quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Reedição de clássicos de Mark Twain substitui palavras 'ofensivas'

O Globo

05/01/2011 - 14h40

Reedição de clássicos de Mark Twain substitui palavras 'ofensivas'

MONTGOMERY - Mark Twain escreveu que "a diferença entre a palavra quase certa e a palavra certa é realmente de grande importância". Uma reedição de ''As aventuras de Huckleberry Finn'' e ''Tom Sawyer'' tentará descobrir se isso é verdade ao substituir a palavra "nigger" (negro), considerada um insulto racista, pela palavra ''slave'' (escravo), em um esforço para não ofender os leitores.

O estudioso da obra de Twain Alan Gribben - que está trabalhando com a editora NewSouth Books no Alabama para a publicação de uma edição com os dois livros em um só volume - disse que a tal palavra ofensiva aparece 219 vezes em ''Huck Finn'' e quatro vezes em ''Tom Sawyer''. Ele afirmou que, com o termo, os livros correriam o risco de entrar na lista de clássicos literários que Twain uma vez definiu como ''aqueles que as pessoas elogiam, mas não leem".

''É uma vergonha que uma palavra possa ser uma barreira entre os leitores e uma experiência de leitura maravilhosa'', disse Gribben.

O livro não deve chegar às prateleiras americanas antes de fevereiro e sairá com meras 7.500 cópias, mas Gribben já recebeu uma enxurrada de e-mails irados acusando-o de ter profanado os romances. Ele afirmou que os e-mails são a prova de que a palavra deixa as pessoas desconfortáveis.

''Nenhuma das mensagens menciona a palavra", disse.

Outro estudioso da obra de Twain, o professor Stephen Railton da Universidade de Virgínia, afirmou que Gribben é respeitado, mas chamou a nova versão de "uma ideia terrível".

A linguagem do livro retrata o passado da América, explica Railton, e os textos revisados não estariam sendo fiéis ao período em que Twain escrevia. Railton vai publicar uma versão integral de ''Huck Finn'' este ano, que incluirá notas contextualizadas para que as escolas explorem as temáticas da escravidão e do racismo contidas no livro.

''Se não pudermos fazer isso em sala de aula, não faremos em lugar algum", disse.

Ele contou que Gribben não foi o primeiro a alterar ''Huck Finn". John Wallace, um professor da Escola Secundária Mark Twain, na Virgínia, publicou uma versão de ''Huck Finn'' cerca de 20 anos atrás que usava a palavra ''slave'' para substituir o termo ofensivo. ''O livro dele não fluía", disse Railton.

Gribben, um professor de literatura inglesa de 69 anos da Auburn University Montgomery, contou que por muito tempo foi contra a mudança, mas começou a usar a palavra "slave" durante leituras públicas e percebeu que o público havia ficado mais receptivo.

Ele decidiu publicar a edição revisada depois que professores de escolas primárias e secundárias lamentaram não poder mais passar os livros aos alunos.

Alguns pais e estudantes pediram a remoção de ''Huck Finn'' das listas de leitura há mais de meio século. Em 1957, a Comissão de Educação da Cidade de Nova York retirou o livro da lista de textos aprovados para escolas do equivalente ao ensino fundamental, mas poderia ser usado com alunos do que seria o ensino médio e comprado para as bibliotecas das escolas.

Em 1998, um grupo de pais de alunos de Tempe, no Arizona, processou uma escola local por conta da inclusão do livro na lista de textos requisitados. O caso chegou à corte federal e os pais perderam a causa.

Publicado nos Estados Unidos em 1885, ''Huck Finn'' é o quarto livro mais banidos das escolas, de acordo com a publicação ''Banned in the U.S.A.'', de Herbert N. Foerstal, um bibliotecário aposentado que escreveu vários livros sobre liberdade de expressão.

Gribben admite que o texto editado perde um pouco de sua pegada cáustica, mas afirmou: ''Quero dar uma opção para professores e outras pessoas que não se sintam confortáveis com as 219 aparições dessa palavra''.

Gribben sabe que não vai mudar a opinião de seus críticos, mas está ansioso para ver como o livro será recebido nas escolas. ''Vamos deixar os leitores decidirem", completou.

Minha História - Benedicto Fonseca Filho, 47: Ascensão na raça

Folha de S. Paulo

Minha História - Benedicto Fonseca Filho, 47: Ascensão na raça

Meu pai foi agente de portaria, um contínuo (...) O preconceito nunca se apresenta claramente. No campo das relações humanas, você nota reação positiva ou negativa (...) É preciso que haja ações afirmativas (...) Eu não me beneficiei de nenhuma política. Na minha época, isso não havia.

Filho de um contínuo, Benedicto Fonseca Filho, 47, foi promovido em dezembro a embaixador, o primeiro negro de carreira. E o mais jovem. Passou por Buenos Aires, Tel Aviv e Nova York. Vai chefiar o departamento de Ciência e Tecnologia. Ele declara orgulho de ser negro e filho de pais humildes que o educaram para chegar ao topo na casa mais aristocrática do país.

(...) Depoimento a JULIANA ROCHA, DE BRASÍLIA

Nasci no Rio, em 1963. Mudei para Brasília em 1970 porque meu pai veio ser funcionário do Itamaraty. Ele foi agente de portaria, que é um contínuo.

Quando eu tinha nove anos, toda a família foi para a [antiga] Tchecoslováquia [no leste europeu], quando meu pai foi removido para Praga por três anos.

Naquele tempo, todos os funcionários das embaixadas eram de carreira. Hoje, esses são terceirizados.

Foi essa experiência internacional que me despertou o interesse pelo Itamaraty. Talvez por ter estudado em escolas internacionais, na escola francesa e na americana.

Meu pai e minha mãe, na sua humildade, nunca pouparam esforços para nos proporcionar as melhores condições de estudo.

Hoje, meu pai tem 84 anos, já é aposentado há 14. Minha maior satisfação foi eu ser promovido com ele ainda vivo. Ele ficou tão ou mais contente do que eu.

Fiz o concurso [do Itamaraty] em 1985 e entrei de primeira, aos 22 anos. Quando saiu a lista dos aprovados, um jornal de Brasília fez uma matéria que dizia: "Mulher e negro passam em primeiro lugar no Rio Branco". A mulher foi o primeiro lugar e eu, o segundo.

Vinte e cinco anos depois, uma mulher passar em primeiro lugar já não causa tanto espanto. Naquela época, tinha só uma mulher embaixadora.

Hoje, são várias mulheres embaixadoras, acho que 20, ocupando postos importantes. Talvez chame muito mais atenção quando um negro ascende na carreira do que uma mulher.

Em relação à diversidade racial já avançamos muito, mas ainda temos muito que avançar. Houve um olhar para essa questão na gestão do ministro Celso Amorim.

PRECONCEITO

O preconceito nunca se apresenta claramente. No campo das relações humanas, você nota reação positiva ou negativa das pessoas.

Mas seria leviano dizer que eu experimentei uma situação que pudesse identificar como preconceito [no Itamaraty]. Nunca houve.

Me lembro de um caso [de reação positiva]. A primeira vez que fui à ONU em 2004, um colega do Caribe me chamou no canto para dizer que pela primeira vez via um diplomata negro na delegação brasileira.

Ele enfatizou: "It"s the first time ever, ever. We are proud" [É a primeira vez. Estamos orgulhosos].

Eu faço um paralelo com os EUA, que tiveram um sistema de cotas importante para criar uma classe média negra que se autossustenta, que agora pode seguir em frente sem a necessidade de políticas diferenciadas.

No Brasil, as cotas das universidades vão produzir uma diversidade salutar.

COTAS NO ITAMARATY

É preciso haver políticas de ação afirmativa. No ministério, damos bolsas para proporcionar condições financeiras adequadas para que os afrodescendentes se preparem, o que tem tido um resultado muito positivo.

O objetivo é dar condições para pessoas que têm talento. Algumas vezes é visto como se estivessem recebendo um privilégio. Temos o cuidado de preservar as condições de preparação.

Eu não me beneficiei de nenhuma política. Na época, não havia. Mas olhando retrospectivamente, creio que me beneficiei de certas circunstâncias.

Tive oportunidades que raramente os negros têm. Morei no exterior, estudei idiomas com a ajuda do Itamaraty, porque ajudavam nos estudos dos filhos dos funcionários.

Os críticos das cotas têm uma contribuição que não é irrelevante. Eles dizem que, cientificamente, não há raças, não há diferenças entre brancos e negros.

É uma desmistificação para quem acha que há diferenças intrínsecas. Mas há uma falha no argumento. Do ponto de vista humano e das relações sociais, existem diferenças.

Basta ver os índices sociais, condições de saúde e de moradia para ver que existe um problema. Isso não é tratado de maneira séria e aprofundada [pelos críticos].

Nosso país tem muitos passivos. A preocupação social e racial tem que andar lado a lado. Ou deixamos as coisas acontecerem, ou tentamos uma intervenção. O assunto não pode ser jogado para debaixo do tapete.

ÁFRICA

Nos últimos anos, houve uma preocupação de diversificar as relações externas, ter um olhar novo não só em relação à África. Resgatar elementos de nossa identidade, cultura e sociedade.

Mas também avançamos na área comercial, levando em conta nosso interesse econômico. Tenho orgulho de ser negro. Faz parte da minha identidade. E de ser brasileiro. Mais do que isso, tenho orgulho de ser filho dos meus pais.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

ABC Constitucional: O PROBLEMA DAS COTAS PARA ESTUDANTES AFRO-AMERICAN...

ABC Constitucional: O PROBLEMA DAS COTAS PARA ESTUDANTES AFRO-AMERICAN...: "CASO BAKKE Dr. Louis Pasteur Dr. Robert Ray No dia 12 do mês de outubro de 1977, a Suprema Corte norte-americana ouviu a sus..."

O PROBLEMA DAS COTAS PARA ESTUDANTES AFRO-AMERICANOS NAS FACULDADES DE MEDICINA CASO BAKKE

TERÇA-FEIRA, 4 DE JANEIRO DE 2011

O PROBLEMA DAS COTAS PARA ESTUDANTES AFRO-AMERICANOS NAS FACULDADES DE MEDICINA

CASO BAKKE
Dr. Louis Pasteur
Dr. Robert Ray
No dia 12 do mês de outubro de 1977, a Suprema Corte norte-americana ouviu a sustentação oral através do advogado Reynold H. Colvin no caso amplamente divulgado por toda imprensa o caso Regentes da Universidade da Califórnia contra Allan Bakke. Nenhuma outra ação judicial despertou tanto interesse pela sociedade e foi tão divulgada ou mesmo debatida pela imprensa nacional e até internacional anteriormente da sentença final do Tribunal. Mesmo diante de todos os acontecimentos alguns dos fatos mais pertinentes colocados diante do Tribunal não poderiam ser resumidos de maneira clara.
A Universidade da Califórnia em Davis entre os muitos cursos de graduação que oferece existe o de medicina que é atingido por um programa especial de ação afirmativa chamado programa de Força Tarefa com o principal intuito de promover a entrada de estudantes negros e minorias sociais no referido curso. Reservando, portanto dezesseis vagas para as quais concorrem exclusivamente os membros das minorias em total desvantagem educacional e também econômica. Todos os anos a Universidade da Califórnia oferecia cem vagas no curso de medicina, incluídos aí as vagas para o programa especial fonte dos problemas levantados em juízo. Allan Bakke, de cor branca, foi candidato a uma das oitenta e quatro vagas restantes; não sendo selecionado, como a totalidade de suas notas foram de um certo ponto relativamente altas, a Escola de Medicina reconheceu de pronto que se não houvesse aquele tipo de programa seria Bakke selecionado. Logo ele promoveu uma ação judicial baseada que o programa de Força Tarefa o havia proibido ou privado de seus direitos constitucionais. Afirmando em sua ação que tal programa feria a Carta Magna, portanto era inconstitucional. O Supremo Tribunal do Estado da Califórnia deferiu o pedido formulado e ordenou que a Escola de Medicina o admitisse. Contudo a Universidade recorreu da sentença a Suprema Corte Constitucional Norte-Americana.
Vale salientar que Allan Bakke não foi aprovado e também foi recusado em outras duas escolas de medicina, não por causa de sua cor da pele ser branca, mas por causa exclusiva de sua idade, as outras escolas acharam que um estudante que entrasse numa escola de medicina com 33 anos completados fatalmente contribuiria bem menos para o serviço médico ao longo de toda sua carreira do que outra pessoa que entrasse na idade padrão de 21 anos. Suponha que, para determinar se Bakke possuía capacidades que negariam a generalização no seu respectivo caso, essas duas escolas tinham se baseado não numa investigação bem detalhada, mas apenas numa regra empírica que permitia unicamente numa investigação superficial de candidatos com uma idade superior aos 30 anos.
Dr. Drauzio Varella
Voltando a ação promovida, a questão constitucional levantada por Bakke é, portanto de grande importância para todo ensino de nível superior nos Estados Unidos, pois um enorme número de universidades e escolas deu entrada em mandatos aminus curial pedindo que o Suprema Corte Constitucional modificasse a decisão proferia na Califórnia. Todas as instituições de ensino superior afirmam que se não possuírem ampla liberdade para usar critérios raciais explicitas nos seus programas de admissão, serão totalmente incapazes de cumprir o que consideram ser suas responsabilidades perante a sociedade em geral.
Dr. Conrad Murray
Como curiosidades foram estudar o censo realizado nos Estados Unidos no ano de 1970, onde está constatado que apenas 2,1 % (por cento) dos médicos que se formam são de pele negra. Os defendidos programas de ação afirmativa (Os programas de ação afirmativa usam critérios explícitos porque seu objetivo principal é poder aumentar cada vez mais o número de certas raças em determinadas profissões. Todavia almejam também a médio e longo prazo diminuir o grau em que a sociedade norte-americana, como um todo, é radicalmente consciente, dividida em grupos raciais e étnicos, com cada um deles, como grupo social, com o direito a uma parcela proporcional, de recursos, carreiras e também oportunidades)pretendem prover mais médicos negros para atender pacientes negros. E não porque é desejável que unicamente que negros cuidem de negros e brancos tratem apenas de brancos, mas porque neste momento é bastante improvável que os negros, e isso não é culpa deles, sejam muito bem atendidos pelos médicos brancos, e porque a falta em lhes oferecer médicos em que possam realmente confiar irá antes exacerbar que mesmo reduzir o ressentimento que hoje apenas os leva a confiar nos seus. O método usado pela Universidade da Califórnia conhecido por Ação Afirmativa vem tentando cada vez mais colocar estudantes negros nas salas de aula junto com profissionais médicos brancos, não porque seja desejável que uma escola de medicina reflita a constituição racial de toda comunidade, mas porque a união profissional entre brancos e negros diminuirá entre os homens de pele clara a atitude racista de achar as pessoas negras como raça e não como indivíduos, e assim, a atitude dos negros de pensar em si mesmos de uma maneira semelhante. Ela está tentando oferecer a toda sociedade americana modelos de papeis para os futuros médicos negros, não exclusivamente porque seja desejável que uma criança negra possa encontrar modelos profissionais unicamente entre indivíduos negros, mas porque a própria história mundial os tornou tão conscientes de sua raça que é muito provável que o sucesso de brancos, na atualidade, signifique pouca coisa ou mesma nada para eles.
Será apresentado o pensamento de Ronald Dworkins que é professor de Filosofia Jurídica na Universidade de Oxford e também professor de Direito da Universidade de Nova York que afirma: “Naturalmente, se Bakke está certo em que tais programas, não importa quão eficazes seja, violam seus direitos constitucionais, eles não devem ter permissão para continuar. Mas não devemos proibi-los em nome de uma máxima descuidada, como a de que não possa estar certo combater jogo com jogo ou de que o fim não pode justificar os meios. Se as alegações estratégicas a favor da ação afirmativa são validas não podem ser descartadas com a justificativa de que testes racionalmente explícitos são repugnantes. Se tais testes são repugnantes, só pode ser por motivos que tornam ainda bem mais repugnantes as realidades sociais subjacentes que os programas atacam” (DWORKIN, Ronald. Uma Questão de Princípio. São Paulo: Martins Fontes, 2000. p. 44.). Exatamente dessa análise os Magistrados da Corte Suprema chegaram a decisão final para com o conflito que será mostrada e também analisada um pouco mais adiante.
Antes de adentrarmos na sentença proferida pela Corte Suprema mostraremos o que realmente foi alegado pelas partes envolvidas no processo em fulcro, de um lado Allan Bakke e do outro a Universidade da Califórnia. Portanto a Universidade contratou para defender seus interesses o advogado Archibald Cox graduado na Escola de Direito de Harvard em Boston. Na sua sustentação oral defendeu a tese baseada na qual os problemas sociais existentes entre indivíduos brancos e negros principalmente provocados por disparidades econômicas e também conflitos raciais poderiam ser diminuídos pelos programas de ação afirmativa que seriam o único meio possível de aumentar o número de médicos negros diante de uma imensa e privilegiada maioria branca. Quando o Supremo Tribunal da Califórnia acatou o pedido de Bakke ordenou a Universidade que perseguisse esse principal objetivo por meio de outros métodos que não poderiam de maneira alguma levar em conta a raça explicitamente em questão. Mas isso não seria possível. Devemos distinguir, defendeu, entre duas interpretações do que realmente possa significar a Ordem do Tribunal da Califórnia. Pode significar que a Universidade deve portanto almejar o mesmo objetivo imediato, de aumentar a proporção de estudantes negros e também como de outras minorias como os índios na escola de medicina, por meio de um processo de seleção que, superficialmente, não utilize nenhum critério racial evidente. Como também pode significar, de outra maneira, que a escola de medicina deveria adotar algum outro objetivo que não poderia ser baseado em critérios raciais, como aumentando cada vez mais a quantidade de alunos desfavorecidos de todas as raças, e, portanto esperar um pouco mais de tempo para que esse objetivo tenha seus efeitos produzidos, como consequência disso acarretaria um aumento colateral de médicos negros. Por fim na sua sustentação oral perante a Suprema Corte Constitucional dos Estados Unidos, o advogado de Bakke, o já anteriormente citado Reynold H. Colvin, sustentou que o seu cliente possuía o Direito de não ser excluído da escola de medicina por causa exclusiva da sua raça, e isso, como formulação de um Direito Constitucional, soa de uma maneira bem mais plausível que afirmações sobre o direito de ser avaliado por mérito ou como individuo. Soa mais aceitável, contudo, porque propõe o seguinte princípio, bem mais complexo:Todo cidadão americano possui o Direito Constitucional, conquistado com muito sangue, suor e lágrimas, de não sofrer nenhum tipo de desvantagem, pelo menos na competição por qualquer beneficio público, porque a raça, religião ou seita, região ou qualquer grupo natural ou artificial ao qual possa pertencer seja objeto de preconceito ou até mesmo desprezo.
Vale salientar que nos Estados Unidos a política de admissão consciente ou mesmo baseada na raça atualmente oferecem a única esperança com peso de poder introduzir uma quantidade mais elevada de profissionais médicos negros e também de outras minorias desprestigiadas socialmente na profissão será uma imensa perda as escolas médicas não possuírem mais a permissão para por em prática tais programas especiais. Estaríamos pondo de lado uma chance clara de combater certas injustiças presentes para obter proteção, da qual talvez não precisemos, contra abusos especulativos que temos outros meios de evitar. E as totalidades desses abusos não possam de maneira alguma, ser piores que a injustiça à qual nos estaríamos rendendo. Essa é a posição tomada pela maioria dos profissionais de educação americana.
Temos que mostrar que o pedido de Bakke para entrar na escola de medicina alegando a inconstitucionalidade do programa de ação afirmativa era baseado em duas questões bem definidas. Propôs, em primeiro lugar, que o programa em debate era totalmente ilegal contido nos termos da Lei de Direitos Civis de 1964, que está contido de maneira evidente que nenhuma pessoa poderia ser em razão de sua raça ser excluído de participação, poderá ser privado de qualquer benefício ou mesmo poder ser sujeito à discriminação em qualquer tipo de programa que de alguma maneira recebam auxilio federal. E por fim argumentou, em segundo lugar, que o programa era totalmente inconstitucional porque negava a Bakke a igual proteção garantida pela anteriormente estudada Décima Quarta Emenda. Logo o pedido de Allan Bakke para ser mantido na escola de medicina e a anulação dos programas especiais, que impediram sua entrada na faculdade, definidos pelo seu advogado, tinham, portanto embasamento jurídico comprovado na própria lei existente.
Esse caso bastante interessante levou os juízes da Suprema Corte Constitucional dos Estados Unidos a inovar na sua sentença definitiva, pois cinco votos a quatro decidiram ratificar a decisão inicial tomada pelo Supremo Tribunal do Estado da Califórnia em manter Bakke na escola de medicina. Todavia de maneira surpreendente para muitos deixou de lado a vinculação as leis contidas no Código Civil norte-americano e na própria Constituição que são contrárias a programa de ação afirmativa e usando de seu poder discricionário revogou a proibição do tribunal californiano quanto levar em consideração a raça sob qualquer circunstância. A sentença definitiva agradou tanto a Universidade da Califórnia quanto seu aluno Bakke, pois a Universidade realmente tinha como principal objetivo, na ação, não a saída de Bakke do seu quadro de alunos e sim a permanência do chamado programa de Força Tarefa pra dar mais oportunidades a estudantes negros na sua escola de medicina.
Mesmo sendo a decisão final da Suprema Corte Constitucional, em relação a Bakke, recebida por toda imprensa e também grande parte da sociedade com imenso alívio, como sendo um ato de verdadeira competência judicial que presenteou a cada parte do debate nacional aquilo que ela gostaria de receber. Essa sensação de frescor ou mesmo alívio, porém, não parece ser explicada, e é bastante difícil lhe aceitar.
É demasiadamente cedo, contudo, para poder chegar a conclusão que a tão almejada decisão no caso estudado poderá de imediato estabelecer as linhas primordiais de um amplo acordo nacional sobre a ação afirmativa na educação de nível superior. A conta das opiniões dos juízes, que julgaram o caso concreto, e a posição particular do juiz Powell significou que Bakke pode estabelecer muito menos do que era realmente esperado e, tanto no que se refere ao principio geral, quanto mesmo à sua aplicação minuciosa, deixou de lado matérias para futuras decisões da Suprema Corte em posteriores questões que serão inevitáveis.
Pelo meu entender a sentença proferida pela Suprema Corte Constitucional foi uma decisão apenas politica. Deixando às partes envolvidas, na ação, como vencedores do pleito e também toda sociedade americana satisfeita. Os juízes não viram ou não quiseram enxergar, que é bem mais provável, os riscos que continham sua posição final.
Por fim a Suprema Corte Constitucional norte-americano notando que sua decisão deixava riscos em relações a ações semelhantes decidiu, que a Lei dos Direitos Civis, em si e por si, não podem impedir qualquer programa de ação afirmativa, mesmo aqueles que, como da escola de medicina, usam cotas determinadas. Decidiu também que sua Carta Magna autoriza os programas de ação afirmativa que possa verdadeiramente permitir que a raça seja levada em consideração, pessoa por pessoa, com a única intenção de obter um corpo estudantil o mais democrático possível.
Ernani Eugenio Gayoso de Melo.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Ministra quer estender cotas para negros

O Globo

Ministra quer estender cotas para negros

A ministra da Igualdade Racial, Luiza Bairros, elogiou a iniciativa do Itamaraty de abrir reserva de vagas para negros no próximo concurso e fez um apelo para que todos os ministérios adotem medidas parecidas. "Vamos provocar cada ministério a apresentar uma ação de impacto", afirmou.

Ministra defende cotas raciais para todo o governo

Ao assumir cargo, Luiza Helena de Bairros elogia reserva de vagas para afrodescendentes em concurso do Itamaraty

Carolina Brígido

BRASÍLIA. A nova ministra da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Luiza Helena de Bairros, assumiu o cargo ontem elogiando a iniciativa do Itamaraty de criar reserva de vagas para negros no próximo concurso para diplomatas. Ela fez um apelo para que todos os ministérios do governo tomem medidas parecidas em 2011, declarado pela Organização das Nações Unidas (ONU) o Ano Internacional para Afrodescendentes.

- Neste ano, vamos provocar cada ministério a apresentar uma ação de impacto, emblemática. Tivemos uma avant-première com a decisão do Ministério das Relações Exteriores de fazer a reserva de vagas. Podemos ver com os demais ministérios como isso se organiza - disse.

"As cotas têm se mostrado eficientes para a inclusão"

Luiza ressaltou que as cotas são um instrumento de inserção, mas não uma política de afirmação completa.

- As cotas são sempre um instrumento possível dentro de um leque de políticas afirmativas. A cota é um instrumento, mas não é uma política de afirmação como um todo. As cotas têm se mostrado eficientes para promover a inclusão, como temos visto nas universidades.

Na cerimônia de transmissão de cargo, o antecessor de Luiza, Eloi Ferreira de Araújo, também elogiou a decisão do Itamaraty. Segundo Eloi, a iniciativa foi um dos resultados positivos do Estatuto da Igualdade Racial, herança do governo Lula.

Na cerimônia de posse, a nova ministra fez um discurso forte em defesa do fim do racismo como condição de desenvolvimento do país. Ela também defendeu a contratação de funcionários para gerir políticas de igualdade racial em todos os ministérios. Luiza aproveitou para pedir aumento de verba e de pessoal para sua pasta.

Segundo a ministra, o movimento feminista sugeriu a Dilma que entregasse a mulheres 30% de seu ministério. A presidente atendeu apenas parte do pedido, nomeando nove ministras. A nova ministra lembrou que, em uma das tradições do Candomblé, nove é o número de Iansã, uma divindade feminina e guerreira.

Luiza e Eloi prestaram homenagem a seus antecessores, Edson Santos e Matilde Ribeiro. A ex-ministra não estava presente ao evento. Ela deixou o cargo em 2008 em meio a denúncias sobre uso indevido do cartão corporativo do governo federal. Sua fatura denunciava gastos pessoais com dinheiro público. Uma das compras foi feita no free shop.

Antes de assumir um posto no governo Dilma, Luiza era secretária de Igualdade Racial do governo da Bahia. Ela nasceu em 1953, em Porto Alegre (RS). Formou-se em Administração Pública e Administração de Empresas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS). Em 1979, mudou-se para Salvador e engajou-se no Movimento Negro Unificado (MNU).

Ministra assume Igualdade Racial e alerta para falta de recursos da pasta

Ministra assume Igualdade Racial e alerta para falta de recursos da pasta
Josie Jeronimo
Larissa Leite
A ministra Luiza de Bairros: "É preciso dotar a Secretaria de uma estrutura material e de pessoal mais compatível"
A cerimônia de posse da nova ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Luiza Helena de Bairros, foi marcada por uma plateia de apoio. Militantes de movimentos negros a aplaudiram de pé na tarde de ontem, quando a ministra recebeu o cargo de Elói Ferreira de Araújo. Os representantes entregaram ainda um manifesto afirmando que a escolhida por Dilma para comandar a secretaria conta com a legitimidade das entidades. O apoio setorizado, no entanto, veio com a previsão de muito trabalho pela frente. Luiza assumiu o posto em tom de crítica e cobrança — de mais recursos, estrutura e apoio dos demais ministérios — e herda uma grande quantidade de denúncias com as quais deverá lidar. A Ouvidoria da própria secretaria, por exemplo, vai apresentar hoje 405 processos de denúncias em andamento, recebidos desde 2003.
Segundo o ouvidor da Seppir, Humberto Adami, o número de denúncias vem crescendo ao longo dos anos, sendo que a maioria foi recebida em 2010. “A população está acreditando mais no trabalho, na resolução, e na efetividade da denúncia. Os direitos estão mais claros, e o canal de comunicação está ficando mais conhecido. Naturalmente a população passa a demandar mais”, explicou Adami. As denúncias podem ser encaminhadas a órgãos como o Ministério Público e a Defensoria Pública, após serem analisadas. Segundo o ouvidor, há um projeto — que deverá passar pelo crivo da nova ministra — de criar uma central de atendimento às denúncias e de ampliar um canal de comunicação para os 27 estados da Federação.
Enquanto isso não ocorre, associações civis cumprem esse papel. É o caso da SaferNet Brasil, que criou a Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos. A associação encaminhou ao Ministério Público Federal (MPF) de São Paulo, em novembro do ano passado, uma notícia-crime com a relação de 1.037 perfis de usuários do Twitter que teriam postado mensagens racistas entre 31 de outubro e 4 de novembro. Muitas delas foram estimuladas pela mensagem da estudante de direito Mayara Petruso, que postou um texto discriminatório em relação aos nordestinos. A denúncia foi acolhida pelo MP, mas ainda passa por análise.
No discurso de posse, a ministra Luiza Bairros afirmou ter recebido, da presidente Dilma Rousseff, orientação para intensificar o debate com o Ministério da Justiça para que a secretaria tenha como uma das prioridades a redução do número de mortes de jovens negros. A ministra cobrou ajuda dos outros ministérios pela atuação na causa negra e afirmou que a secretaria, devido à limitação dos recursos orçamentários, tem perfil de propor as políticas públicas que podem ser implementadas por outras pastas. “É preciso dotar a secretaria de uma estrutura material e de pessoal mais compatível com a tarefa a ser desempenhada no governo”, defendeu Luiza.
A ministra pontuou ainda que a reserva de vagas a negros, destinada à carreira de diplomatas do Ministério das Relações Exteriores, representa “uma avant-première” da política de cotas do país. A ministra fez críticas veladas ao DEM, partido que entrou com pedido no Supremo Tribunal Federal (STF) para suspender as cotas para negros em universidades públicas. “As cotas são sempre um instrumento possível, em um leque de instrumentos de ação afirmativa. Ficou um pouco evidente o quanto essa posição sobre as cotas é minoritária e desembasada de qualquer realidade histórica”, afirmou.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Concurso para diplomatas do Itamaraty terá cotas para negros

Concurso para diplomatas do Itamaraty terá cotas para negros

Publicada em 28/12/2010 às 22h17m

O Globo, com informações do G1
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BRASÍLIA - O concurso realizado anualmente pelo Ministério das Relações Exteriores para selecionar os diplomatas brasileiros vai instituir a política de cotas a partir de 2011. A portaria que vai determinar o novo critério deve ser publicada nesta quarta-feira no "Diário Oficial da União".

O concurso, aplicado pelo Instituto Rio Branco, está previsto para o primeiro semestre de 2011 e vai oferecer 26 vagas finais. Na segunda das quatro fases do concurso serão acrescentadas 10% das vagas para afrodescendentes. Se, por exemplo, 300 estudantes forem selecionados para a segunda fase pelos critérios já estabelecidos, o instituto acrescentará outras 30 vagas (10%) para afrodescentes.

A partir daí, o afrodescendente selecionado pelo critério de cotas concorre em igualdade de condições com os demais candidatos. Não haverá aumento do número de vagas finais para atender aos afrodescendentes. Os candidatos afrodescendentes terão de indicar a descendência por meio de uma autodeclaração, entregue no momento da inscrição.

De acordo com o Itamaraty, as exigências para o candidato chegar à segunda fase não serão alteradas. Atualmente, o concorrente precisa acertar, no mínimo, 40% das questões da prova objetiva, composta por questões como língua portuguesa, história do Brasil, política internacional, língua inglesa, entre outras. Para passar para a fase seguinte, também precisa estar entre as 300 melhores notas. Entre a segunda e terceira fase das provas, o candidato precisará acertar, no mínimo, 60% do total da prova a fim de passar para a quarta e última fase.

- A ideia é que a pessoa passe no concurso pelos seus próprios méritos. O instituto vai facilitar um pouco mais na segunda fase para os afrodescendentes, mas a seleção vai seguir os mesmos rigores - informou a assessoria de imprensa do Itamaraty.

O concurso do Instituto Rio Branco é considerado um dos mais disputados do Brasil. Em 2010, foram oferecidas 108 vagas para 13.771 inscritos. Todos os 108 aprovados já foram nomeados, segundo o Itamaraty. As provas do próximo ano, que ainda não têm data marcada, serão realizadas em todas as capitais do país. O edital do concurso deve ser publicado até o final de fevereiro.