24. Jornal do Dia - SE
Agressão de médica terá acompanhamento
Cássia Santana
cassiasantana@jornaldodiase.com.br
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e o Conselho Nacional do Ministério
Público (CNMP) podem interferir na apuração da agressão sofrida por
Diego José Gonzaga, funcionário da Companhia Aérea Gol, crime ocorrido
na madrugada do dia 26 do mês passado no Aeroporto de Aracaju. Ele
foi agredido verbalmente pela médica Ana Flávia Pinto Silva,
comportamento que pode caracterizar crime racial. O pedido para que o
CNJ e o CNMP realizem procedimentos para que o episódio não fique
impune foi encaminhado pelo ouvidor Humberto Adami Santos Júnior, da
Secretaria Especial de Políticas de Promoção de Igualdade Racial
(SEPPIR), órgão vinculado à Presidência da República.
O ouvidor da SEPPIR entende que houve racismo explícito no
comportamento da médica Ana Flávia Pinto e destaca a necessidade de
também apurar o comportamento do delegado Washington Okada, que,
na ótica do ouvido r, teria adotado postura para minimizar o impacto
deste tipo de atitude delituosa sobre a vítima, quando registrou a
ocorrência em Boletim na Delegacia de Plantão sem tipificar o crime de
racismo. É preciso superar esta distorção, conceituou o ouvidor. Para
evitar este tipo de transtorno, o ouvidor anuncia que a SEPPIR está em
contato com as academias de polícia no país para que sejam realizados
cursos de capacitação para, além de preparar os agentes do Estado,
evitar eventuais condenações do Brasil em vista do descumprimento de
tratados internacionais.
Depoimento - Na tarde de anteontem, Diego Gonzaga prestou
depoimento na Delegacia de Atendimento a Grupos Vulneráveis. Para
evitar maior exposição, o horário do depoimento foi mantido em sigilo. O
JORNAL DO DIA teve acesso ao depoimento do funcionário da Gol. À
delegada de Polícia, Georlize Teles, que preside o inquérito policial
instaurado naquele unidade policial para apuração dos fatos, o
funcionário da Gol narrou todo o episódio, informando, inclusive, que a
confusão com a médica teria sido precedida por uma outra ocorrido na
mesma madrugada e por motivos semelhantes. É que uma outra
passageira, com sete meses de gestação, também fora impedida de
embarcar por não apresentar ordem médica autorizando a viagem.
Naquela madrugada, segundo Diego, a Polícia teria sido acionada para
interferir na primeira confusão, a da gestante, que teria envolvido um
grupo de oito passageiros. Mas quando a Polícia chegou ao local, o grupo
já tinha se retirado do aeroporto. No momento, os policiais encontraram
o tenso clima gerado pelo descontrole da médica. No depoimento, Diego
revela que, consultado pelos policiais, ele aceitou prestar queixa na
Delegacia Plantonista uma vez que, descontrolada, a médica ameaçou
destruir computadores - inclusive teria atirado o teclado de um dos
equipamentos contra o chão - além de insultá-lo com palavreado que
podem caracterizar crime de racismo. No depoimento, Diego garante que
a médica utilizou, de forma pejorativa, a palavra Nego, ao se dirigir a ele
no guichê da Companhia Aérea.
A delegada Georlize Teles pretende identificar o autor do vídeo, cujas
imagens foram captadas por um aparelho de telefonia móvel, divulgado
pela internet, especialmente no site YouTube, que mostra a reação da
médica Ana Flávia contra o funcionário da Gol. Mas a delegada não
considera o vídeo de extrema importância nas apurações. Ela vê indícios
de prática de crime de injúria racial no comportamento de Ana Flávia e
garante que os depoimentos de testemunhas serão relevantes nas
apurações.
A médica, inclusive, reconheceu os excessos, pediu desculpas públicas ao
funcionário da Gol, mas não admite racismo em seu comportamento. O
advogado Emanoel Cacho pretende processar a Gol e o site YouTube pela
exibição das imagens.
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