segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Carlos Brickmann: o racismo também é coisa nossa. Veja-se, por exemplo, a campanha contra o ministro Joaquim Barbosa

Humberto Adami

01/12/2013
 às 19:30 \ Política & Cia

Carlos Brickmann: o racismo também é coisa nossa. Veja-se, por exemplo, a campanha contra o ministro Joaquim Barbosa

"A campanha racista é movida contra Barbosa, que é negro, e poupa os demais ministros que votaram a seu lado pela condenação. Mas os   outros que condenaram os réus são brancos e não sofrem ataques" (Foto: Carlos Humberto / STF)
“A campanha racista é movida contra Barbosa, que é negro, e poupa os demais ministros que votaram a seu lado pela condenação. Mas os
outros que condenaram os réus são brancos e não sofrem ataques” (Foto: Carlos Humberto / STF)
Notas da coluna que o jornalista Carlos Brickmann publica hoje, domingo, em vários jornais
 50 TONS DE PELE
Toda a feroz campanha contra o ministro Joaquim Barbosa terá como causa a vingança contra a ousadia de condenar réus do sacrossanto partido que ocupa o poder federal? Ou, como causa associada, a possibilidade de que o ministro saia candidato à Presidência da República, cometendo o crime de lesa-majestada?
Talvez a causa seja outra (até porque Barbosa, arrogante, de trato áspero, muitas vezes grosseiro, dificilmente ganharia uma eleição): o ator Milton Gonçalves, respeitado militante dos movimentos negros desde os tempos em que isso não era moda, vê a face do racismo na guerra a Joaquim Barbosa.
– Se fosse louro de olhos azuis, o discurso seria outro.
Completa:
– Ele tem méritos. Não entrou por cotas, fala cinco línguas, é um personagem importante em nosso país.
O advogado Humberto Adami, do Instituto de Advocacia Racial, entrou na luta por Barbosa, criando a campanha “O Brasil abraça o ministro Joaquim e o STF” nas redes sociais e criticando a “campanha desonesta, vil e evidentemente racista contra um brasileiro que tem cumprido fielmente suas obrigações constitucionais”.
Lembra que a campanha racista é movida contra Barbosa, que é negro, e poupa os demais ministros que votaram a seu lado pela condenação. Mas os outros que condenaram os réus são brancos e não sofrem ataques.
Racismo também é coisa nossa.
Esmeraldo Tarquínio, prefeito eleito de Santos [durante o regime militar], foi hostilizado por militares por ser de esquerda e cassado por ser negro.
Da ditadura à democracia, muita coisa mudou. Mas há fatos tristes que se repetem.
Tons de pele 2
A bela Camila Pitanga não é mais ou menos brasileira, mas além de ser artista popular e de sucesso, tem sua imagem ligada à da Caixa Econômica Federal, cujos anúncios estrela, e ano que vem é ano eleitoral... (Foto: Divulgação Rede Globo)
A bela Camila Pitanga não é mais ou menos brasileira, mas além de ser artista popular e de sucesso, tem sua imagem ligada à da Caixa Econômica Federal, cujos anúncios estrela, e ano que vem é ano eleitoral… (Foto: Divulgação Rede Globo)
A questão da cor da pele é travada também em torno do Casal da Copa. A FIFA tinha há mais de seis meses contratado Fernanda Lima e Rodrigo Hilbert – artistas de sucesso, com amplo apelo popular. Foram propostos então Camila Pitanga e Lázaro Ramos; como já tinha contratado Fernanda Lima e Hilbert, a FIFA não aceitou a indicação. Os cartolas passaram a ser acusados de racismo.
Bobagem: como pergunta o jornalista Mário Mendes, mulato, “Camila Pitanga e Lázaro Ramos são mais brasileiros do que Fernanda Lima e Rodrigo Hilbert porque são negros?” Por que, então, a guerra?
Talvez porque a bela Camila Pitanga, também artista popular e de sucesso, tenha a imagem ligada à da Caixa Econômica Federal, cujos anúncios estrela. Alguém na Copa com imagem vinculada à do Governo, em ano eleitoral, seria ótimo para a campanha presidencial.


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