quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

LUTA CONTRA O RACISMO: Ana Alakija


03/01/2014


LUTA CONTRA O RACISMO: em artigo vigoroso, Ana Alakija enfrenta a infame campanha racista contra o Presidente do Supremo



"O Brasil dos afro-brasileiros respondeu à altura, lançando a campanha 'Vamos abraçar Joaquim Barbosa e o STF'"



 2013: Será que desta vez caiu o mito?
Ana Alakija
No Brasil tudo acaba em samba. No bom sentido, desde que samba é coisa séria, como dizia o mestre capoeirista baiano Cobrinha Verde. E assim, o ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa seguiu à risca a letra da cartilha e, com direito à cervejinha, caiu no Samba do Trabalhador, na última tradicional roda de samba do ano de 2013 organizada às segundas-feiras no Clube Renascença, no Andaraí, Rio de Janeiro. O ministro foi recebido como celebridade no local, considerado um reduto da cultura negra.
Isto soa como uma pré-campanha à presidência da República – será o ministro Joaquim Barbosa o próximo primeiro presidente negro do país? Digo isto porque o Brasil, embora um país mestiço, conserva as características pluriraciais de identidades diversas, e com uma grande desvantagem para as identidades africanas e indígenas, com essas populações descendentes à margem do poder político e econômico.
Embora a nação brasileira esteja comemorando ‘apenas’ dez anos de idade em ações afirmativas – política implantada durante a administração de Luis Ignacio Lula da Silva – em dezembro deste ano, o Brasil branco ouviu um Grupo de Trabalho sobre Afro-Descendentes das Nações Unidas , depois de dez dias de visitar a nação brasileira, o que o Brasil negro já sabe desde que o país aboliu o sistema de escravidão, em 1888 : o Brasil não é uma democracia racial.
A conclusão de um Grupo de Trabalho das Nações Unidas sobre Afrodescendentes após visita de dez dias à nação brasileira, onde visitou favelas e quilombos de cinco cidades, com autoridades e representantes da sociedade civil, apontou um grande contraste entre a precariedade da situação dos negros e o elevado crescimento econômico do país.
O GT visitou favelas e quilombos de cinco cidades, com autoridades e representantes da sociedade civil, e apontou um grande contraste entre a situação precária dos negros e do elevado crescimento econômico. ” Afro – brasileiros não serão totalmente considerados cidadãos de pleno direito , sem uma justa distribuição do poder econômico , político e cultural “, disse Mireille Fanon (da França ) e Maya Sahli ( Argélia ) , membros desse grupo, como resultados preliminares de sua visita e cujo relatório conclusivo será apresentado em 2014.
Em comunicado à imprensa, divulgado pela Agência Brasil, os especialistas da ONU destacaram que, entre negros e brancos, existem desigualdades de acesso à educação, à justiça, à segurança e aos serviços públicos. O grupo identificou racismo “nas estruturas de poder, nos meios de comunicação e no setor privado”. Segundo os representantes da ONU, apesar de serem metade da população brasileira, os negros estão “subrrepresentados e invisíveis”.
A constatação pela ONU, de que o racismo é um problema estrutural na sociedade brasileira, mostra que o Brasil, para os afro-brasileiros está fazendo a coisa certa. Houve progressos significativos em 2013 no sentido de colidir com esta realidade .
Não apenas no campo executivo oficial , como a aprovação e encaminhamento de projetos de lei nos níveis municipal , estadual e federal instituindo cotas para descendentes africanos em concursos públicos . Mas outras vitórias sob pressão social, como: a introdução do curso de Relações Étnico-Raciais no currículo de universidades federais (essa disciplina é essencial para a formação de professores e profissionais de ensino para a implantação de outras disciplinas como a História da Cultura Africana e Afro-Brasileira nos níveis médio e fundamental do ensino conforme lei aprovada há dez anos e sem funcionamento); e o embargo de recursos públicos para a compra, distribuição e utilização nas escolas de obras de Monteiro Lobato (referência da rede particular de ensino do DF, consideradas tão ofensivas a afrodescendentes quanto a de Mark Twain) “sem que antes se acrescente uma nota técnica sobre racismo à obra ou pelo menos que existam medidas concretas para a capacitação de professores em educação étnico-racial”. Como explica o presidente do Instituto de Advocacia Racial e Ambiental (Iara) , Humberto Adami, e o técnico em Educação, Antônio Costa Neto, autores dos mandados judiciais impetrados.
Voltando à cervejinha e o samba desfrutados pelo ministro Barbosa, são bem merecidos . Vítima de bullying e assédio racial (assim como o presidente Obama e as práticas abomináveis republicanas do seu Congresso) desde que ele foi nomeado ministro pelo ex-presidente Lula e, mais tarde eleito presidente do Supremo Tribunal Federal , no estilo do racismo brasileiro e que, mesmo ele próprio não tem como provar a acusação ( a lei brasileira contra o racismo está obsoleta ), o primeiro ministro verdadeiramente negro do STF na história da nação que tem mais da metade da população composta de descendentes africanos, fez cumprido a sua missão.
Após condenação e emissão de ordem de prisão de 25 cidadãos ligados à cúpula do Partido dos Trabalhadores, o chamado caso “Mensalão” – canal através de onde transcorria dinheiro, de forma organizada, para políticos aliados com o objetivo de aprovar matérias do interesse governamental – ele foi vítima de uma campanha encabeçada por “juristas, intelectuais e personalidades da sociedade civil”, que assinaram e publicaram um manifesto na Internet e ainda derramaram artigos e notícias na imprensa contra o que eles consideraram “prisões ilegais”.
O Brasil dos afro-brasileiros respondeu à altura, lançando a campanha “Vamos abraçar Joaquim Barbosa e o STF” através das redes sociais, iniciada em e-black-groups , com o objetivo de apoiar as ações do presidente do Supremo Tribunal Federal do país e a moralização do órgão em sua decisão.





Fonte: Brasil 247 (brasil247.com)

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