Para esconder desigualdade, Banco insiste com marketing
S. Paulo - Sem adotar qualquer medida concreta para reduzir a desigualdade entre negros e brancos no setor bancário, a poderosa Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) realiza nesta segunda-feira (27/06), no Hotel Internacional da Alameda Santos, nos Jardins, Zona Nobre de S. Paulo, mais um seminário para discutir o tema da Diversidade.
O seminário faz parte da estratégia de marketing que vem sendo utilizada para abafar denúncias feitas em 2005 pelo Ministério Público Federal do Trabalho e entidades do Movimento Negro. As denúncias resultaram em ações movidas pelo então Procurador do Trabalho, Otávio Brito Lopes, contra os cinco principais bancos do país - Bradesco, Itaú, HSBC, Unibanco e ABN-Amro Real. O lançamento do Mapa, o plano com um diagnóstico da discriminação e propostas genéricas que evitavam tocar na disparidade de salários entre negros e brancos, aconteceu em abril de 2008, em um megaevento no Hotel Inter-Continental da Alameda Santos, com a presença do próprio presidente da Febraban, Fábio Barbosa.A exemplo do que aconteceu no lançamento, também desta vez, o seminário tem presença confirmada do atual presidente da entidade, Murilo Portugal (foto), além de representantes da Secretaria das Mulheres, da ONU, OIT, e do secretário executivo da SEPPIR, Mário Theodoro Lisboa.Desigualdade Segundo Censo realizado pelos próprios bancos, pretos e pardos recebem, respectivamente, apenas 64,2% e 67,6% dos salários dos não negros. A discriminação é ainda maior em relação às mulheres negras: somente 8% delas conseguem emprego nos bancos, apesar de representarem 18% da População Economicamente Ativa (PEA).No mês passado, um dos autores das denúncias de discriminação racista no setor bancário, o advogado Humberto Adami, funcionário de carreira do Banco do Brasil e atualmente responsável pela área jurídica da instituição em Palmas, Tocantins, disse a Afropress que o arquivamento das denúncias e a falta de ação do Ministério Público do Trabalho, fez com que o Mapa se transformasse em instrumento de marketing, "sem que tenham sido tomadas quaisquer providências para reduzir a desigualdade de salários".No lançamento, como parte da campanha de comunicação para “vender” o Mapa, foram contratados, além do CEERT, os atores negros Ailton Graça e Solange Couto, do elenco de novelas da Rede Globo de Televisão.O Mapa e o marketingSegundo a professora Maria Aparecida Bento, responsável pelo diagnóstico constante do Mapa, e que participará da mesa de encerramento dos debates “há práticas importantes, embora pontuais, em diferentes bancos”. “Por iniciativa do Movimento Negro e de Mulheres, foi possível realizar um diagnóstico completo sobre a situação das mulheres, dos negros e dos portadores de deficiência nos bancos. Com este diagnóstico foi possível elaborar um plano de ação consistente para enfrentar as dificuldades”, afirma. Bento, porém, não soube dizer quais foram as práticas importantes adotadas.Em outubro de 2009, o representante da Febraban, o diretor de Relações Institucionais, Mário SérgioVasconcelos, protagonizou um "show" na Comissão de Direitos Humano, numa Audiência Pública em que afirmou que resultados consistentes só deveriam ser esperados "para daqui a de 3 a 5 anos”. “É um processo longo. Envolve relações humanas possibilitando situações delicadas e imprevistas. Expõe conteúdos subjetivos com potencial de conflitos. Políticas de promoção da igualdade alteram a cultura das organizações”, afirmou, na ocasião a uma platéia perplexa.Sem transparênciaDesde que foi lançado a Afropress tenta uma entrevista com a Febraban e com a própria Cida Bento sobre o Mapa. A Assessoria de Imprensa jamais respondeu aos pedidos de entrevista, feitos insistentemente à Superintendência de Comunicação. Já Cida Bento mais de uma vez já afirmou que o CEERT foi apenas contratado para apresentar um plano e que cabe a Febraban falar sobre as ações adotadas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário