segunda-feira, 5 de julho de 2010

Devota de São Benedito é presa por racismo

Correio de Uberlândia

Devota de São Benedito é presa por racismo

Mulher que diz ser devota do santo protetor dos negros teria ofendido vigilante se referindo à cor da pele

Gislene Tiago

Uma católica que disse ser devota de São Benedito, o santo negro padroeiro dos escravos, foi presa na madrugada de hoje (1º) suspeita de racismo. A dona de casa Laila Maria Lourenço, 57 anos, teria xingado o vigilante Nelio Estevão Venâncio, 33 anos. Entre os palavrões se referindo à cor da pele Laila Lourenço teria chamado o vigilante de “negro beiçudo” e “macaco safado”.

O caso ocorreu na noite de ontem (31) na plataforma de embarque e desembarque de passageiros do Terminal Planalto, na zona oeste de Uberlândia. “Eu nunca imaginei que passaria por uma situação dessas”, disse o Nelio Venâncio que é vigilante profissional há dois anos e há cerca de um ano faz a segurança no local.

De acordo com ele, entre o aglomerado de pessoas diariamente é frequente ocorrer descontentamento de passageiros que se exaltam e até gritam alguma coisa, mas ofensas diretas como as proferidas pela mulher nunca havia ocorrido. “Nos tempos de hoje, depois de tanta luta que os meus ancestrais tiveram, e ainda mais no fim do expediente depois de um dia de trabalho concluído em eu estava querendo voltar para minha família”, disse o vigilante que trabalha pela união de negros e brancos dentro de um grupo de capoeira há 20 anos.

A dona de casa nega as acusações. Ela disse à reportagem do CORREIO de Uberlândia, ser católica fervorosa e devota de São Benedito. Na versão da mulher, em nenhum momento ela se exaltou dentro do terminal e acusa o vigilante de tê-la xingado de “velha”. “Estou aqui presa injustamente”, afirmou.

Mas segundo o auxiliar de limpezas, Luiz Humberto Ribeiro dos Santos, 33 anos, e o bilheteiro Edno Fagundes Gomes, 21 anos, a mulher já teria desembarcado de um ônibus exaltada. “Não sei ao certo o que ela queria ou o que a desagradava”, disse o auxiliar de limpezas.

Da sala onde encerrava o expediente, o vigilante teria ouvido os gritos da mulher e saído para tentar entender o que estava acontecendo. O auxiliar de limpezas e o bilheteiro disseram que antes mesmo que o vigilante se aproximasse a mulher teria começado a xingá-lo.

Depois de ouvir os envolvidos, a mulher foi autuada por injúria qualificada pelo preconceito. De acordo com a delegada de plantão Paula Fernanda de Oliveira, o crime está entre os três contra a honra previstos no Código Penal Brasileiro.

Caso de racismo é o segundo registrado neste mês

A discriminação racial contra o vigilante Nelio Estevão Venâncio, 33 anos, registrada na noite de ontem (31) foi o segundo caso ocorrido no mês de junho. No dia 21, dois policiais militares afirmaram terem sido vítimas de discriminação racial, durante as comemorações da vitória do Brasil sobre a Costa do Marfim.

As queixas foram apresentadas contra Camila Cândida de Moura, 23 anos, e Carlos Augusto Francisco Rodrigues, 37 anos. Entre os palavrões os militares Heber Paulo Teodoro da Silva, 34 anos, e Evanildo Alves Silva, 32, afirmam terem sido xingados de “macacos pretos”, “monte de bosta” e “pretos vagabundos”.

Para o diretor da Diretoria de Assuntos Afro-Racial (Diafro), órgão ligado à Secretaria de Cultura da Prefeitura de Uberlândia, que luta pela promoção da igualdade social, Carlos Silva de Souza, é inadmissível a discriminação racial em pleno século XXI. “A gente não pode se calar diante de fatos como esses”, disse. Ele afirmou que o órgão está a disposição para auxiliar aos que se sentem ofendidos e discriminados. “Infelizmente no Brasil ainda existe o preconceito e isso é velado”, afirmou.

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