“Formação Universitária, Carreiras Militantes e Atuação
Profissional em Causas Sociais no Rio Grande do Sul”
AUTORAS:
FERNANDA RIOS PETRARCA
(Universidade Federal de Sergipe)
CLARISSA ECKERT BAETA NEVES
(Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
http://sec.adtevento.com.br/anpocs/inscricao/resumos/0001/TC0584-1.pdf
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De forma semelhante, o Instituto de Advocacia Racial e Ambiental (IARA) foi
criado em 2003, no estado do Rio de Janeiro, definindo-se como pessoa jurídica de
direito privado, sem fins lucrativos atuante nas áreas de Direito Racial e Ambiental,
destacando suas ações e debates sobre a responsabilidade social/ambiental e o racismo. O
instituto focaliza a promoção e defesa dos direitos da população afro-brasileira, tanto
no espaço urbano, destacando suas ações sobre as relações raciais em educação,
mercado de trabalho e ações afirmativas, bem como sobre as comunidades
remanescentes de quilombo, comunidades negras rurais e também apoiando
juridicamente clandestinos africanos.
Além de desenvolver um conjunto de atividades voltadas à promoção da
igualdade racial, a entidade criou o Observatório da Advocacia Racial contando com a
parceria de um conjunto de entidades do movimento negro do Rio de Janeiro. Uma das
principais atuações da instituição está relacionada a representação legal de um conjunto
de entidades vinculadas ao movimento negro no estado do Rio de Janeiro. Assim, a
entidade tem o poder de representar um conjunto de organizações em várias ações
vinculadas a defesas das “causas raciais”, como discriminação e desigualdade racial no
espaço de trabalho, cotas raciais e o não cumprimento da lei que exige uma disciplina
sobre a história da África nas escolas. O seu presidente, Humberto Adami, presidiu
também outras entidades, na qualidade de diretor da Federação Nacional dos Advogados,
membro do Conselho Superior Faculdade Zumbi dos Palmares/Afrobras, presidente do
Sindicato dos Advogados do Estado do Rio de Janeiro, diretor da Associação dos
Advogados do Banco do Brasil, membro da Associação Brasileira dos Advogados
Ambientalistas. Já foi condecorado com vários prêmios por sua atuação contra a
discriminação racial no estado do Rio de Janeiro, como prêmio Zumbi dos Palmares e
troféu Raça Negra da ONG AFROBRAS. Na sua visão é preciso promover uma
“advocacia de combate”:
A advocacia de combate defende o interesse dos que estão excluídos. Quando
estive nos Estados Unidos, num programa do consulado americano, os ativistas
negros de lá me disseram o seguinte: aqui a gente ajuíza tudo e o tempo todo.
O Brasil não aprendeu ainda a fazer isso. (...). A advocacia de combate
pretende ser a voz dos que estão de fora. A advocacia de combate pode levar
as demandas de nosso campo aos tribunais o tempo todo e pelo ângulo da
Constituição. Você pode abranger com isso os mais diversos ramos. E
principalmente também para acabar de vez com esse estigma que se criou na
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sociologia, na antropologia, na ciência política, colocando o direito sempre a
reboque das transformações sociais. Na verdade, tudo o que a gente está
fazendo, não só advogados, mas o IARA está fazendo juntamente com outras
entidades do Movimento Negro, nunca precisou de uma resolução, uma
medida provisória, uma lei. O que a gente usou o tempo todo foi o
instrumental jurídico que já está à disposição dos brasileiros e dos
jurisdicionados. (Humberto Adami, entrevista ao site Irohim).
Assim, esse relato coloca em evidência a maneira como os advogados contribuem
para a construção e para a defesa de causas políticas na esfera do direito. Trata-se, nesse
caso, de promover a utilização do instrumental jurídico para assegurar os direitos e a
cidadania da população negra. Portanto, a “advocacia de combate” propõe acionar o
arcabouço jurídico na defesa dos direitos.
Acho que temos boas leis e o que falta é a aplicação mais forte no campo
prático. Quanto a isto, temos procurado ajuizar um número grande de ações,
visando a que o Poder Judiciário possa decidir em quantidade. Somente com o
uso continuado das leis, através das decisões de vários juízes, é que teremos o
que em Direito se chama de jurisprudência. (...). Quanto às leis, cito
especialmente a Lei CAÓ, que está comemorando quinze anos este ano. Vejo,
contudo, no campo do direito civil, a melhor forma de exercer uma pesada
investida anti-racial com o estabelecimento de pesadas condenações
indenizatórias, de forma a coibir racismo. (Humberto Adami, entrevista ao site
Irohim).
Pode-se observar que a profissão, nesse sentido, é colocada a serviço de uma
causa que articula defesa de grupos que apresentam uma longa história de discriminação
e reivindicação de direitos passando pelo acesso e uso da justiça. Assim, a atividade
profissional do direito e o acionamento constante da esfera jurídica se tornam
importantes recursos para a defesa de uma causa politicamente e socialmente marcada. A
utilização dos recursos jurídicos e do saber-fazer profissional pelos advogados torna-se
instrumento fundamental para caracterizar o posicionamento no campo do poder.
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