foi o estudante do curso de Biologia Mayk Ricardo dos Santos, 20 anos. Negro e pobre é o primeiro na família a entrar em uma universidade. Ele se diz favorável ao sistema, como forma de compensação histórica, pelo sofrimento de seus antepassados que foram escravos. "Meu pai e minha mãe não tiveram condições e eu sempre estudei em escola pública. E não tive dificuldade para acompanhar o conteúdo das aulas", comenta o universitário. 

A diretora acadêmica da Vunesp, Tânia Cristina Arantes Macedo de Azevedo, afirma que os estudantes que ingressaram na universidade por esse novo sistema têm um desempenho semelhante a quem entrou sem cotas. Mas as cotas não são unanimidade na etnia. O exemplo é a vestibulana Renata Pereira Alves, candidata a uma vaga no curso de música na Unesp. Ela prestou vestibular pela reserva de vagas, mas confessa que preferia outro critério. "Prega-se a igualdade racial, mas as cotas desequilibram a concorrência no vestibular, para quem é branco, pobre, mas é estudioso. Melhor seria apenas privilegiar quem vem de escola pública e é pobre."

Hamilton Pavam
Renata concorre pela reserva de vagas, mas é contra as cotas





Cota faz aumentar vestibulando negro 

No vestibular da Unesp de Rio Preto em 2004, o número de candidatos negros representou 23% do total de inscritos. Dez anos depois, subiu para 32%. Em todo o Estado, na comparação de 2013 com 2014, a quantidade de negros inscritos na Unesp saltou de 15.011 para 16.839 vestibulandos. Considerado um dos idealizadores da Programa Nacional de Ações Afirmativas, o advogado Humberto Adami diz que o crescimento na quantidade de vestibulandos negros é pouco, mas já representa um avanço. 

"Não tinham cotas para pretos e pardos no estado de São Paulo, que eram menos de 5% das universidades públicas, portanto, cresceu muito a inclusão", comenta o advogado. Coordenadora de Políticas para a População Negra da Secretaria de Justiça do Estado de São Paulo, Elisa Lucas Rodrigues acredita que o percentual de negros vestibulandos crescerá mais nos próximos anos. "O aprimoramento se dará através de conscientização dos jovens negros para que ocupem 100% das vagas disponibilizadas. Poucos sabem que têm também direito a auxílio moradia, transporte e alimentação", diz a coordenadora. 

Porém, Adami alerta para retrocessos nas ações afirmativas no Brasil, com questionamento na Justiça contra os concursos públicos com cotas para negros. "O Supremo Tribunal Federal assegurou a constitucionalidade da reserva de vagas, mas há tribunais estaduais que têm anulado resultado das provas. O ambiente no mercado de trabalho é mais difícil do que nas universidades", lamenta o advogado. 

Feriado sem comemoração 

A secretária da Mulher, Raça e Etnia da Prefeitura de Rio Preto, Eni Fernandes, afirmou ontem que a pasta não programou nenhum evento de comemoração marcado para hoje, dia 20, Dia Nacional da Consciência Negra, feriado municipal. Ela exlicou a ausência de comemorações com base em "duas razões": como o comércio estará fechado, não haverá público no centro da cidade. E como ninguém da equipe da secretaria estará, agendados outra data. Ela afirma ter feito vários eventos ao longo de novembro, mas não detalhou quais foram essas comemorações. 

Como consolo, o Dia da Consciência Negra em Rio Preto será comemorado com atraso de uma senana, somente no dia 27, com abertura de exposição em homenagens às lideranças negras da cidade. Em agosto deste ano, a Câmara dos Vereadores tentou flexibilizar o feriado de 20 de novembro, transformando em ponto facultativo, a pedido das lideranças do comércio. Como a iniciativa não deu certo, em 2015, a Acirp pretende entrar com ação Adin (ação direta de inconstitucionalidade) para acabar com o feriado, a exemplo do que fez o comércio em Ribeirão Preto, que vai abrir as portas hoje. 


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