segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Não é sobre você que devemos falar, por Ana Maria Gonçalves

sábado, 20 de novembro 2010 Não é sobre você que devemos falar, por Ana Maria Gonçalves

Monteiro Lobato: um homem com um projeto para além do seu tempo - Caçadas de Pedrinho, publicado em 1933, teve origem em A caçada da onça, de 1924. Portanto, poucas décadas após a abolição da escravatura, que aconteceu sem que houvesse qualquer ação que reabilitasse a figura do negro, que durante séculos havia sido rebaixada para se justificasse moralmente a escravidão, e sem um processo que incorporasse os novos libertos ao tecido da sociedade brasileira. Os ex-escravos continuaram relegados à condição de cidadãos de segunda classe e o preconceito era aceito com total normalidade. Eles representavam o cisco incômodo grudado à retina, o "corpo imperfeito" dentro de uma sociedade que, a todo custo, buscava maneiras de encobri-lo, desbotá-lo ou eliminá-lo, contando com a colaboração de médicos, políticos, religiosos e outros homens influentes daquela ápoca. Um desses homens foi o médico Renato Kehl, propagador no Brasil das idéias do sociólogo e psicólogo francês Gustave Le Bon, que defendia a "superioridade racial e correlacionava as raças humanas com as espécies animais, baseando-se em critérios anatômicos como a cor da pele e o formato do crânio", segundo o livro Raça Pura, - Uma história da eugenia no Brasil e no mundo, de Pietra Diwan para a Editora Contexto. Renato Kehl reuniu ao seu redor uma ampla rede de intelectuais, com quem trocava correspondência e ideias constantemente, todos adeptos, defensores e propagadores da eugenia, assim definida por ele em 1917: "É a ciência da boa geração. Ela não visa, como parecerá a muitos, unicamente proteger a humanidade do cogumelar de gentes feias".

Em 1918 foi fundada a Sociedade Eugênica de São Paulo - SESP, contando com cerca de 140 associados, entre médicos e membros de diversos setores da sociedade que estavam dispostos a "discutir a nacionalidade a partir de questões biológicas e sociais", tendo em sua diretoria figuras importantes como Arnaldo Vieira de Carvalho, Olegário de Moura, Renato Kehl, T. H. de Alvarenga, Xavier da Silveira, Arhur Neiva, Franco da Rocha e Rubião Meira. A sociedade, suas reuniões e ideias eram amplamente divulgadas e festejadas pela imprensa, e seus membros publicavam em jornais de grande circulação como Jornal do Commercio, Correio Paulistano e O Estado de São Paulo. Lobato, como um homem de seu tempo, não ficaria imune ao movimento, e em abril de 1918 escreve a Renato Kehl: "Confesso-me envergonhado por só agora travar conhecimento com um espírito tão brilhante quanto o seu, voltado para tão nobres ideais e servido, na expressão do pensamento, por um estilo verdadeiramente "eugênico", pela clareza, equilíbrio e rigor vernacular." Era o início de uma grande amizade e de uma correspondência ininterrupta até pelo menos 1946, dois anos antes da morte de Monteiro Lobato. Os eugenistas agiam em várias frentes, como a questão sanitária/higienista, que Lobato trata em Urupês, livro de contos onde nasce o famoso personagem Jeca Tatu, ou a racial, sobre a qual me aterei tomando como ponto de partida outro trecho de uma das cartas de Monteiro Lobato a Renato Kehl: "Renato, Tú és o pai da eugenia no Brasil e a ti devia eu dedicar meu Choque, grito de guerra pró-eugenia. Vejo que errei não te pondo lá no frontispício, mas perdoai a este estropeado amigo. [...] Precisamos lançar, vulgarizar estas idéias. A humanidade pecisa de uma coisa só: póda. É como a vinha. Lobato."

O livro mencionado é O Choque das raças ou o presidente negro, de 1926, que Lobato escreveu pensando em sua publicação nos Estados Unidos, para onde ele se mudou para ocupar o cargo de adido cultural no consulado brasileiro de Nova York. Em carta ao amigo Godofredo Rangel, Lobato comenta: "Um romance americano, isto é, editável nos Estados Unidos(...). Meio à Wells, com visão do futuro. O clou será o choque da raça negra com a branca, quando a primeira, cujo índice de proliferação é maior, alcançar a raça branca e batê-la nas urnas, elegendo um presidente negro! Acontecem coisas tremendas, mas vence por fim a inteligência do branco. Consegue por meio de raios N. inventados pelo professor Brown, esterilizar os negros sem que estes se dêem pela coisa". Resumindo bastante, as coisas tremendas são: em 2.228, três partidos concorrem às eleições presidenciais americanas. O partido dos homens brancos, que pretende reeleger o presidente Kerlog, o partido das mulheres, que concorre com a feminista Evelyn Astor, e o partido dos negros, representado por Jim Roy. Com a divisão dos brancos entre homens e mulheres, os negros se tornam maioria e Jim Roy é eleito. Não se conformando com a derrota, homens e mulheres brancos se unem e usam "a inteligência" para eliminar a raça negra, através de uma substância esterilizante colocada em um produto para alisamento de cabelos crespos.

A composição dos partidos políticos parece ter sido inspirada por um dos livros preferidos de Lobato, que sempre o recomendava aos amigos, oL’Homme et les Sociètes (1881) de Gustave Le Bon. Nesse livro, Le Bon diz que os seres humanos foram criados de maneira desigual, condena a miscigenação como fator de degradação racial e afirma que as mulheres, de qualquer raça, são inferiores até mesmo aos homens de raças inferiores. Lobato acreditava que tinha encontrado a fórmula para ficar milionário, como diz em 1926:"Minhas esperanças estão todas na América. Mas o 'Choque' só em fins de janeiro estará traduzido para o inglês, de modo que só lá pelo segundo semestre verei dólares. Mas os verei e à beça, já não resta a menor dúvida".Com o sucesso do livro, ele esperava também difundir no Brasil a ideia da segregação racial, nos moldes americanos, mas logo teve suas esperanças frustradas, como confidência ao amigo Godofredo Rangel: "Meu romance não encontra editor. [...]. Acham-no ofensivo à dignidade americana, visto admitir que depois de tanto séculos de progresso moral possa este povo, coletivamente, cometer a sangue frio o belo crime que sugeri. Errei vindo cá tão verde. Devia ter vindo no tempo em que eles linchavam os negros." Deve ter sido uma grande decepção para Lobato e seus projetos grandiosos, visto que, em carta de 1930, também a Godofredo Rangel, ele admite fazer uso da literatura para se dizer o que não pode ser dito às claras: "é um processo indireto de fazer eugenia, e os processos indiretos, no Brasil, 'work' muito mais eficientemente".

Achei importante contextualizar esse livro porque acredito que todos que estão me lendo são adultos, alfabetizados, com um certo nível cultural e, portanto, público alvo desse romance adulto de Monteiro Lobato. Sendo assim, peço que me respondam com sinceridade: quantos de vocês teriam sido capazes de, sem qualquer auxílio, sem qualquer contextualização, realmente entender o que há por trás de O Choque das raças ou o presidente negro? Digo isso porque me lembro que, na época das eleições americanas, estávamos quase todos (sim, eu também, antes de ler o livro) louvando a genialidade do visionário e moderno Monteiro Lobato em prever que os Estados Unidos, um dia, elegeriam um presidente negro, que tinha concorrido primeiro com uma mulher branca e depois com um homem branco. Mas há também o que está por detrás das palavras, das intenções, e achei importante contextualizá-las, mesmo sendo nós adultos, educados, socialmente privilegiados.

O lugar do outro - Peço agora que você faça um exercício: imagine uma criança na sala de aula das escolas públicas de ensino médio e fundamental no Brasil. Negra. Sei que não deve ser fácil colocar-se sob a pele de uma criança negra, por isso penso em alternativas. Tente se colocar sob a pele de uma criança judia numa sala de aula na Alemanha dos anos 30 e ouça, por exemplo, comentários preconceituosos em relação aos judeus: "............ ...........", "............ .............. ...... .. ....". Ou então, ponha-se no lugar de uma criança com necessidades especiais e ouça comentários alusivos ao seu "defeito": "............. ............", "................. ..............". Talvez agora você já consiga sentir na pele o que significa ser essa criança negra e perceber a carga histórica dessas palavras sendo arrastada desde séculos passados: "macaca de carvão", "carne preta" ou "urubu fedorento", tudo lá, em Caçadas de Pedrinho, onde "negra" também é vocativo. Sim, sei que "não se fala mais assim", que "os tempos eram outros". Mas sim, também sei que as palavras andam cheias de significados, impregnadas das maldades que já cometeram, como lâminas que conservam o corte por estarem sempre ali, arrancando casca sobre casca de uma ferida que nunca acaba de cicatrizar. Fique um pouco de tempo lá, no lugar dessa criança, e tente entender como ela se sente. Herdeira dessa ferida da qual ela vai ter que aprender a tomar conta e passar adiante, como antes tinham feito seus pais, avós, bisavós e tataravós, de quem ela também herdou os lábios grossos, o cabelo crespo, o nariz achatado, a pele escura. Dói há séculos essa ferida:

luis-gama.jpg "Em nós, até a cor é um defeito. Um imperdoável mal de nascença, o estigma de um crime." Luiz Gama

Volte agora para o seu lugar e se ouça falando coisas do tipo: "Eu li Monteiro Lobato na infância e não me tornei racista", ou "Eu nunca me identifiquei com o que a Emília disse", ou "Eu não acho que chamar alguém de macaco seja racista", ou "Eu acho que não tem nada de ofensivo", ou "Eu me recuso a ver Lobato como racista", ou "Eu acho um absurdo que façam isso com um autor cuja leitura me deu tanto prazer". Se você não é parte do problema, nem como negro nem como racista, por que se colocar no centro da discussão? Você também já não é mais criança, e talvez seja a hora de entender que nem todas as verdades giram em torno do seu ponto de vista. Quando criança, talvez você tenha crescido ouvindo ou lendo expressões assim, sempre achando que não ofendiam, que eram de brincadeira e, portanto, agora, ache que não há importância alguma que continuem sendo ditas em livros dados na escola. Talvez você pense que nunca tenham te afetado. Mas acredito que, se você continuar não conseguindo se colocar sob a pele de uma criança negra e pelo menos resvalar a dor e a solidão que é enfrentar, todos os dias, o peso dos significados, ouso arriscar que você pode estar enganado. Elas podem ter tirado de você a sensibilidade para se solidarizar com esse grave problema alheio: o racismo. Sim, porque tenho a sensação de que racismo sempre foi tratado como problema alheio - é o outro quem sofre e é o outro quem dissemina -, mesmo sua erradicação sendo discutida no mundo inteiro como direitos humanos. Direitos de todos nós. Humanos. Direito de sermos tratados com dignidade e respeito. E é sobre isso que devemos falar. Não sobre você.

Esse é um assunto sério, para ser discutido por profissionais que estejam familiarizados com racismo, educação infantil e capacitação de professores, e que inclusive podem contar com o respaldo do Estatuto da Criança e do Adolescente, instituído em 1990 pela Lei 8.069. Destaco dois artigos do Capítulo II - Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade: Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis. Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.

Combate ao racismo no Brasil

‘Só porque eu sou preta elas falam que não tomo banho. Ficam me xingando de preta cor de carvão. Ela me xingou de preta fedida. Eu contei à professora e ela não fez nada''

[Por que não querem brincar com ela]‘‘Porque sou preta. A gente estava brincando de mamãe. A Catarina branca falou: eu não vou ser tia dela (da própria criança que está narrando). A Camila, que é branca, não tem nojo de mim''. A pesquisadora pergunta: ‘‘E as outras crianças têm nojo de você?'' Responde a garota: ‘‘Têm''. Depoimento de crianças de 6 anos no livro "Do Silêncio do Lar ao Silêncio Escolar: racismo, discriminação e preconceito na educação infantil", de Eliane Cavalleiro - Editora Contexto

Colocando-se no centro da discussão, como se a "censura" não existente ao livro de Lobato as ofendesse pessoalmente, e como se fosse só isso que importasse nessa discussão, tenho visto várias pessoas fazendo os comentários mais absurdos, inclusive interpretando e manipulando outros textos ficcionais de Lobato para provar que ele não era racista, ou que era apenas um homem do seu tempo. Algo muito importante que não devemos nos esquecer é que nós também somos homens e mulheres do nosso tempo, e que a todo momento estamos decidindo o que a História escreverá sobre nós. Tenho visto também levarem a discussão para o cenário político, no rastro de um processo eleitoral que fez aflorar medos e sentimentos antes restritos ao lugar da vergonha, dizendo que a "censura" à obra de Lobato é mais um ato de um governo autoritário que quer estabelecer a doutrina de pensamento no Brasil, eliminando o livre-pensar e interferindo na sagrada relação de leitores com seus livros. Dizem ainda que, continuando assim, daqui a pouco estaremos proibindo a leitura de Os Sertões, Macunaíma, Grande Sertão: Veredas, O Cortiço, Odisséia, Dom Casmurro etc, esquecendo-se de que, para fins de comparação, esses livros também teriam que ser distribuídos para o mesmo público, nas mesmas condições. Às vezes parece-me mais uma estratégia para, mais uma vez, mudar de assunto, tirar o foco do racismo e embolar o meio de campo com outros tabus mais democráticos como o estupro, o incesto, a traição, a violência, a xenofobia, a homofobia ou o aborto. Tabus que, afinal de contas, podem dizer respeitos a todos nós, sejamos brancos ou negros. Sim, há que se lutar em várias frentes, mas hoje peço que todos apaguem um pouco os holofotes que jogaram sobre si mesmos e suas liberdades cerceadas, concentrem-se nas palavra "racismo" e "criança", mesmo que possa parecer inaceitável vê-las assim, uma tão pertinho da outra, dêem uma olhada no árduo e necessário processo que nos permite questionar, nos dias de hoje e dentro da lei, se Caçadas de Pedrinho é mesmo um livro indicado para discutir racismo nas salas de aula brasileiras.

Os motivos do parecer - De acordo com a Coordenação Geral de Material Didático do MEC, a avaliação das obras que compõem o Programa Nacional Biblioteca da Escola são feitas por especialistas de acordo com os seguintes critérios: "(...) a qualidade textual, a adequação temática, a ausência de preconceitos, estereótipos ou doutrinações, a qualidade gráfica e o potencial de leitura considerando o público-alvo". A simples aplicação dos critérios já seria suficiente para que o livro Caçadas de Pedrinho deixasse de fazer parte da lista do MEC. No parecer apresentado ao Conselho Nacional da Educação pela Secretaria da Educação do Distrito Federal, a professora Nilma Lino Gomes, da UFMG, salienta que o livro faz “menção revestida de estereotipia ao negro e ao universo africano, que se repete em vários trechos”. Destaco alguns: "Tia Nastácia, esquecida dos seus numerosos reumatismos, trepou na árvore que nem uma macaca de carvão”, ou (ao falar de um possível ataque por parte de onças) "Não vai escapar ninguém - nem Tia Nastácia, que tem carne preta", ou "E aves, desde o negro urubu fedorento até essa joia de asas que se chama beija-flor". Muita gente diz que contextualizar a presença no texto de trechos e expressões como essas seria menosprezar a inteligência de nossas crianças, que entenderiam imediatamente que não se faz mais isso, que a nossa sociedade se transformou e que atitudes assim são condenáveis. Aos que pensam assim, seria importante também levar em conta que "macaco", "carvão", "urubu" e "fedorento" ainda são xingamentos bastante usados contra os negros, inclusive em "inocentes brincadeiras" infantis durante os recreios nas nossas escolas por esse Brasil afora. E não apenas nas escolas, pois também são ouvidos nas ruas, nos ambientes de trabalho, nos estádios de futebol, nas delegacias de polícia e até mesmo nos olhares dos que pensam assim mas que, por medo da lei, não ousam dizer. Apesar disso, em reconhecimento ao importante caráter literário da obra de Monteiro Lobato, optou-se por sugerir que a obra fosse contextualizada e somente adotada por educadores que tenham compreensão dos processos geradores do racismo brasileiro. Como se fosse um problema fácil de compreender.

Pensando aqui com meus botões, sou capaz de me lembrar de inúmeras obras infanto-juvenis que valorizam o negro e tratam racismo com a seriedade e o respeito que o assunto merece, e que foram editadas principalmente depois da Lei 10.639/03, que inclui nos ensinos fundamental e médio a História e a herança africanas. Posso estar errada, mas me parece que Caçadas de Pedrinho entrou para o Programa Nacional Biblioteca da Escola antes disso; sendo o contrário, pela lei, nem deveria ter entrado. Há maneiras muito mais saudáveis, responsáveis e produtivas de se levar o tema para dentro da escola sem ter que expor as crianças ao fogo para lhes mostrar que queima; e sem brigada de incêndio por perto. Isso é maldade, ou desconhecimento de causa.

A causa - a luta pela igualdade de oportunidades no Brasil - Vou relembrar apenas fatos dos períodos mais recentes, que talvez tenham sido vividos e esquecidos, ou simplesmente ignorados, pela maioria das pessoas que hoje brada contra o "politicamente correto" da esquerda brasileira. Um breve histórico das últimas três décadas e meia:

1984 - o governo do General João Batista de Oliveira Figueiredo decreta a Serra da Barriga, onde tinha existido o Quilombo dos Palmares, como Patrimônio Histórico Brasileiro, num ato que reconhece, pela primeira vez, a resistência e a luta do negro contra a escravidão.

1988 - Durante as comemorações pelo Centenário da Abolição, o governo de José Sarney cria a Fundação Cultural Palmares, vinculada ao Ministério da Cultura, que terá como meta apoiar e desenvolver iniciativas que auxiliem a ascensão social da população negra. Ainda nesse ano é promulgada a nova Constituição que, no seu artigo 5º, XLII, reconhece o racismo como crime inafiançável e imprescritível, ao mesmo tempo em que abre caminho para se estabelecer a legalidade das ações afirmativas, ao legislar sobre direitos sociais, reconhecendo os problemas de restrições em relação aos portadores de deficiências e de discriminação racial, étnica e de gênero.

1995 - durante o governo de FHC adota-se a primeira política de cotas, estabelecendo que as mulheres devem ocupar 30% das vagas para as candidaturas de todos os partidos. Nesse mesmo ano, em novembro, acontece em Brasília a Marcha Zumbi contra o Racismo, pela Cidadania e a Vida, quando foi entregue ao governo o Programa de Superação do Racismo e da Desigualdade Racial, com as seguintes sugestões: incorporar o quesito cor em diversos sistemas de informação; estabelecer incentivos fiscais às empresas que adotarem programas de promoção da igualdade racial; instalar, no âmbito do Ministério do Trabalho, a Câmara Permanente de Promoção da Igualdade, que deverá se ocupar de diagnósticos e proposição de políticas de promoção da igualdade no trabalho; regulamentar o artigo da Constituição Federal que prevê a proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei; implementar a Convenção Sobre Eliminação da Discriminação Racial no Ensino; conceder bolsas remuneradas para adolescentes negros de baixa renda, para o acesso e conclusão do primeiro e segundo graus; desenvolver ações afirmativas para o acesso dos negros aos cursos profissionalizantes, à universidade e às áreas de tecnologia de ponta; assegurar a representação proporcional dos grupos étnicos raciais nas campanhas de comunicação do governo e de entidades que com ele mantenham relações econômicas e políticas. Como resposta, em 20 de novembro de 1995, Fernando Henrique Cardoso cria, por decreto, o Grupo de Trabalho Interministerial - GTI - composto por oito membros da sociedade civil pertencentes ao Movimento Negro, oito membros de Ministérios governamentais e dois de Secretarias, encarregados de propor ações de combate à discriminação racial, promover políticas governamentais antidiscriminatórias e de consolidação da cidadania da população negra e apoiar iniciativas públicas e privadas com a mesma finalidade.

Como base para o GTI foram utilizados vários tratados internacionais, como a Convenção n.111, da Organização Internacional do Trabalho - OIT, assinada pelo então presidente Costa e Silva naquela fatídico ano de 1968, no qual o país se comprometia, sem ter cumprido, a formular e implementar políticas nacionais de promoção da igualdade de oportunidades e de tratamento no mercado de trabalho. Somente após pressão e protestos da sociedade civil e da Central Única dos Trabalhadores, é então criado o Grupo de Trabalho para Eliminação da Discriminação no Emprego e na Ocupação - GTEDEO, composto por representantes do Poder Executivo e de entidades patronais e sindicais, também no ano de 1995.

1996 - A recém criada Secretaria de Direitos Humanos lança, em 13 de maio, o Programa Nacional de Direitos Humanos - PNHD, que tinha entre seus objetivos "desenvolver ações afirmativas para o acesso dos negros aos cursos profissionalizantes, à universidade e às áreas de tecnologia de ponta", "formular políticas compensatórias que promovam social e economicamente a comunidade negra" e "apoiar as ações da iniciativa privada que realizem discriminação positiva".

2002 - no final do governo de Fernando Henrique Cardoso foi lançado o II Plano Nacional de Direitos Humanos, que reconhece os males e os efeitos ainda vigentes causados pela escravidão, então tratada como crime contra a humanidade.

2003 - o governo de Luiz Inácio Lula da Silva promulga o decreto que reconhece a competência do Comitê Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial - CERD, para analisar denúncias de violação de direitos humanos, como previsto no art. 14 da Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, de 7 de março de 1966. Também em 2003 é criada a Secretaria Especial de Política de Promoção da Igualdade Racial - SEPIR e, subordinada a ela, o Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial - CNPIR, visando apoio não apenas à população negra, mas também a outros segmentos étnicos da população brasileira, combatendo o racismo, o preconceito e a discriminação racial, e tendo como meta reduzir as desigualdades econômica, financeira, social, política e cultural, envolvendo e coordenando o trabalho conjunto de vários Ministérios. Nesse mesmo ano também é alterada a Lei 9.394, de 1996, que estabelece as diretrizes da educação nacional, para, através da Lei 10.639/03, incluir no currículo dos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, segundo seu artigo 26-A, I, "estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil."

2010 - entra em validade o Estatuto da Igualdade Racial que, entre outras coisas, define o que é discriminação racial ("distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em etnia, descendência ou origem nacional"), desigualdade racial ("situações injustificadas de diferenciação de acesso e oportunidades em virtude de etnia, descendência ou origem nacional"), e regula ações referentes às áreas educacional, de propriedade rural, comunidades quilombolas, trabalhista, cultural, religiosa, violência policial etc.

A "caçada" a Caçadas de Pedrinho - Acima estão apenas alguns dos "melhores momentos" da luta contra o racismo e a desigualdade. Há vários outros que deixo de fora por não estarem diretamente ligados ao caso. Eu quis apenas mostrar que o parecer do MEC não é baseado em mero capricho de um cidadão que se sentiu ofendido pelas passagens racistas de Caçadas de Pedrinho, mas conta com o respaldo legal, moral e sensível de ativistas e educadores que há anos estão lutando para estabelecer políticas que combatam o racismo e promovam a formação não apenas de alunos, mas de cidadãos.

Em junho de 2010, o Sr. Antônio Gomes da Costa Neto (Técnico em Gestão Educacional da Secretaria do Estado da Educação do Distrito Federal, mestrando da UnB em Educação e Políticas Públicas: Gênero, Raça/Etnia e Juventude, na linha de pesquisa em Educação das Relações Raciais) encaminhou à SEPPIR denúncia de conteúdo racista no livro Caçadas de Pedrinho. A SEPPIR, por sua vez, achando a denúncia procedente, protocolou-a no Conselho Nacional de Educação. Foi providenciado um parecer técnico, por pedido da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD/MEC), realizado pela técnica Maria Auxiliadora Lopes, que é subcoordenadora de Educação Quilombola do MEC, e aprovado pelo Diretor de Educação para a Diversidade, Sr. Armênio Bello Schimdt. O parecer técnico diz assim:

"A obra CAÇADAS DE PEDRINHO só deve ser utilizada no contexto da educação escolar quando o professor tiver a compreensão dos processos históricos que geram o racismo no Brasil. Isso não quer dizer que o fascínio de ouvir e contar histórias devam ser esquecidos; deve, na verdade, ser estimulado, mas há que se pensar em histórias que valorizem os diversos segmentos populacionais que formam a sociedade brasileira, dentre eles, o negro."

Em outro momento:

"Diante do exposto, conclui-se que as discussões pedagógicas e políticas e as indagações apresentadas pelo requerente ao analisar o livro Caçadas de Pedrinho estão de acordo com o contexto atual do Estado brasileiro, o qual assume a política pública antirracista como uma política de Estado, baseada na Constituição Federal de 1988, que prevê no seu artigo 5º, inciso XLII, que a prática do racismo é crime inafiançável e imprescritível. É nesse contexto que se encontram as instituições escolares públicas e privadas, as quais, de acordo com a Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), são orientadas legalmente, tanto no artigo 26 quanto no artigo 26A (alterado pelas Leis nº 10.639/2003 e nº 11.645/2008), a implementarem nos currículos do Ensino Fundamental e no Ensino Médio o estudo das contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro, especialmente as matrizes indígena, africana e européia, assim como a obrigatoriedade do estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena."

Não há censura, boicote ou banimento. O parecer técnico fala sobre orientação, contextualização, preparo do educador para trabalhar a obra na sala de aula. Ouvi pessoas bradando contra uma possível nota acrescentada ao livro, dizendo que isso em si já seria uma mordaça ou um desrespeito à obra de Lobato. Será que isso valeria também para a nota existente no livro, alertando as crianças que já não é mais politicamente correto atirar em onças? É assim:

"Caçadas de Pedrinho teve origem no livro A caçada da onça, escrito em 1924 por Monteiro Lobato. Mais tarde resolveu ampliar a história que chegou às livrarias em 1933 com o novo nome. Essa grande aventura da turma do Sitio do Picapau Amarelo acontece em um tempo em que os animais silvestres ainda não estavam protegidos pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA), nem a onça era uma espécie ameaçada de extinção, como nos dias de hoje." (p. 19).

Não que eu tenha nada contra as coitadas das onças, espécie ameaçada de extinção, mas será que as crianças não mereceriam também um pouco mais de consideração? O próprio Lobato, depois de ser acusado de ofender os camponeses com sua caracterização de Jeca Tatu como o responsável por sua própria miséria, reconhece o erro e pede desculpas públicas através do jornal O Estado de São Paulo, escrevendo também o mea-culpa que passaria a integrar a quarta edição de Urupês, em 1818: "Eu ignorava que eras assim, meu caro Tatu, por motivo de doenças tremendas. Está provado que tens no sangue e nas tripas um jardim zoológico da pior espécie. É essa bicharada cruel que te faz feio, molenga, inerte. Tens culpa disso? Claro que não".

Ou seja, o próprio Lobato, nesse caso, levou em consideração o que é dito em uma de suas frases mais citadas por quem quer demonstrar a importância dos livros na formação de uma sociedade: "Um país se faz de homens e livros". Não devemos nos esquecer que, tanto na frase como no ato citado acima, ele coloca o homem em primeiro lugar.

Outras contextualizações - Não é a primeira vez que uma obra considerada clássica sofre críticas ou até mesmo revisões por causa de seu conteúdo racista. Aconteceu, por exemplo, com o álbum "Tintim no Congo", do belga Hergé. Publicadas a partir de 1930, as tirinhas reunidas nesse álbum contam as histórias de Tintim em um Congo ocupado pela Bélgica. Por parte de Hergé, a obra foi revisada duas vezes, a primeira em 1946 e a segunda em 1970, reduzindo o comportamento paternalista dos belgas e suavizando algumas características mais caricaturadas dos personagens negros. Para justificá-las, Hergé declarou que as tiras tinham sido escritas "sob forte influência da época colonial", chamando-as de seu "pecado da juventude". O álbum revisado é publicado hoje no Brasil pela Companhia das Letras, a mesma editora de Caçadas de Pedrinho, e traz a seguinte nota de contextualização: "Neste retrato do Congo Belga, hoje República Democrática do Congo, o jovem Hermé reproduz as atitudes colonialistas da época. Ele próprio admitiu que pintou o o povo africano de acordo com os estereótipos burgueses e paternalistas daquele tempo - uma interpretação que muitos leitores de hoje podem achar ofensiva. O mesmo se pode dizer do tratamento que dá à caçada de animais.”

Tintim na França - matéria reproduzida da France Presse e publicada na Folha de São Paulo, em 24/09/2007, conta que o O Movimento Contra o Racismo e pela Amizade entre os Povos (MRAP), uma das mais importantes organizações francesas contra o racismo, solicitou à editora Casterman que incluísse em suas edições de Tintim um alerta sobre o conteúdo e contra os preconceitos raciais. Outras organizações, como o Conselho Representante das Associações Negras (CRAN) já tinham se manifestado contra o álbum anteriormente, chegando a solicitar, inclusive, que a editora parasse de publicá-lo. Segundo Patrick Lozès, presidente da CRAN, "os estereótipos sobre os negros são particularmente numerosos" e "os negros são mostrados como imbecis e até mesmo os cachorros e os animais falam francês melhor".

Tintim na Inglaterra - em julho de 2007, depois de pronunciamento da Comissão Britânica pela Igualdade das Raças (BCRE), acusando o álbum de racista, uma das grandes redes de livrarias Britânicas resolveu passá-lo da prateleira de livros infantis para a prateleira de livros para adultos, reconhecendo que os congoleses são tratados como "indígenas selvagens parecidos com macacos e que falam como imbecis". Alguns anos antes, a editora britânica de Tintim no Congo, a Egmont, tinha se recusado a editar o álbum, voltando atrás por pressão de leitores, mas publicando-o com uma tarja de advertência sobre seu conteúdo ofensivo.

Tintim na Bélgica - um congolês, estudante da Universidade Livre de Bruxelas, entrou na justiça belga com queixa-denúncia e solicitação para que o álbum fosse retirado de circulação.

Tintim nos Estados Unidos - o álbum Tintim no Congo foi retirado das prateleiras da Biblioteca do Brooklyn, em Nova York, ficando disponível apenas para consulta solicitada.

Adaptações e a integridade de um clássico - Creio que alguns dos que hoje exaltam a genialidade do escritor Monteiro Lobato podem não tê-lo lido de fato, conhecendo seu universo através das diversas adaptações de suas obras para a televisão. Esses, com certeza, conhecem uma versão completamente filtrada do conteúdo dos livros; e seria interessante ficarem atentos os que reclamam de censura e de ditadura do politicamente correto. Segundo matéria do Estado de São Paulo em 01/11/2010, uma parceria entre a produtora Mixer e a Rede Globo levará ao ar em outubro de 2011 uma temporada em animação de 26 episódios baseada no Sítio do Picapau Amarelo. Em entrevista ao jornal, o diretor executivo da Mixer contou que "resquícios escravocratas em referência a Tia Nastácia serão eliminados da versão". Outra mudança, segundo ele, é em relação ao pó de pirlimpimpim: "No original, eles aspiravam o pó e 'viajavam'. Na versão dos anos 80, eles jogavam o pó uns sobre os outros. Ainda não decidimos como será agora".

Ou seja, desde que foi para a televisão, a obra de Monteiro Lobato tem sido adaptada, suavizada, contaminada pelo "politicamente correto". Talvez seja essa a "lembrança" de boa parte dos que dizem não ver racismo na obra de Lobato. Não seria o caso de brigar para que as referências racistas sejam mantidas, porque assim os pais também podem discutir racismo com os filhos que assistem TV Globinho? Ou que o pó de pirlimpimpim volte a ser cheirado para que as crianças, em contato com uma possível incitação ao consumo de drogas e sem nenhuma orientação, descubram por si só que aquilo é errado? Ou é ilegal, como também o é a adoção no Programa Nacional Biblioteca da Escola de obras que não obedeçam ao critério de ausência de preconceitos e estereótipos ou doutrinações.

Mesmo assim, o MEC pede apenas um preparo do educador, uma nota explicativa, uma contextualização. E as pessoas, principalmente as brancas, dizem que não pode, que é um absurdo, um desrespeito com o autor. Desrespeito maior é não se colocar no lugar das crianças negras matriculadas no ensino público médio e fundamental, é não entender que uma nota explicativa que seja, uma palavrinha condenando o que nela causa tanta dor, pode não fazer diferença nenhuma na vida de adultos, brancos, classe média ou alta e crianças matriculadas em escolas particulares; mas fará uma diferença enorme nas vidas de quem nem é levado em conta quando se decide sobre o que pode ou não pode ferir seus sentimentos. Desrespeito é não reconhecer que o racismo nos divide em dois Brasis; um que se fosse habitado só por brancos (ricos e pobres), ocuparia o 30º lugar no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), e cairia para 104º lugar se fosse habitado só por negros (ricos e pobres). Ainda pretendo escrever um texto sobre manifestações de racismo na escola e sua influência nos primeiros anos de vida e de educação de brancos e negros. Mas, por enquanto, para quem chegou até aqui e continua achando que não há nada demais em expressões como "macaca de carvão", "urubu fedorento", "beiço", "carne preta", seja nos dias de hoje ou nos dias de escravidão, deixo apenas uma frase que poderia ter sido dita por outro personagem negro de Monteiro Lobato: "O vício do cachimbo deixa a boca torta".

Ana Maria Gonçalves, negra, escritora, autora de Um defeito de cor 20 de novembro de 2010 - Dia da Consciência Negra

PS: Fonte da imagem.

Escrito por Idelber às 02:35 | link para este post | Comentários (94)

Comentários

#1

O texto é excelente e não pretendia escrever nenhum comentário, mas como ninguém o comentou ainda, aproveito para fazer uma pequena observação. Na passagem “Tente se colocar sob a pele de uma criança judia numa sala de aula na Alemanha dos anos 30 e ouça, por exemplo, comentários preconceituosos em relação ao nazismo”, parece-me que houve um equívoco. Ao invés de “ao nazismo”, não seria “ao judaísmo”, “ao povo judeu” ou “aos judeus”?

Abraços, Idelber e Ana!

Fabiano Camilo em novembro 20, 2010 2:25 AM


#2

Gracias, Fabiano, corrigido!

Idelber em novembro 20, 2010 2:29 AM


#3

Extraordinário. O melhor texto que li sobre este caso, até agora. Emoção junto com argumentação impecável. E olha que houve outros textos muito bons, como o seu, Idelber. Gostaria muito de fazer contato com a autora, seria possível?

Helion em novembro 20, 2010 2:51 AM


#4

Ana, absolutamente brilhante, como sempre. :)

Lucia Malla em novembro 20, 2010 2:53 AM


#5

lindo, lindo, lindo.

uma coisa q sempre pergunto é: se os indignados acham q não são os educadores q tem que decidir o que se ensina em sala de aula, quem eles acham que tem que ser??

e a resposta que vou usar sempre agora é: essa discussão não é sobre vc, sobre suas leituras preferidas, sobre suas lembranças de infância, mas sobre o futuro que queremos criar pro brasil. nós também somos do nosso tempo.

deixa eu dizer de novo. lindo, lindo, lindo.

alex castro em novembro 20, 2010 2:55 AM


#6

Sim, Helion, é possível. Ana manteve um blog durante tempos, que ainda está no ar. Há um email para comunicação com ela lá.

Idelber em novembro 20, 2010 2:56 AM


#7

Muito obrigado, Idelber. O texto me tocou muito, mas é tão pessoal que só dizendo diretamente a ela.

Helion em novembro 20, 2010 3:03 AM


#8

Eu me considero, de fato, uma pessoa com uma excelente relação com a diferença. Esforço diário de anos que se converte a cada dia em uma maior lucidez. Mas devo admitir que sempre que ouvia essa história de proibir Monteiro Lobato na escola via como mais uma hipocrisia do politicamente correto, como aquela coisa equivocada de 'não atire o pau no gato-to' (como se a criança tivesse que ser apartada de qualquer influência nociva à construção de seu caráter.) Acho que o politicamente correto muitas vezes esconde o pior do incorretos. Detesto essas simplificações. No entanto, a clareza de seu texto, a inteligência, a sensibilidade no apresentar das situações, a delicadeza para me propor um confrontamento com meus valores, me fez ir além da defesa rasa de um autor que antes fazia. Concordo com tudo o que você disse; agradeço pela chance de me pôr em dúvida de maneira tão concreta e válida. Obrigada mesmo.

Isabela em novembro 20, 2010 3:24 AM


#9

Esse texto está muito bom. Parabéns à autora.

Bruno Marcondes em novembro 20, 2010 4:24 AM


#10

"não é sobre vc". é exatamente isso. emocionante o texto.

Yla em novembro 20, 2010 5:05 AM


#11

Definitivo.

Roberson em novembro 20, 2010 6:21 AM


#12

Brilhante! Perfeito!

fm em novembro 20, 2010 8:38 AM


#13

Lindo texto, Ana, muito obrigada por colocar de forma tão clara o sentimento que tive desde a primeira vez que li alguém bradando contra a "censura" a Lobato.

No tuiter e em caixas de comentários eu apenas pedia: "pegue o livro e tente ler para uma criança negra...se você conseguir, então, tá bom, vamos liberar a coisa toda!" Ninguém me respondeu.

Novamente, obrigada!

aiaiai em novembro 20, 2010 8:51 AM


#14

Ana, texto lindo cristalino, completo e complexo. Obrigadíssima. Sobre a contextualização e adaptação, lembrei de um tititi que aconteceu na minha infância, anos 60. Meus pais tinham comprado uma edição das Mil e Uma Noites, minha irmã começou a ler com uma amiga. Até que um dia a amiga pergunta para a mãe: o que quer dizer "amante"? A mãe quer saber onde ela tinha ouvido essa palavra. Resumo da ópera é que a versão que meus pais tinham adquirido não era adaptada para crianças e já começa contando que o príncipe matou sua mulher e todas as outras do harém pq voltou de uma caçada mais cedo e encontrou o mulherio, os eunucos e escravos na maior orgia. Depois disso passamos a ler a versão do Malba Tahan!

Marcia W. em novembro 20, 2010 9:16 AM


#15

lindo o texto! argumentos impecáveis. o exercício de colocar-se no lugar do outro é dos mais difíceis e também dos mais necessários, sem o qual não há ética.

muito obrigada!!!

ana lucia vilela em novembro 20, 2010 9:41 AM


#16

Texto maravilhoso e mais uma vez fica DITO que a falta de conhecimento é fonte principal de todo preconceito.Antes de dizer sim ou não é preciso querer entender.

Aléxia R M R em novembro 20, 2010 10:10 AM


#17

Texto maravilhoso e mais uma vez fica DITO que a falta de conhecimento é fonte principal de todo preconceito.Antes de dizer sim ou não é preciso querer entender.

Aléxia R M R em novembro 20, 2010 10:10 AM


#18

Ana

Parabéns e obrigado!

rabbit em novembro 20, 2010 10:39 AM


#19

Texto absolutamente perfeito. Na mosca. Todos os babacas que andaram ironizando o MEC, sem nunca ter lido ML, deveriam receber este míssil certeiro.Ponto final. Assunto encerrado.

Maurício em novembro 20, 2010 10:43 AM


#20

Qualquer texto, seja de quem for, contendo citações racistas, homofobicas,tem de ser mantido longe de todos, muito mais de crianças.

mauro belato em novembro 20, 2010 10:45 AM


#21

Texto excelente, com argumentação e fundamentação. Jogou luz num tema que vem sendo debatido muitas vezes de forma irracional. O caso não de desrespeito a um autor tão importante em nossa literatura, e sim, como dito no texto, de contextualização. Veio ao encontro do que estava escrevendo hoje e tomei a liberdade de fazer um link.

Parabéns!

Ursula Burgos em novembro 20, 2010 10:50 AM


#22

Brilhante! Analise lucida e emocional em equilibrio perfeito. Alèm disso, o que dizer? Parabéns!

Flavio Prada em novembro 20, 2010 11:31 AM


#23

Que lindeza de texto: mil obrigados à Ana!

Cleber em novembro 20, 2010 11:59 AM


#24

Sempre defendi que o parecer não é censura e que, sim, existe racismo em Lobato. Acredito que a questão é complexa e deve ser tratada em sala de aula por profissionais bem preparados; para tanto, há que haver investimentos na formação dos profissionais de educação em serviço. Entretanto, tão nociva quanto a postura de quem nega o racismo no texto e evoca censura no parecer é o posicionamento 'caça às bruxas' que andei observando nessas semanas, como se 'queimar' os livros do Lobato, transformá-lo em judas e malhá-lo em praça pública resolvesse esse 'imbroglio'. Obrigada pelo texto objetivo, direto, bem fundamentado e transbordante de emoção. Só alguém com muito talento poderia fazê-lo.

cris em novembro 20, 2010 12:23 PM


#25

Linkado, recomendado. Obrigatório. Valeu muito.

Rita

Rita em novembro 20, 2010 12:24 PM


#26

Ana, estou arrepiada verdadeiramente. Texto magistral. Vou divulgá-lo.

Katia Motta em novembro 20, 2010 12:36 PM


#27

Gostaria de pedir a permissão do Idelber para repassar o texto para minha lista de discussão de profissionais de estudos de linguagem, o CVL. Andei lendo coisas de arrepiar por lá e acho que o texto da Ana Maria viria a calhar. Tomo a liberdade de reproduzir aqui uma das coisas que li:

"Não existe "racismo" em literatura, nem na mais realista, porque a literatura não é o lugar de opiniões de autores, mas de representação transfigurada da realidade social e histórica. Claro que o fato social de poucas serem as personagens mulheres negras reflete a imagem (e a realidade)social destas, mas não constitui racismo, uma vez que a literatura tem de ser abordada de acordo com seus "protocolos", que não admitem tomar o tratamento de realidades nos obras como tratados, opiniões etc. Como eu já disse aqui, Caim, do Saramago, não tem nada a ver com as opiniões do Saramago sobre a obra. Um autor pode ser punido pela lei se tiver atitudes racistas, mas não porque descreveu o racismo em suas obras. Há umas teorias literárias modernas que a meu ver transformam a literatura em documento histórico, o que ela definitivamente não é. Teremos de lutar agora pela volta ao básico, quem sabe ao conceito de mimesis ou coisa assim? Temo mais a demagogia de colocar essas personagens num papel que não costuma ser o delas na sociedade (com exceções, claro) do que o de refletir literariamente essa realidade. Se a moda de ver a literatura de modo tão redutor pegar, praticamente não haverá o que ler, porque a literatura traz as mais diversas formas de preconceito, e perversões, assim como as coisas mais sublimes da vida humana. Discordo de : "Quando uma personagem fala, ela adquire poder, faz com que o leitor siga pela perspectiva da mulher negra".", porque é uma visão mágica da língua e da realidade, reduzindo a leitura literária a uma mera identificação com personagens. O preconceito está instalado alhures. E o bom de tudo isso é que se volte a discutir o preconceito, justamente para erradicá-lo."

Não coloquei o nome do autor para não expor a pessoa, mas fiquei meio chocada com o argumento. Parece que o autor está 'torcendo' demais os fatos para poder justificar sua posição.

cris em novembro 20, 2010 12:38 PM


#28

Perfeito! Acabei de ler o texto. Aí meu pai chegou com a última Veja (edição 2191 - 17 de novembro). Alguém já leu? Na página 128: ''Caça à inteligência - Lida por gerações de crianças brasileiras, a obra de Monteiro Lobato sofre o cerco das patrulhas ideológicas que aparelharam o governo. Os vigilantes da correção étnica consideram Caçadas de Pedrinho racista''.

Links da matéria: http://bit.ly/drY9y2 http://bit.ly/9CVpMq http://bit.ly/br9JqQ

mariana carvalho em novembro 20, 2010 12:45 PM


#29

Neste Dia da Consciência Negra, tô lendo seu texto, Ana, e lembrando de muitos dos meus amigos que lutaram contra este racismo e hoje não estão mais aqui pra ver que a luta deles, e de tantos outros negros, já nos fez avançar muito, tanto que podemos ter hoje esse tipo de discussão. Vejo na minha cidade, tão negra, a violência da discriminação. No dia a dia, nos pontos de ônibus, nas ruas, nos jornais, nas abordagens da polícia. Outro dia uma mãe de santo foi presa num assentamento e colocada num formigueiro porque estava incorporada pelo orixá. Em Itapuã, dois garotos de uma banda de rap foram assassinados faz pouco tempo por policiais quando voltavam do Abaeté. Os policiais, negros como eles, vindos das mesmas escolas públicas, são também vítimas dessa educação que, ao não discutir questões como estas, não faz seu papel de combater o racismo. Mas estamos avançando. Hoje Monteiro Lobato não poderia escrever isso. E essas meninas e meninos negros têm mais armas pra lutar. Como não sentir orgulho de sua origem com uma poesia como Alegria da Cidade? Na bela voz de Lazo Matumbi, então, nosso céu é todo blue e o mundo é um grande gueto... Alegria da Cidade Lazzo Matumbi (de Lazzo e Jorge Portugal) A minha pele de ébano é A minha alma nua Espalhando a luz do sol Espelhando a luz da lua Tem a plumagem da noite E a liberdade da rua Minha pele é linguagem E a leitura é toda sua Será que você não viu Não entendeu o meu toque No coração da América eu sou o jazz, Sou o rock Eu sou parte de você Mesmo que você me negue Na beleza do afoxé Ou no balanço no reggae Eu sou o sol da Jamaica Sou a cor da Bahia Eu sou você (sou você) E você não sabia Liberdade Curuzu, Harlem, Palmares, Soweto Nosso céu é todo blue e o mundo é um grande gueto Apesar de tanto não tanta dor que nos invade Somos nós, a alegria da cidade Apesar de tanto não tanta marginalidade Somos nós, a alegria da cidade

Socorro em novembro 20, 2010 12:55 PM


#30

Uma boa síntese do debate, com alguns cochilos graves. É óbvio que o paralelismo sugerido entre a situação de uma criança negra no Brasil de hoje e a situação de uma criança judia na Alemanha nazista é absolutamente disparatado e ofensivo, mas já estou me acostumando a descontar os abusos retóricos que aparecem no debate público. De qualquer forma, a contextualização da discussão foi bem feita e era necessária.

Rafael em novembro 20, 2010 1:12 PM


#31

Texto perfeito!!

Resumiu e fechou uma questão ao mesmo tempo tão importante e cercada de mal entendidos de forma incisiva, sensível e mt bem fundamentada.

Parabéns, Ana Maria!!

E um bom Dia da Consciência Negra a tds!!

Letícia Castro em novembro 20, 2010 1:22 PM


#32

Subscrevo as palavras de Isabela. Obrigada, Ana e Idelber, pelo texto esclarecedor.

carol em novembro 20, 2010 1:50 PM


#33

Ana, minha emoção ao ler seu texto não me permite escrever muito. Eu só posso dizer que chorei. De vergonha pelos meus antepassados e tantos contemporâneos brancos, de orgulho de meus amigos negros, de emoção pela força e dignidade de sua postura, de admiração ainda maior por você, através destas palavras. Um beijo enorme, todo o meu respeito e carinho.

Ana Paula Medeiros em novembro 20, 2010 2:04 PM


#34

A frase "Se você não é parte do problema, nem como negro nem como racista, por que se colocar no centro da discussão?" me soa como a chave para entender a violência da reação. Porque a gritaria que se fez, vinda de gente que sequer leu o parecer (e que às vezes parece não ter lido "As Caçadas de Pedrinho" também) indica bem onde está a questão. Mostra, principalmente, como as relações de raça são um dos campos de batalha mais férteis que se tem hoje no Brasil.

A reação conservadora, reação que abarca desde um acadêmico como Demétrio Magnoli até um senador como Demóstenes Torres, com apoio integral da grande mídia, é uma demonstração tanto da importância da luta quanto de quem está vencendo. Eles já sequer conseguem defender suas posições sem cair no ridículo ou no absurdo (vide o discurso de Demóstenes na audiência pública sobre as cotas raciais nas universidades).

A matéria de Veja (linkada pela mariana acima) é um exemplo acabado de um tipo de distorção mais sofisticada. Primeiro, mas isto é uma doença típica da Veja que perdura por décadas já, o uso indiscriminado de adjetivos para atacar a honra, não os argumentos, do adversário. Segundo, naturalizar o racismo de Lobato considerando que qualquer leitura diferente da leitura conservadora é "falsear a história" e "higienizar a linguagem". Para alguém que logo em seguida vai acusar os seus alvos de terem lido Derrida de forma "torta", a expressão "higienizar a linguagem" soa quase irônica. O quadro (que o autor diz ser uma paródia, e aqui nós rimos de sua ingenuidade: uma paródia que precisa ser explicitada como tal ainda é uma paródia?) também é exemplar: comparar incomparáveis é uma das melhores armas na discussão. Alguém manda o 6º ano ler "O Mercador de Veneza"?

Mas chega, já falei demais. Maravilhoso, este texto, Ana. Acho que ninguém escreveu nada melhor sobre isto. De longe.

Paulo Candido em novembro 20, 2010 2:41 PM


#35

Se aqui fosse o Facebook eu colocaria um 'curtir' ao lado do comentário do Paulo Candido =)

cris em novembro 20, 2010 2:51 PM


#36

Parabéns, Ana, pelas palavras fortes e esclarecedoras. Adorei seu texto!

Eloí em novembro 20, 2010 2:57 PM


#37

Como negro e como fã de Monteiro Lobato, só me resta dizer que o texto de Ana Maria Gonçalves simplesmente lavou a minha alma! Obrigado, Professor Avelar!

Claudio Roberto Basilio em novembro 20, 2010 3:31 PM


#38

É isso, Ana. Nem uma palavra a acrescentar nem retirar. Continue nos ensinando: o dom da palavra clara, serena e destemida, em você, é missão. Um beijo agradecido. Fico ainda mais orgulhosa de ser sua amiga!

Maria Valéria Rezende em novembro 20, 2010 3:33 PM


#39

Agradecimentos todos à Ana e só a ela, per favore. Eu só apertei Ctrl + C/ Ctrl + V =)

Idelber em novembro 20, 2010 3:35 PM


#40

Bah. Ana 10 x 0 Veja. Debate público 10 x 0 Indigação privada. Acho que depois dessa, esses jornalistas da Veja vão ter vergonha de existir. Ou não, né. Eles não têm vergonha de nada.

Valdir em novembro 20, 2010 3:50 PM


#41

Acho que ja tinha uns 2 anos que nao voltava aqui, ate que vi um link no twitter sobre este assunto, que me é muito caro.

Parabéns pelo texto, que é, sem dúvida alguma, de utilidade pública.

E a luta continua!

Katia Santos em novembro 20, 2010 4:38 PM


#42

Off Topic. Vi pelo site do Nassif e excelente video com matéria do programa "Listening Post' da Al Jazeera em inglês sobre como a mídia no Brasil se comportou durante as eleições a presidente em 2010, e como as "farsas" passaram a ser desmontadas através da Internet. Como meu "ingrês" é fraco, e o nosso querido Idelber apareceu num dos takes, sugiro que alguém consiga as legendas e nos brinde com esse presente. Eis o link: http://www.youtube.com/watch?v=iTo_kuKwYVc&feature=player_embedded

Geraldo Chaves em novembro 20, 2010 4:48 PM


#43

Brilhante, Ana! E obrigada, obrigada, obrigada!

Daniele em novembro 20, 2010 4:52 PM


#44

Muito bom, linkei também no meu blog. Só queria comentar que fico muito feliz de lembrarem do caso do Tintim, porque assim que essa história do Monteiro Lobato começou, lembrei dessa história, porque lembro da minha indignação ao ler, já adulta, o "Tintim no Congo". E tenho a impressão de que na França o debate foi mais maduro, sem essa falar em censura - mas é claro que o fato de o autor estar vivo e fazer "mea culpa" colaborou pra isso também, sem dúvida.

Iara em novembro 20, 2010 4:55 PM


#45

Muito bom, linkei também no meu blog. Só queria comentar que fico muito feliz de lembrarem do caso do Tintim, porque assim que essa história do Monteiro Lobato começou, lembrei dessa história, porque lembro da minha indignação ao ler, já adulta, o "Tintim no Congo". E tenho a impressão de que na França o debate foi mais maduro, sem essa falar em censura - mas é claro que o fato de o autor estar vivo e fazer "mea culpa" colaborou pra isso também, sem dúvida.

Iara em novembro 20, 2010 4:56 PM


#46

Texto perfeito. Faltou apenas mencionar o Decreto nº 4.887, de 20 de novembro de 2003, um cujo artigo segundo “consideram-se remanescentes das comunidades dos quilombos, para os fins deste Decreto, os grupos étnico-raciais, segundo critérios de auto-atribuição, com trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida”. Do Decreto resultou, em 2004, o Programa Brasil Quilombola (PBQ) como uma política de Estado para as áreas remanescentes de quilombos. O decreto sofre processo no Supremo Tribunal Federal. A ação é movida pelo partido Democratas.

Araquem em novembro 20, 2010 6:05 PM


#47

não é por nada..mas quem leu mesmo Monteiro Lobato sabe bem... maltratado mesmo são...os médicos. Se for proibir os contos em que eles são mostrados como os maiores vilões da sociedade, nao sobra quase nada...

A mosca da sopa em novembro 20, 2010 6:13 PM


#48

Minhas lágrimas, literalmente, pularam. A questão da alteridade, tão bem abordada pela Ana Maria, é muito falada na academia e deveria ser mais praticada. Texto brilhante! Já compartilhei também...

Luciana Mesquita em novembro 20, 2010 6:34 PM


#49

Parabéns,texto de leitura fácil.Gostei muito.Estou aprendendo,muito bom aprender com professores tão lúcidos,inteligentes.

marilda em novembro 20, 2010 6:41 PM


#50

é...fazendeiro, advogado, paulista...parece que o bom e velho JBML nao passava mesmo de, tipo assim, uma mayara petruso que escrevia bem...

Genital Lacerda em novembro 20, 2010 7:06 PM


#51

Idelber,

Li Cidades Mortas em idade já avançada e fiquei estupefato com o racismo explícito do autor. Eu já tinha um pé atrás em relação a ele devido sua oposição ao Movimento Modernista, de quem sempre fui fã (minha filha se chama Tarsila em homenagem à Tarsila do Amaral). Por isso, foi com curiosidade que li "A Barca de Gleyre", para saber o que ele dizia em correspondência particular o que pensava dos Modernistas. Mas, para minha surpresa, ele ignorou a Semana de Arte Moderna de 1922 em sua correspondência com Godofredo Rangel. Agora, vou ler com curiosidade a correspondência dele com o negro Lima Barreto, um dos meus autores preferidos.

Lincoln Pinheiro Costa em novembro 20, 2010 8:17 PM


#52

Quando ouvi a noticai pela primeira vez, minha reacao foi ingenua> pensei imediatamente em Machado e na loucura que o politicamente correto pode virar. Meu filho, que [e mestico,de cara sacou o que ocorria, apontou a impossibilidade de tal assunto ser efetivamente discutido com qualidade, dentro das salas de aula brasileiras. Outro dia, em outro blog, li algo sobre Mark TWain e foi ai que realmente caiu a ficha pra mim. Quando oi Tom Saywer percebi imediatamente a traducao de uma sociedade racista, ficou claro para mim, pois j[a era uma garota maior. mas li Monteiro Lobato crian;a. E o que [e muito, muito serio..NAO PERCEBI o racismo dele. Isso jamais teria me voltado a mente, caso nao estivesse sendo discutido. Eu era crianca, li e ...ACHEI ABSOLUTAMENTE NORMAL.

Isso j[a [e motivo suficiente pra deixar qq um de cabelo em p[e... a noramtizacao do racismo [e sua marma mais potente.

Vivien Morgato em novembro 20, 2010 8:30 PM


#53

Fantástico, por várias razões já observadas. Pena que não li o livro da autora. Mas suponho que o artigo, de forma ou de outra, seja pano de fundo desse trabalho. E um tremendo trabalho pois não é difícil de se ver, no tratamento todo do racismo, uma proposta política: a necessidade de reeducar-se o livre arbítrio, (uma liberdade que se faz, em mim, por exclusão das relações sociais totais).

E aqui, bem longe dos abstracionismos presentes nos rasos argumentos que vemos nas dementes Torres da vida, cabe afirmar a existência da contradição entre a ''liberdade'' de uns em oposição a liberdade dos outros.

Dai que se entendi o texto, as formas reduzidas que a ''liberdade'' de uns toma no interior da prática racista, antes de ser socialmente superada, demanda intervenção do Estado para gerar-se a liberdade dos outros.

Por seu turno, a conciliação dada pelos novos Direitos, gera a contradição entre a livre expressão do livre arbítrio, como liberdade de mercado e a liberdade dos outros, como liberdade total, a qual se quer mais concreta, pois liberdade da livre vontade pronta para uma nova ética.

Me parece que não temos como fugir desse tremendo programa que o artigo coloca em nosso colo. Fazer valer a ética que nos dota da livre vontade em superar os racismos. Grande abç. para autora.

Albério em novembro 20, 2010 8:33 PM


#54

Ana,

obrigada pelo texto lindo. É o mais completo, contextualizado e refletido que li sobre o tema. Um beijo.

Flávia Cera em novembro 20, 2010 9:54 PM


#55

Sobretudo para o Lincoln, mas para os outros tb: repito, Lobato é múltiplo. Acho que estao passando depressa demais de um acordo dado ao parecer -- com o que concordo em gênero, número e grau -- para uma condenaçao ampla de Lobato que é parcial. Sobre o racismo na obra infantil, jã falei do "outro lado" (mas nao estou dizendo que isso invalide esse texto da Ana e outros que apontaram para o efeito perverso da obra em crianças de hoje, sobretudo negras).

Agora quero responder ao Lincoln sobre a questao do modernismo. Lobato foi horrível com Anita Malfatti. Mas protegeu o escultor modernista Vitor Brecheret (o nome é esse? estou citando de memória), e, no exercício do poder de editor que ele teve, publicou e empregou os modernistas quase todos, a quem considerava "meninos geniais", mas com a cabeça em Paris... E é bom lembrar que Oswald reconheceu Lobato, especialmente na obra infantil, como um escritor modernista (nao me peçam fonte, li isso há muito tempo), o que efetivamente se justifica sob o ponto de vista da linguagem usada na obra.

Anarquista Lúcida em novembro 20, 2010 10:01 PM


#56

No caso em questão, a maior parte da direita brasileira - que é essa desgraça que escandaliza bolinhas de papel mesmo -, se usou do caso como factóide para bater, vejam só que coisa inédita, no Lula, aquele presidente analfabeto. Claro, paremos de hipocrisia minha gente, vocês não são contra política de censura - e talvez por isso tenham disparado o alarme onde não havia fogo. Por outro lado, parte da esquerda levantou a questão da risco de censura na base do arco reflexo mesmo, faltou um cadinho de pesquisa para a turma - e se não faltou isso, o pessoal só pode ter confundido feio o que é política pedagógica com o que é a questão da censura (colocada aqui em sentido bem elementar mesmo, esse item, claro, é coisa que dá pano para manga). O teu primeiro post sobre o assunto, Idelber já mata uma parte considerável da questão e acho que este artigo da Ana sepulta qualquer dúvida sobre a contenda - aliás, me apresenta um lado do Lobato que desconhecia.

P.S. Por falar em dia da Consciência Negra, infelizmente passei o dia quase todo sem Internet por aqui e não pude postar, mas aconteceu uma coisa bem triste na Faculdade onde eu estudo dia desses sobre a qual eu tenho de escrever.

Hugo Albuquerque em novembro 20, 2010 10:33 PM


#57

Concordo com um monte de coisas que você me fez ver, mas, ao mesmo tempo me pergunto: devemos implodir os prédios de arquitetura européia em nossas cidades porque eles representam uma história que devemos renegar? O renegar Monteiro Lobato, vai nos tornar menos escravagista do que fomos e que tornou nossa sociedade isto que aí está? Devíamos implodir o Pelourinho em Salvador também? Sou branca (eu acho, por ser brasileira, não tenho certeza se fora daqui seria considerada assim), da mesma forma por ser branca e brasileira, não me coloquei no lugar de criança ou adolescente negro, ou pardo ou até vermelho(os índios são vermelhos não é?) Fiquei confusa, história não deve ser mais ensinada nas escolas? O que nossa civilização viveu deve ser excluido para evitar o sofrimento das crianças?Não é ao contrário não? O que está errado deve ser mostrado para que não se repita?

Andrea em novembro 20, 2010 10:43 PM


#58

O inacreditável é que depois de um texto desse, muito, mas muito além do didático, talvez ainda precisasse que a autora escrevesse no final "Quer que desenhe?".

Muitos parabéns à autora. Pena que muitos dos críticos tenham preguiça de ler um texto razoavelmente longo, só manchetes espalhafatosas.

Cajueiro em novembro 20, 2010 11:37 PM


#59

O mesmo Monteiro Lobato cuja obra li na minha infância, e que faz parte, portanto, do meu imaginário, numa crítica severa e injusta, (desconhecia o novo rumo das artes visuais, ou simplesmente não o compreendia) praticamente acabou com a carreira de Anita Malfatti, tachando-a de esquizofrênica pelas obras produzidas depois de sua estada na Europa, e apresentadas na sua primeira exposição individual no Brasil. Num tempo de surto de bulling no país, talvez seja mais correto não fornecer “munição” às crianças, já que há tantos livros que não carregam esses estereótipos. Belo texto. Dia da Consciência Negra - 20.11.2010

SôniaG. em novembro 20, 2010 11:51 PM


#60

Este é o texto definitivo sobre o caso Monteiro Lobato e a suposta 'censura'. Matou a pau. E que todos leiam "Um defeito de cor", um livro que só não chegou ainda ao cinema nacional porque nego papou mosca. Parabéns!

João Marcelo em novembro 21, 2010 12:06 AM


#61

Interessante que o Figueiredo, que decreta a Serra da Barriga como patrimônio brasileiro, já fez um comentário explicitamente racista. No final do seu governo, desentendeu-se com a Glória Maria, repórter da TV Globo, e pediu a cabeça da moça ao "Dr." Roberto Marinho referindo-se a ela como "macaca". Vazou na época. "Dr." Roberto, aliás, que passou pó-de-arroz no rosto até o fim da vida (segundo o seu capachildo Pedro Bial)...

Moco em novembro 21, 2010 12:30 AM


#62

Obrigada, Ana, pelo artigo tão necessário.

Angela-Lago em novembro 21, 2010 1:21 AM


#63

Em viagem, passei o dia longe do computador, e só agora pude voltar aqui com calma. Queria que todos que deixaram comentários, divulgaram, reproduziram etc se sintam individualmente agradecidos. Obrigada por fazerem ter valido a pena.

Obrigada, Fabiano, pela correção. Havia mais alguns errinhos, frutos da noite que passei sem dormir, escrevendo o texto antes de viajar. Se alguém encontrar mais algum, por favor, avise.

Queria também deixar um presente para vocês, esse texto fantástico do grande mestre Milton Santos, de 2003 mas sempre tão atual, e do qual destaco:

"Os interesses cristalizados produziram convicções escravocratas arraigadas e mantêm estereótipos que ultrapassam os limites do simbólico e têm incidência sobre os demais aspectos das relações sociais. Por isso, talvez ironicamente, a ascensão, por menor que seja, dos negros na escala social sempre deu lugar a expressões veladas ou ostensivas de ressentimentos (paradoxalmente contra as vítimas). Ao mesmo tempo, a opinião pública foi, por cinco séculos, treinada para desdenhar e, mesmo, não tolerar manifestações de inconformidade, vistas como um injustificável complexo de inferioridade, já que o Brasil, segundo a doutrina oficial, jamais acolhera nenhuma forma de discriminação ou preconceito."

Daqui:http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2003/11/268008.shtml

Ana em novembro 21, 2010 6:06 AM


#64

com tudo isso JBML inda é o autor mais subversivo num nivel muito mais profundo que todos os outros que vieram antes e depois - A Chave do Tamanho,entre outros, foi o que me ensinou a pensar sobre como as coisas todas podem ser de outro modo que não aquele a que estamos habituados. Mas como alguem disse antes de tudo ele era paulista, advogado e fazendeiro né?

a lesma lerda em novembro 21, 2010 7:48 AM


#65

vamos combinar uma coisa? antes de dar pitaco aqui que tal "neguinho" (e neguinha) sentar os gluteos na cadeira e ler Negrinha???? é o melhor libelo contra a crueldade escravagista da zelite brasileira escrito em nossa lingua em qualquer época.

genital lacerda em novembro 21, 2010 8:01 AM


#66

Este é um dos melhores textos que lí nos últimos dias. Não necessariamento pelos as informações que trazem, para muitos novas, mas por primeiro, ter a competência de fazer perceber a estratégia da mídia em deslocar a discussão, de forma covarde, para um ponto que não faz parte do debate; segundo, por apresentar propor uma estratégia percepção de realidade. Talvez fosse a ora de, como disse Lobato, vulgarizar estas idéias. Sim, não podemos deixar isso do jeito que foi colocado pela mídia racista.

Prof. CLaudemir em novembro 21, 2010 10:54 AM


#67

Sou negra e professora mas, penso diferente com relação aos fatos abordados.

Quanto mais houver a exaltação de pessoas pela cor de sua pele, seja para defender direitos ou para compensar perdas, mais a pessoa estaria sendo segregacionada.

Protestei sobre isso no twitter. http://twitter.com/iza_rs

Mesmo assim continuo lendo sobre o assunto. Achei este texto muito informativo mas, prefiro que as pessoas não sejam de nenhuma forma, distinguidas pela cor da pele.

É cada um fazendo sua história, individualmente reinvindicando seus direitos de cidadãos e nunca, mas nunca mesmo fazer-nos de coitados diante dos fatos.

Iza em novembro 21, 2010 11:00 AM


#68

Para Andreia (#57): talvez seja melhor você reler o texto da Ana. Ou fazer uma curso de interpretação de textos. No mais, Idelber, você já leu alguma repercussão sobre o último romance do Umberto Eco, cujo protagonista seria o autor do livro "Protocolos dos sábios de Sião"? Acho que dá também uma boa discussão.

Otto em novembro 21, 2010 11:19 AM


#69

Meu domingo, depois do Dia da Consciência negra ficou melhor depois de ler este texto. É tudo que penso. Vou espalhar por aí: entre amigos, alunos, filhos e etc. Maravilhoso!!!!!!!!!!!!!!

Georgina Martins em novembro 21, 2010 12:05 PM


#70

[Por que não querem brincar com ela]‘‘Porque sou preta. A gente estava brincando de mamãe. A Catarina branca falou: eu não vou ser tia dela (da própria criança que está narrando). A Camila, que é branca, não tem nojo de mim''. A pesquisadora pergunta: ‘‘E as outras crianças têm nojo de você?'' Responde a garota: ‘‘Têm''.

FEIRÃO DE AUTOMÓVEIS by Ramiro Conceição

Quando observo, no cruzamento, um PRETO fantasiado – de flecha, a indicar o “FEIRÃO DE AUTOMÓVEIS”, tenho a certeza de que esse nosso mundo não passa de um absoluto – achincalhe!

Ramiro Conceição em novembro 21, 2010 12:34 PM


#71

[Por que não querem brincar com ela]‘‘Porque sou preta. A gente estava brincando de mamãe. A Catarina branca falou: eu não vou ser tia dela (da própria criança que está narrando). A Camila, que é branca, não tem nojo de mim''. A pesquisadora pergunta: ‘‘E as outras crianças têm nojo de você?'' Responde a garota: ‘‘Têm''.

FEIRÃO DE AUTOMÓVEIS by Ramiro Conceição

Quando observo, no cruzamento, um PRETO fantasiado – de flecha, a indicar o “FEIRÃO DE AUTOMÓVEIS”, tenho a certeza de que esse nosso mundo não passa de um absoluto – achincalhe!

Ramiro Conceição em novembro 21, 2010 12:35 PM


#72

[Por que não querem brincar com ela]‘‘Porque sou preta. A gente estava brincando de mamãe. A Catarina branca falou: eu não vou ser tia dela (da própria criança que está narrando). A Camila, que é branca, não tem nojo de mim''. A pesquisadora pergunta: ‘‘E as outras crianças têm nojo de você?'' Responde a garota: ‘‘Têm''.

FEIRÃO DE AUTOMÓVEIS by Ramiro Conceição

Quando observo, no cruzamento, um PRETO fantasiado – de flecha, a indicar o “FEIRÃO DE AUTOMÓVEIS”, tenho a certeza de que esse nosso mundo não passa de um absoluto – achincalhe!

Ramiro Conceição em novembro 21, 2010 12:35 PM


#73

Deu pau na rede, Idelber...

Ramiro Conceição em novembro 21, 2010 12:40 PM


#74

Espetacular o texto. E, pelo visto, não fui o único a lembrar "O Presidente Negro".

Como você bem colocou, Ana, devemos ver o "problema" não com o nosso ponto de vista, mas sob a ótica de alguém que sofrerá de preconceito e ódio pelo (mau) uso de uma obra que, fora de contexto - ou, melhor, dentro do nosso contexto moderno - é racista.

Sou mestiço, mais branco do que negro. Nunca sofri preconceito pela cor da pele. Mas conheço muito bem essa realidade.

Na minha opinião, o povo brasileiro ou, na melhor das hipóteses, a dita elite brasileira, sofre de racismo crônico e de hipocrisia. Enquanto não encararmos esse assunto de frente, fica complicado.

Não se trata de "censurar" obras. O problema é: como contextualizá-las sem que elas se tornem munição para o racismo? Por muito menos já surgem as piadas de mau gosto e as humilhações. Também não se trata de canonizar os autores que, embora tivessem vivido em épocas diferentes, cultivavam coisas nefastas como eugenia e perseguição racial. Será que os educadores teriam condições de passar conceitos tão complexos para as crianças?

Por isso concordo em evitar essas e outras obras de Lobato, enquanto os jovens ainda não tiverem condições de entender o contexto dessas obras e os educadores ainda não estiverem preparados para utilizar de forma adequada tal conteúdo.

Não sou educador e nem consigo me colocar no lugar de uma criança negra. Entretanto entendo o sentimento de preconceito e discriminição pelas diferenças.

Mais uma vez, parabéns pelo excelente texto Ana e Idelber!

Abraços

Robson França em novembro 21, 2010 2:26 PM


#75

Simplesmente f*** o texto, Ana Maria. Não poderíamos esperar menos da autora do maravilhoso "Um defeito de cor". Vida longa e muita disposição para continuar combatendo brilhantemente o racismo.

Tiago Gregório em novembro 21, 2010 2:41 PM


#76

acho que o que merecia uma analise tão bem fundamentada é o modo como tantas Pollyanas caem das nuvens ao tomarem conhecimento da sordidez e escrotidão de nossa boa gente..letrados, psicanalizados e viajados parecem ter acabado de chegar de outro planeta...em que buraco mental estavam enfiados esses idiotas????

A mosca da sopa em novembro 21, 2010 2:46 PM


#77

"Esse é o tipo de texto que eu mereci ter levado na cara!" É claro que estou exagerando, o texto não tem nada de agressivo, mas é um super alerta: acorda! Li e reli TODA a coleção do Sítio do Picapau Amarelo. Desde os seis anos fez parte da minha vida e da minha paixão. No princípio, claro, era só a fantasia e uma vontade imensa de SER a Emília. Não me sentia discriminada e nem me doía seu racismo, afinal, eu não era preta... Depois, me toquei do seu desrespeito em relação à Tia Nastácia, mas encarava como mais um dos seus atrevimentos, afinal, era uma bonequinha pernóstica! Quando começou a me incomodar, já era adulta e parei de ler: tinha muitas outras leituras a fazer e a coleção ficava lá, na estante só enfeitando, no seu vermelho desbotado, mas imponente. Depois que meus filhos começaram a ler, tentei fazê-los se interessarem pela obra, mas eles sempre escaparam pela tangente, preferindo os Harry Potters da vida. Confesso que me frustrei. A polêmica do Parecer me incomodou mais por ter tanta gente criticando por indução e sem mesmo ter lido o dito cujo. Porém, esse texto me fez pensar, envergonhada. Quantos, como eu, não ignoram atitudes e práticas racistas, homofóbicas, sexistas, etc, simplesmente porque não nos dizem respeito? E olha que sempre me orgulhei por me policiar e tentar, sinceramente, eliminar os inúmeros preconceitos com os quais convivi e até pratiquei. Ainda não tinha a real dimensão de quanto fui influenciada: a pior mácula é aquela que é ignorada, porque não será combatida. Obrigada por retirar mais uma trava que me impedia de enxergar o tamanho da batalha que ainda tenho que enfrentar!

Flavia em novembro 21, 2010 3:03 PM


#78

Excelente, Ana! A leitura para crianças do Monteiro Lobato sem essa discussão é pedir que os pequenos exerçam uma espécie de adolescer antecipado, que eles questionem o pai simbólico da literatura infantil brasileira, sem que tenham habilidades para isso. Para as crianças negras, então, some-se à autoridade do autor, as evidências que só elas podem ver. Se os professores se sentem mal com o pressuposto de que nem todos estão preparados para tal trabalho, e por isso a necessidade das notas, é porque o conteúdo das notas é óbvio demais.

Cibele em novembro 21, 2010 3:36 PM


#79

Ana, repito aqui o email que te mandei, pra expressar publicamente minha opinião: li ontem seu texto no blog e só tenho a te agradecer pela firmeza, generosidade e disposição para falar do racismo, esse assunto tão pouco democrático, como vc pontuou. Quero tb te parabenizar pelo trabalho de pesquisa,contextualizando o discurso de Lobato. Você toca em pontos fundamentais. E foca no mais importante: a gravidade de um discurso racista voltado para crianças, com o aval da escola.

Laura em novembro 21, 2010 4:39 PM


#80

Acho interessantes esses argumentos, uma mistura de "entenda por que vc não tem direito de participar desta discursão" com "veja que caras legais concordam comigo, vc devia concordar também, não acha?".

eu não vou entrar no debate se os livros em questão devem ser lidos por crianças ou não, a decisão do MEC me parece bastante razoável. e fico feliz de ver que o MEC está longe das radicalizações propostas aqui, que passam pela alteração do texto à proibição. eu fui uma criança negra que leu monteiro lobato (e que nunca chegou a ver as adaptações pra TV) e que sobreviveu sem seqüelas. talvez outras não tenham a mesma sorte.

de qualquer forma, acho que; por coerência, deveria se iniciar uma campanha de higienização do PNBE, tirando todos os livros "sensíveis". ou pelo menos assumir que o cerne da questão é a crença (não dita) de que as crianças negras sejam mais burras que as homossexuais, bastardas, gordas, judias, nordestinas ou filhas de drogados(as). afinal, esse é o único "mal" diretamente ligado a uma 'raça'.

marcos em novembro 21, 2010 4:43 PM


#81

Prezada Ana, Mais uma vez vem à tona a precisão de seu raciocínio e o brilhantismo de sua escrita. Este é o melhor artigo que li em toda essa discussão. Parabéns! A cidadã faz juz à postura da romancista. Seu artigo e seu romance expressam cada vez mais a dignidade de sua consciência de cidadã. Para finalizar, lanço aqui a pergunta que não quer calar: deve o poder publico usar dinheiro público para distribuir a escolas públicas livros com conteúdo racista num país em que praticamente metade da população é afrodescendente?

Eduardo de Assis em novembro 21, 2010 5:17 PM


#82

"Bento XVI entrega anel a 24 novos cardeais" manchete do Correio Brazilense hoje 21/11/2010... pode uma coisa dessas???????? onde vamos parar com essa pouca vergonha????? não se respeita mais o Santo padre??? é o fim do mundo mesmo!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Strupicio em novembro 21, 2010 5:22 PM


#83

Idelber, o texto de Ana começará a incomodar e fará com seres estranhos aportem aqui, haja vista não ter moderação.

Chico Mendes em novembro 21, 2010 6:08 PM


#84

uai...o Chico Mendes reencarnou como dedo duro???

Genital Lacerda em novembro 21, 2010 6:17 PM


#85

Para o Marcos (#80): o que você diz é até um argumento para que se evite distribuir livros com qualquer um desses estereótipos. Só que você nao pode dizer que todos estão no mesmo nível. Há um histórico, no país, de escravidao de gordos ou de bastardos?

Anarquista Lúcida em novembro 21, 2010 7:15 PM


#86

Viu só Idelber? Começam a aparecer os que ficaram incomodados com as belas palavras de Ana. . Como este texto está atravessando todas as estradas da Internet, os raivosos aportarão por aqui. . São todos previsíveis.

Chico Mendes em novembro 21, 2010 8:55 PM


#87

O mané, digo, Chico..incomodado com a ausencia do professor, digo, professor mesmo, Idelber para punir os alunos levados que nao concordam em ficar quietinhos esperando que ele diga o que devem pensar..tsk..tsk..tsk...olha professor, o que o juquinha esta fazendo, ta com as mãos no bolso em vez de em cima da carteira como o senhor falou...boa coisa ele nao está fazendo...toda sala tem ao menos um desses quem nao se lembra???

Tião Medonho em novembro 21, 2010 9:04 PM


#88

Parabens pela forma e lucidez como o assunto foi tratado. Um beijo, Beatriz

beatriz lima em novembro 21, 2010 9:06 PM


#89

Muito boa publicação! Pena que nós não temos acesso as grandes midias de massa! O texto é muito esclarecedor esucinto, e o melhor de tudo, fundamentdo em fatos acessiveis (já que "eles" não acreditam na nossa oralidade). Vou publicar esse eu texto em meu facebook, onde posso mostra ao menos aos meus amigos! Um grande abraço e axé!

Jader Florencio em novembro 21, 2010 9:42 PM


#90

Ana, aprendi muito lendo este texto tão sensível. muito obrigada.

um beijo

Bartira

Bartira em novembro 21, 2010 10:07 PM


#91

Já fisguei o texto integralmente Idelber. Tenho o livro de Ana também. Ainda não o li mas está aqui do lado. . Também tem um livro racista que é um verdadeiro tabu ser comentado. O livro racista que estou me referindo é "Casa Grande e Senzala em quadrinhos". . 99% das imagens(tirinhas) são de pessoas sorridentes. Este livro racista tem até uma cena de estupro de um branco invasor contra uma negra. . Este é um livro que não tem acompanhamento pedagógico em sala de aula que surta efeito. É um livro para ser eliminado dos olhares de crianças.

Chico Mendes em novembro 22, 2010 12:54 AM


#92

Pessoal, Mais uma correção importante no texto, onde escrevi (sobre Tintim no Congo): "O álbum revisado é publicado hoje no Brasil pela Companhia das Letras, a mesma editora de Caçadas de Pedrinho,(...)".

O livro não é da Companhia das Letras, e sim da Editora Globo. Agradeço a correção ao prof. Edson Lopes Cardoso, que me enviou seu excelente artigo "À propósito de Caçadas de Pedrinho":http://www.ceert.org.br/noticiario.php?id=688

Ana em novembro 22, 2010 4:35 AM


#93

Obrigada, Cibele,, por levantar mais esse ponto importantíssimo: "A leitura para crianças do Monteiro Lobato sem essa discussão é pedir que os pequenos exerçam uma espécie de adolescer antecipado, que eles questionem o pai simbólico da literatura infantil brasileira, sem que tenham habilidades para isso. Para as crianças negras, então, some-se à autoridade do autor, as evidências que só elas podem ver."

Exatamente. Se nem os adultos estão conseguindo questionar essa autoridade paterno-literária, buscando motivos para justificá-la ao invés de questioná-la, imaginem as crianças. Poderíamos dizer que seria como apontar e combater a injustiça de um pai adotivo a quem deveriam ser gratas, sem a maturidade e o conhecimento para fazê-lo?

Ana em novembro 22, 2010 6:05 AM


#94

Obrigada, Eduardo, e sua pergunta também é chave: "deve o poder publico usar dinheiro público para distribuir a escolas públicas livros com conteúdo racista num país em que praticamente metade da população é afrodescendente?"

Impostos - algo de que a direita tanto fala, exigindo "seus direitos" porque pagam seus impostos. Será que ninguém pensou que o dinheiro usado para colocar esse livro nas escolas também vem de impostos pagos pelos pais das crianças que estão sendo desrespeitadas?

***** Obrigada, gente. Os comentários vão cavucando um poquinho mais terreno tão nebuloso...

*****

Iza, respeito sua posição, e esse mundo do qual você fala, onde não exista distinção pela cor da pele, é o ideal que precisamos buscar, porque ele ainda não existe. Não sei se você fala sobre esse caso, especificamente, quando comenta sobre fazer-se de coitados. Se sim, você acha que é isso mesmo, que querer tratamento respeitoso é fazer-se de coitado? Não seria o contrário?

Ana em novembro 22, 2010 6:28 AM


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