sábado, 13 de novembro de 2010

Monteiro Lobato e o “racismo cordial” no Brasil.

Portal do Movimento COEP - Comunidade de Olho na Escola Pública

Em defesa dos alunos, das mães, dos pais e da comunidade

A polêmica sobre o parecer do Conselho Nacional de Educação (CNE) sobre o livro “Caçadas de Pedrinho” fez emergir a hipocrisia que domina a grande imprensa no Brasil. Acusar o CNE de censurar a obra de Monteiro Lobato foi a forma usada pela imprensa para combater os que denunciam o “racismo cordial” (ou nem tão cordial) que vigora no Brasil desde o seu descobrimento em 1500. Uma rápida leitura do Parecer CNE/CEB nº 15/2010 é suficiente para esclarecer o caso: “A obra CAÇADAS DE PEDRINHO só deve ser utilizada no contexto da educação escolar quando o professor tiver a compreensão dos processos históricos que geram o racismo no Brasil. Isso não quer dizer que o fascínio de ouvir e contar histórias devam ser esquecidos; deve, na verdade, ser estimulado, mas há que se pensar em histórias que valorizem os diversos segmentos populacionais que formam a sociedade brasileira, dentre eles, o negro”. Reparem que a “polêmica” divulgada pela grande imprensa serviu para esconder um outro caso relatado pelo Conselho Nacional de Educação na mesma data: “Denúncia de racismo na Escola Estadual Delmira Ramos dos Santos, localizada no Bairro Coophavilla II, Município de Campo Grande, MS. (Parecer CNE/CEB nº 16/2010)”: “De acordo com depoimento da Sra. Antonesia Maria dos Santos da Costa, no Boletim de Ocorrência, “as crianças há dois anos atrás estudavam na Escola Estadual Delmira Ramos dos Santos, no Bairro Coophavilla II, sendo que por diversas vezes seus filhos sofreram injúria por parte dos alunos da escola, os quais usavam palavreados pejorativos em relação aos seus filhos como ‘o seu cabelo é feito pra fazer bombril, sua pele é para fazer carvão e a carne para fazer comida de porco, pretos fedidos, frango de macumba e urubu” (p. 1). Ainda segundo o depoimento da mãe no referido Boletim de Ocorrência, cansada de tal situação, a mesma procurou a direção da Escola Estadual por diversas vezes, mas esta “fez pouco caso da situação, inclusive insinuava que o seu filho era “bandido” (p.1). Diante da inércia na resolução do problema por parte da direção, a mãe resolveu comunicar o caso para a imprensa, a qual compareceu à escola e realizou uma matéria jornalística sobre o acontecido. No seu depoimento, a Sra. Antonesia Maria dos Santos da Costa relata que a divulgação da reportagem gerou “ira por parte da diretora” e que ambas tiveram uma reunião tensa na qual as duas se exaltaram”. Conselho responsabiliza diretora por bullying e racismo Estudantes de escola estadual de Campo Grande sofreram agressões e discriminação racial Parabéns ao programa Balanço Geral (TV Record do Mato Grosso do Sul) por ter feito uma grande reportagem sobre o caso... Vejam os vídeos: - Adolescente de 13 anos alega preconceito racial em escola da Capital (28/06/2010); - Adolescente vítima de preconceito racial na escola não quer mais vo... (29/06/2010); - MP apura caso de racismo em escola estadual na Capital (06/07/2010). Mais algumas observações: 1) Por que a imprensa não fez nenhum comentário sobre o fato da própria editora do livro ter colocado uma nota explicativa em relação às "caçadas de onças"? Vejam o texto: "Essa grande aventura da turma do Sitio do Picapau Amarelo acontece em um tempo em que os animais silvestres ainda não estavam protegidos pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA), nem a onça era uma espécie ameaçada de extinção, como nos dias de hoje. (p. 19)"... Se até os animais silvestres mereceram uma nota para que as crianças não os caçassem, não seria necessário, também, uma nota explicativa para que as crianças ficassem sabendo que as praticas preconceituosas e racistas são crimes? 2) O Parecer do Conselho Nacional de Educação não proibiu o uso do livro "Caçadas de Pedrinho" nas escolas. Foi exigido que as compras e distribuição do livro, quando feitas com o dinheiro público, exijam das editoras "a inserção no texto de apresentação de uma nota explicativa e de esclarecimentos ao leitor sobre os estudos atuais e críticos que discutam a presença de estereótipos raciais na literatura. Esta providência deverá ser solicitada em relação ao livro Caçadas de Pedrinho e deverá ser extensiva a todas as obras literárias que se encontrem em situação semelhante". 3) Para quem acha que nossas professorinhas estão preparadas para serem mediadoras "entre o livro e seus leitores", destacamos apenas o caso mais recente da Escola Estadual Delmira Ramos dos Santos, no Mato Grosso do Sul. A diretora da escola chega ao absurdo de acusar de "racista" a própria mãe das crianças que eram xingadas e humilhadas à vista de todos na escola... Será que esta diretora e suas professorinhas estão capacitadas para servirem de mediadoras nos caso de conflitos surgidos após a leitura de livros clássicos onde o "racismo cordial" era a regra vigente? 4) Por último, destacamos que a questão da prática do preconceito e do racismo continua viva e forte nos dias atuais. Vejam a recente campanha promovida contra os "nordestinos", por conta da grande votação da candidata Dilma Rousseff nas eleições presidenciais. Uma estudante de Direito chegou ao cúmulo de escrever: "Nordestino não é gente, faça um favor a Sp, mate um nordestino afogado!"... A estudante de Direito foi demitida do escritório de advocacia onde ela atuava como estagiária... Mas este não é um caso isolado. Já tem gente promovendo uma campanha "SP para os Paulistas"!!! As práticas preconceituosas ou racistas devem ser combatidas diariamente, principalmente nas escolas. O futuro do Brasil é muito importante para que deixemos nossas crianças abandonadas e indefesas, nas mãos de professorinhas ou diretoras que não sabem ou não querem enxergar as praticas de preconceito e de racismo. São Paulo, 05 de novemro de 2010. Mauro Alves da Silva Coordenador do Movimento Comunidade de Olho na Escola Pública http://MovimentoCOEP.ning.com
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