segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Coronel da PM afirma que há racismo no Brasil

CONSCIÊNCIA NEGRA

Coronel da PM afirma que há racismo no Brasil

O coronel Milton Corrêa da Costa tirou a palavra da minha pena, ao lembrar nesse artigo os cem anos da Revolta da Chibata, movimento de resistência aos castigos físicos impostos aos marinheiros, e liderado por João Cândido. Talvez em consequência desses fatos até hoje a Marinha não tenha um negro no almirantado. E, se tiver, deve estar escondido em algum porão de navio.

CONSCIÊNCIA NEGRA: O BRASIL AINDA É RACISTA
Milton Corrêa da Costa, especial para o blog Repórter de Crime
Há exatos 100 anos, e é necessário que a importante data não passe em branco, um destemido negro marinheiro comandou uma revolta na Marinha brasileira contra o castigo das chibatas. Além do castigo corporal o enforcamento de praças era muito comum à época, afirmam os historiadores. Por sua vez, no 'Dia Nacional da Consciência Negra', sábado último, 20 de novembro, data da morte, em 1695, de Zumbi dos Palmares, diversas comemorações ocorreram em território nacional. Zumbi foi um dos ícones da resistência à escravidão do Brasil Colonial. No entanto uma Incômoda realidade permanece ainda muito arragaida à cultura brasileira: a discriminação racial, a homofobia e principalmente a discriminação social. Negro, por exemplo, se for pobre e favelado é sinônimo, para os ditos "brancos brasileiros" de nariz em pé -alguns de olhos claros pela descendência européia- de seres humanos de segunda categoria. A cultura do "negro correndo é ladrão" e "branco é atleta" infelizmente permanece enraizada entre nós. A discriminação racial ainda é muito forte no Brasil do século XXI.. Favela continua sendo gueto e refúgio de negros e pardos. Ainda bem que no Rio as UPPs vieram - antes tarde do que nunca - para resgatar em parte a cidadania de excluídos pela discriminação racial e social.

No Brasil, ainda não nos libertamos do escravismo racial quanto mais do social. Parece que não temos ciência de que somos todos miscigenados. A raça branca brasileira pura inexiste. Os genuinamante brasileiros são todos miscigenados, pardos ou bronzeados, mas se o cabelo for liso alguns, hipocritamente, se excluem com ar de supremacia da afrodescendência e se vangloriam declarando-se brancos como se fossem seres humanos superiores pela cor da pele, pela lisura do cabelo ou pela cor dos olhos.
Vamos deixar de hipocrisia, o Brasil discrimina sim negros, pobres e homosssexuais. No Brasil ainda vincula-s a cor da pele e a sexualidade como parâmetros para os "ditos brancos" e heterossexuais se considerarem seres superiormente diferenciados. Dia de conciência negra não precisava existir se todos de fato fossem respeitados não pela cor, raça, credo, sexo, sexualidade, condição social ou cultural, mas como seres humanos, iguais em direitos e oportunidades Os avnços ainda são muito pequenos no campo da igualdade racial. Registre-se que 90% dos mais de 400 mil reclusos que compõem a população carcerária no Brasil são pardos ou negros. Muitos ali se encontram por falta de oportunidade, ainda que não comungue da idéia de que exclusão social dê direito a cometer crimes.

Ainda falta muito para o Brasil para que negros, pardos, bronzeados, índios e homossexuais e até mesmo nordestinos ido interior do Brasil não sejam apenas iguais pretensamente perante as leis mas sobretudo pela consciência do não preconceito. O mundo deve muito à raça negra, representada por ícones e ídolos em todos os ramos da atividade humana, sem falar na imensidão da contribuição cultural afrodescendente deixada no Brasil. O Brasil é um país historicamente alicerçado, em sua formação social, nas culturas negra e indígena. Um legado cultural e social dos mais importantes.

Alguns negros deram sua vidas em luta da igualdade racial. No Brasil. o marinheiro de primeira classe João Cândido Felisberto, o chamado 'Almirante Negro', não tão reverenciado ainda como merece, chefiou, há 100 anos, em 22 de novembro de 1910, a Revolta da Chibata, às margens da Baía de Guanabara. O castigo das chibatadas era prática comum na Marinha Brasileira, fruto da herança da escravidão, um regime social desumano que sujeitava o homem pela utilização de sua força para fins econômicos, como propriedade privada.

Não há como nas comemorações ainda tímidas do 20 de novembro e no centenário da Revolta da Chibata deixar também de lembrar, a nível mundial de Luther King, um mártir na luta pela igualdade racial nos Eua, além de Nelson Mandela, um ícone da luta contra o apartheid na África do Sul e tantos outros negros que lutaram no mundo contra a discriminação racial e pela igualdade de direitos. A eleição de Barak Obama como presidente da maior potência do mundo, os EUA, foi altamente significativa para expressar que cor de pele não siginifica sabedoria, competência e honradez. Ressalte-se ainda que o maior atleta do século XX, Edson Arantes do Nascimento. Pelé, pertence à raça negra, um exemplo de profissional do futebol que elevou o nome do Brasil nos quatro cantos do mundo.

O homem, portanto, em razão da diferente cor da pele ou sexualidade não pode ser objeto de tratamento degradante ou discriminatório. O texto da Declaração Universal dos Direitos Humanos declara todos os seres humanos iguais em direitos, independente de raça que se originem. Não há seres humanos superiores, todos nós somos iguais.O grito de liberdade e da discriminação precisa ecoar todo dia nesse Brasil miscigenado. Aqui, o racismo e a discriminação ainda não tiveram fim.
Milton Corrêa da Costa é Coronel da PM do Rio na reserva, descendente de índio, negro e europeu

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