Dias desses fui ao estádio do Engenhão, no Rio de Janeiro, cumprir os deveres de pai de adolescente, e não pude deixar de lembrar da atual polêmica que envolve o racismo na obra de Monteiro Lobato, e o Instituto de Advocacia Racial e Ambiental, no Supremo Tribunal Federal.
Para o Engenhão, vai-se de trem. A partida era entre Flamengo e Fluminense.
Não pude deixar de fazer algumas fotos do caminho, e a passagem pela estação Central do Brasil.
De imediato, veio à mente o texto de Monteiro Lobato.
A Barca de Gleyre(Cia. Editora Nacional, 1944), que reúne a correspondência ativa de Lobato com o escritor mineiro Godofredo Rangel, entre 1903 e 1943, não é ficção. E lá está:
“Estive uns dia no Rio (…). Dizem que a mestiçagem liquefaz essa cristalização racial que é o caráter e dá uns produtos instáveis. Isso no moral – e no físico, que feiúra! Num desfile, à tarde, pela horrível Rua Marechal Floriano, da gente que volta para os subúrbios, que perpassam todas as degenerescências, todas as formas e má-formas humanas – todas, menos a normal. Os negros da África, caçados a tiro e trazidos à força para a escravidão, vingaram-se do português de maneira mais terrível – amulatando-o e liquefazendo-o, dando aquela coisa residual que vem dos subúrbios pela manhã e reflui para os subúrbios à tarde. E vão apinhados como sardinhas e há um desastre por dia, metade não tem braço ou não tem perna, ou falta-lhes um dedo, ou mostram uma terrível cicatriz na cara. “Que foi ?” “Desastre na Central.” Como consertar essa gente? Como sermos gente, no concerto dos povos? Que problema terríveis o pobre negro da África nos criou aqui, na sua inconsciente vingança!…”
A conclusão para mim, é mais que óbvia, a respeito da atualidade dos temas discutidos na polêmica e os resquícios da escravidão do negro no Brasil, que persistem até hoje.
Humberto Adami
Advogado
humbertoadami@gmail.com
FONTE: Blog do Humberto Adami
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