domingo, 1 de fevereiro de 2009

Demóstenes Torres: "O projeto das cotas é um estatuto racista" REVISTA ÉPOCA

O SENADOR DEMÓSTENES TEM UM JEITÃO SÉRIO E UM CURRÍCULO RESPEITÁVEL. NÃO EXPLICOU, CONTUDO, PORQUE ESTAVA PEDINDO LIMINAR AO MINISTRO PRESIDENTE DO STF, POR TELEFONE, QUANDO FOI GRAMPEADO, JÁ QUE NÃO ERA ADVOGADO DO CASO. ATÉ HOJE NÃO DEU EXPLICAÇÕES. NO TOCANTE AO PROJETO DAS COTAS, ALÉM DE MAU INFORMADO, TEM POSIÇÕES SIMPLISTAS E SEM BASE, ALÉM DA CONVERSA DE MESA DE BAR. SEU JEITO "TOPO-TUDO" NA OPOSIÇÃO, NÃO O FAZ ESTAR MAIS CERTO. NEM POR SER SENADOR DA REPÚBLICA, TEM MAIS OPINIÃO DO QUE QUALQUER OUTRO CIDADÃO BRASILEIRO. A ENTREVISTA REPETE VELHOS CLICHES QUE JÁ ESTAMOS ACOSTUMADOS A VER, RESVALANDO, COMO DE HÁBITO, PARA A QUESTÃO PESSOAL, COMO É O CASO DOS SOBRINHOS NETOS. INCORRE NA MESMA FALTA DE PROPOSTA DE SOLUÇÃO QUE JÁ CAMINHAM MAGGIE, FRY, KAMEL E MAGNOLLI, E NO FINAL DA FILA, SEGURANDO PANDEIRO, MILITÃO, ARRANJANDO UMA VAGUINHA NA FOTO. A VAGUINHA DOS "NEGROS CONTRA-COTAS". A REVISTA ÉPOCA REPETE SUA TENDÊNCIA DE SE LIMITAR A PROPAGANDEAR A POSIÇÃO CONTRA COTAS, ESQUECENDO O PAPEL DE INDUTOR IMPARCIAL DO DEBATE. NO FINAL PERDERÃO, VISTO QUE OS ALUNOS COTISTAS, MAIS QUE NINGUÉM, ESTÃO VENCENDO O DEBATE, COM A LEGITIMIDADE DE SUAS FORMATURAS. HUMBERTO ADAMI www.adami.adv.br www.iara.org.br
entrevistas da semana
30/01/2009 - 13:31 - Atualizado em 30/01/2009 - 22:04
Demóstenes Torres: "O projeto das cotas é um estatuto racista"
O senador de Goiás diz que a aprovação de cotas para negros e índios nas universidades federais pode criar um cisma na sociedade brasileira
Rodrigo Rangel

O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) ganhou fama no Congresso como um parlamentar afeito às investigações das CPIs. Agora, o senador tem empunhado outra bandeira. Demóstenes tornou-se o principal opositor do projeto de lei que cria cotas para negros e índios nas universidades federais. A proposta, já aprovada na Câmara, está na Comissão de Constituição e Justiça do Senado e deve ser levada a votação nas próximas semanas. No fim do ano passado, durante audiência pública para discutir o projeto, Demóstenes disse que é filho de mulata. De pronto, alguém que estava assistindo à sessão gritou: “Por acaso sua mãe era filha de mula?”. Nesta entrevista, ele diz que há patrulhamento por parte dos defensores das cotas e muitos senadores temem votar contra o projeto por medo de ser tachados de racistas.

ENTREVISTA – DEMÓSTENES TORRES
Beto Barata QUEM É Demóstenes Lázaro Xavier Torres, de 48 anos, é senador desde 2003 pelo DEM (antigo PFL) de Goiás. Natural de Anicuns, município do interior de Goiás, tem dez irmãos. Diz ser descendente de negros O QUE FEZ Graduou-se em Direito, foi advogado por um curto período e depois ingressou no Ministério Público de Goiás. Chefiou a instituição por duas vezes. Também foi secretário de Segurança Pública em Goiás. É especialista em Direito Penal
ÉPOCA – Por que o senhor é contra a cota racial? Demóstenes Torres – Porque esse é um projeto com grande potencial de dividir a sociedade brasileira. A partir do momento em que nós jogarmos uns contra os outros e passarmos a rotular aqueles que terão mais direito a frequentar uma universidade pública por causa de raça, nós vamos deixar de ser brasileiros. Seremos negros, pardos, brancos, mamelucos, bugres, mas não seremos mais brasileiros. E, sinceramente, acho até que é esse mesmo o objetivo do movimento negro. Outro dia alguém me abordou e disse que era do “povo negro”, como se isso significasse alguma superioridade. Eu disse para essa pessoa que eu sou do povo brasileiro.
ÉPOCA – Mas o senhor não acha justa uma reparação a negros e índios por causa das injustiças cometidas contra eles no passado? Demóstenes – É preciso compreender que realmente os negros e índios sofreram, e sofreram muito. Houve escravidão, houve sofrimento, mas é preciso lembrar também que depois houve integração. A grande característica do povo brasileiro é a miscigenação. Acho, sim, que ainda há problemas a serem resolvidos, mas não podemos deixar que os problemas do passado contaminem o presente e criem divisão racial no país. Não devemos carimbar a testa de uma pessoa com essa ou aquela raça. O governo está querendo fazer demagogia com essa história de cota racial. Quer dar privilégio a uma parte da sociedade. Hoje, um negro pobre namora uma branca pobre sem qualquer problema. Amanhã, corremos o risco de o pai da branca pobre discriminar esse negro porque ele, apesar de ser tão pobre quanto a filha dele, tomou a vaga dela na universidade só por ser negro. Isso pode virar ódio.
ÉPOCA – Por que o senhor diz que é demagogia? Demóstenes – Porque esse projeto não resolve nada, só cria problema. No próprio Ministério da Educação, já tem gente arrependida. O governo, infelizmente, está loteado em segmentos. Reúne ecologistas e, ao mesmo tempo, fazendeiros e movimento de sem-terra. E tem também o movimento negro. De vez em quando, o governo tem de tomar alguma medida para contemplar esses segmentos. Esse projeto de cotas é isso. Está em curso um processo de doutrinação complicado, e esse governo apoia isso. Palavras consagradas no dicionário do brasileiro passaram a ser excomungadas. Querem agora criar um índex para o costume do brasileiro em relação ao negro. A pessoa fica até com medo de conversar com um negro e usar uma palavra que, na visão desses grupos, pode ser ofensiva.
ÉPOCA – A adoção das cotas por algumas universidades ampliou bastante o acesso dos negros ao ensino superior público. Não serve como bom exemplo? Demóstenes – A cota social resolve esse problema, sem precisar usar critérios de raça. Como pretos e pardos estão na base da pirâmide social do país, vai ter um aumento brutal do número de negros nas universidades, sem criar um problema racial no país. Algumas universidades, como a de Brasília, têm usado um sistema em que basta a pessoa dizer se é negra ou mestiça que ela tem direito a entrar na cota. E aí pode até ser um negro rico. Pode ser um filho de ministro, um filho do Orlando Silva (ministro dos Esportes), por exemplo, que tem direito só por causa da cor.
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Demóstenes Torres: "O projeto das cotas é um estatuto racista"
O senador de Goiás diz que a aprovação de cotas para negros e índios nas universidades federais pode criar um cisma na sociedade brasileira
Rodrigo Rangel
ÉPOCA – O senhor não teme ser tachado de racista, ou inimigo dos negros? Demóstenes – Muitos senadores têm medo disso. Eu não tenho, até porque na minha família nós temos um mais branquinho, um mais escurinho, e ninguém discrimina ninguém. Nós sabemos que todos somos mestiços, independentemente de nossa cor. Tenho um sobrinho-neto que é quase negro e outro que é loiro. Os dois são meus sobrinhos-netos e são queridos. Eu não tenho o direito de dividir minha família, como não tenho direito de dividir meu país. Não posso dizer para eles que um vai entrar na faculdade pelo sistema de cotas e o outro vai ter de entrar por outro sistema. Como eu vou explicar isso, se os dois são da mesma família, se têm os mesmos antepassados? Eu não tenho problema racial algum, não tenho sentimento de animosidade contra qualquer raça, mas sei que corro o risco de ser estigmatizado. No mesmo dia em que falei que minha mãe era mulata, também me chamaram de jabuticaba. Disseram que sou preto por fora e branco por dentro, apesar de eu ser branco por fora também. Mas não tenho medo de expor minhas ideias.
ÉPOCA – Aparentemente, o senhor é uma voz isolada e não há tantos senadores contrários à adoção das cotas raciais... Demóstenes – O patrulhamento é tanto que muito parlamentar tem medo de arranhar a própria imagem. Muitos têm medo de aparecer em público contra o movimento negro e ser tachados de racistas, embora não sejam. Nesses casos, vale mais o que aparece do que o que realmente o parlamentar pensa. Sou acostumado a dizer com clareza o que penso e, nesse caso, não tenho medo de dizer que sou contra a cota racial.
“Não podemos deixar que problemas do passado contaminem o presente e criem a divisão racial no país”
ÉPOCA – O senhor acha que isso pode contaminar a decisão do Congresso? Demóstenes – Os movimentos ligados aos negros têm a capacidade de encher os corredores do Congresso e bater no peito dos parlamentares, e muitos parlamentares se sentem absolutamente intimidados. Enfrentar movimento social não é brincadeira, ainda mais quando o movimento tem causas legítimas. Mas essa causa não dá para abraçar.
ÉPOCA – O projeto que está no Senado prevê cotas para negros e índios e também para estudantes carentes... Demóstenes – Do jeito que está, não acredito que vai passar. Aquilo lá, daquela forma, é um estatuto racista. Se criarmos esse tipo de cota, nós vamos reviver o ódio que queremos esquecer. Nós temos de modificar esse projeto de qualquer jeito.
ÉPOCA – Como deve ser a ampliação do acesso à universidade? Demóstenes – Defendo que metade das vagas das universidades federais seja destinada a alunos de escolas públicas. Isso vai fazer com que o preto pobre, o pardo pobre, o branco pobre e o índio pobre tenham acesso ao ensino superior público.
30/01/2009 - 13:31 - Atualizado em 30/01/2009 - 22:04
Demóstenes Torres: "O projeto das cotas é um estatuto racista"
O senador de Goiás diz que a aprovação de cotas para negros e índios nas universidades federais pode criar um cisma na sociedade brasileira
Comentários
  • Priscilla Caroline Almeida dos Santos | RJ / Rio de Janeiro | 01/02/2009 14:23
    Politica e Cientificamente Incorreto Estudos Cientificos feitos em diferentes estados brasileiros demonstram que, geneticamente, as pessoas que se declaram negras ou afrodescendentes tem mais genes de origem "branca" do que muitos que se declaram brancos. O conceito de raça humana tambem nao se aplica, e sim o termo etnias. Sou contra as cotas baseadas na cor da pele, a sociedade brasileira passou por anos de miscigenação e não é possível distinguir brancos e negros. A lógica da reformulação do acesso à educação deveria começar pelo ensino de base. Muitas crianças saem do ensino fundamental como analfabetas funcionais. Depois colocam a culpa desses nao teram acesso ao ensino superior no sistema de vestibular. Se todosJustificar tiverem a mesma educação de base, o mesmo processo de aprendizagem e estimulo intelectual teremos uma sociedade mais produtiva, especializada, com uma elite mais liberal e modernizada. Mas a verdade seja dita: nao é de interesse do Governo transformar os cidadãos em pessoas instruidas, capazes de pensar por si mesmas e, consequentemente, deixar de votar naqueles que sabotam o ensino, a saude e o desenvolvimento brasileiro.
  • celso roberto dias mendes | PB / João Pessoa | 01/02/2009 09:51
    Cotas Para Negros A cotas para negros vai contra as Lei de Deus e da Nossa Constituição, aonde todos são iguais na Lei e perante Deus, ai vem o Congresso Nacional e faz uma proposta dessa de maneira descriminatoria e racista , eu com catolico que estudei em 5 colegios religiosos me pergunto sera que Deus tambem vai criar uma cota para Negros entrarem no Ceu!!!
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI25351-15295-2,00-DEMOSTENES+TORRES+O+PROJETO+DAS+COTAS+E+UM+ESTATUTO+RACISTA.html http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI25351-15295-1,00-DEMOSTENES+TORRES+O+PROJETO+DAS+COTAS+E+UM+ESTATUTO+RACISTA.html

Um comentário:

Taurus disse...

Sobre a origem do tráfico negreiro eis o que disse o historiador Manolo Florentino (que estudou sistematicamente o assunto) no caderno idéias, do Jornal do Brasil , em 21/07/2001:
”Somente 1% dos 10 milhões de escravos enviados à América foram capturados diretamente por europeus. O grosso veio de guerras internas, que tiveram como subproduto a venda dos subjugados para a América”, explica Manolo. ”Para o movimento negro é muito difícil aceitar isso”, reconhece.