quinta-feira, 24 de março de 2011

Movimento negro condena racismo contra Barbosa


Movimento negro condena racismo contra Barbosa

Pedido de desculpas de Júlio Campos (DEM-MT), que chamou ministro do STF de ''ilustre moreno escuro'', não evitou desconforto de entidade e de negros

Quinta, 24 de Março de 2011, 00h00
Ed Ferreira/AE-16/3/2011
Movimento negro condena racismo contra Barbosa
Ícone. Joaquim Barbosa, único ministro negro do STF: 'Falta de apoio e perseguição oculta'
Roberto Almeida
Representantes do movimento negro criticaram ontem a maneira como o deputado Júlio Campos (DEM-MT) se referiu ao ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal (STF), chamando-o de "ilustre ministro moreno escuro". O caso ocorreu anteontem durante reunião da bancada do DEM. Em nota, o deputado pediu desculpas.

Contudo, mesmo com a retratação do parlamentar, a situação gerou desconforto entre membros do movimento, já que Barbosa é considerado um ícone por ter chegado à Corte Suprema e ter se assumido "verdadeiramente negro".

"Parece ser impossível um País que deixa o povo 388 anos escravizado e, em seguida, excluído de seus direitos básicos, estar preparado para respeitar o negro", afirmou Frei Davi Santos, da ONG Educafro.

Segundo o dirigente, a situação criada pelo parlamentar deve mobilizar a sociedade a refletir sobre a presença negra nos três Poderes. "Quantos juízes negros nós temos, quantos governadores, quantos deputados federais?", questiona. "Para mim, ele (Campos) é vítima da sociedade. A sociedade levou-o a tratar mal o negro."

O advogado recém-formado Julio César de Oliveira, também ligado ao movimento negro, trata Joaquim Barbosa como referência para sua carreira e vê a declaração de Campos como uma afronta. "Uma punição não apagaria a mancha que (o deputado) deixou", disse.

Oliveira relembrou uma visita do ministro à universidade que cursava, em Franca (SP), há dois anos. "Ele contou que sentiu falta de apoio e perseguição oculta. Disse que quem praticava o racismo eram as instituições. Eu concordei plenamente", observou.

O diretor da ONG Instituto de Advocacia Racial e Ambiental (Iara), Humberto Adami, considera o caso já superado com o pedido de desculpas e credita a declaração à "pouca presença negra no governo". "Eles não estão nesses lugares, a ponto de um deputado ficar tão impressionado com a cor da pele", observou. O ministro Joaquim Barbosa não se manifestou.

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