VEJA EM AFROPRESS
Afropress - Como funcionário afastado do Banco do Brasil, como  acompanhou e o que acha do Mapa da Diversidade apresentado pela FEBRABAN  como repostas às denúncias feitas por você próprio e depois assumidas  pelo Ministério Público Federal do Trabalho?
 Adami - Foi uma etapa na minha vida em que aprendi muito. Como já  tinha lidado anteriormente com a FEBRABAN nas denúncias de dano  ambiental causado por financiamentos de bancos (minha tese de  dissertação de mestrado), e por ser da área bancária, tenho experiência  com a turma de lá. Não direi que enrolam, mas vão demorar. O trabalho  feito por alguns bancos é notável. 
 A aglutinação feita em torno da Unipalmares facilitou, com o resultado  prático de pelo menos 600 estagiários terem conseguido trabalhar nos 10  maiores bancos privados do país, com cursos de extensão, concomitantes à  graduação na Universidade Zumbi dos Palmares, de MBA de Gerente  Executivo Júnior, com selo Unicamp e FGV. Isto foi fantástico. Diga-se  que, embora a denúncia tenha sido minha, o trabalho foi alavancado por  muitas instituições ligadas ao Movimento Negro. 
 Houve um ganho efetivo, mas a divisão de sempre acabou por atrapalhar a  pressão em cima do Ministério Publico do Trabalho, que digamos, se  desmotivou, bem como em cima dos próprios bancos. O Mapa da Diversidade  elaborado pelo CEERT deve ser saudado como sendo resultado prático, pois  uma entidade originada no Movimento Negro não foi substituída pelas  ONGs de sempre. 
 O Mapa comprova a exatidão da denúncia feita ao MPT. E, portanto, o que é  de se estranhar é que, comprovada a denúncia, outra deveria ser a  postura do MPT, não o de dirigir afagos e carinhos ao denunciado, e sim o  de partir para uma medida mais efetiva, de ministério público mesmo, e  em caráter nacional, pois as tão saudadas ações civis públicas contra os  cinco maiores bancos privados brasileiros só foram ajuizadas contras os  bancos no Distrito Federal, e com os números do DF. 
 Aí a coisa complicou um pouco, pois o Tribunal Regional do Trabalho do  DF julgou as ações improcedentes, afirmando que a “prova estatística não  era suficiente para comprovar a desigualdade racial no âmbito do  trabalho dos bancos”. Disse isso depois de afirmar na decisão que  conhecia a doutrina do direito comparado afirmando que a estatística é  prova suficiente (EUA); que conhecia a doutrina brasileira baseado no  livro do Ministro Joaquim Barbosa, mas que ele, o TRT, não achava prova  suficiente. 
 Como sempre digo, a placa na porta do banco escrito “Crioulo não entra”  não vai ser nunca produzida no Brasil. Enquanto isto, o Estado  brasileiro é vítima de denuncias e recomendações da OEA, e tais  autoridades não são chamadas para um acerto de contas com o erário por  causa de sua conduta, como no caso da empregada doméstica Simone Diniz  (Relatório 066/2006), em que nunca se chamou delegado de polícia,  promotor e juiz de direito para acerto de contas com o estado, em ação  regressiva. 
 Penso que todos os casos de arquivamentos e improcedências em tema  racial devem ser conectados ao caso Simone Diniz, para que se  identifique logo a autoridade em omissão. Recebi na Ouvidoria uma  reclamação contra essa situação, e após falar com o Procurador Geral do  Trabalho, Otávio Brito, e com o Ministro Corregedor da Justiça do  Trabalho, Carlos Alberto Reis de Paula, penso que a Ouvidoria  encaminhará uma reclamação ao CNJ – Conselho Nacional de Justiça, em  breve. 
 Isto porque um eventual prejuízo de condenação, que deveria ser paga  pelos supostos praticantes dos atos de racismo, passa, com as  recomendações da OEA, muitos anos depois, para o erário público, sendo  suportado por nós, contribuintes, ao invés daquele que praticou  desigualdade racial. Isto não esta correto, e é uma oportunidade para  que o tema racial frequente aquele conselho com repercussão em outros  casos. 
 Mas isso não deveria impedir que novas denúncias e novas ações fossem  ajuizadas nas 27 capitais, de novo, por novos autores, especialmente  sindicatos, de todas as categorias profissionais, uma vez que as  centrais sindicais, em ação da Ouvidoria, acabaram de subscrever  documento em poder do ministro Elói Araújo, de dar total apoio à ação  afirmativa. Isso, com certeza, mobilizaria não só a FEBRABAN, que está  conversando com o Subsecretário de Ações Afirmativas da SEPPIR, Martvs  Chagas, bem como o próprio Ministério Público do Trabalho, em suas 27  representações nos estados. O que não é possível é que o denunciado  produza a prova que o incrimina na denúncia - e nada, ou pouca coisa,  aconteça.    
 
 



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